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Churrascaria de playboy sela a destruição do parque da Água Branca

Graças ao parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo, meu filho sabe desde muito pequeno a diferença entre um pato e um ganso. Foi lá também que ele passou horas e horas explorando os livros infantis do Espaço de Leitura, os fósseis do Museu Geológico ou os peixões do aquário que funcionava no parque.

Divertia-se também com os cavalos do estábulo da Polícia Militar e o parquinho de diversões mambembe, com tiro ao alvo e pescaria.

As aves foram confinadas e o resto –casas de leitura, museu, aquário, baias dos cavalos e parquinho– simplesmente fechou, antes ou depois que a concessionária Reserva Parques assumiu o Água Branca, um parque estadual. Teve uma pandemia no meio do caminho, é necessário lembrar.

O que importa é que a administração privada não fez um mínimo esforço para reabrir as atrações. Dois textos recentes na Folha, um do repórter Fabio Victor e outro do colunista Vicente Vilardaga, descrevem o desmonte do espaço comunitário.

A cereja do bolo, para honrar o clichê, é a transformação do estábulo da PM em uma filial da Fazenda Churrascada, churrascaria de playboy que se parece com um showroom de marcas de bebida, carne e até picapes que ocupam duas vagas de estacionamento.

As obras, que modificam drasticamente um espaço tombado pelo patrimônio histórico, estão a todo vapor, apesar da ausência de autorização dos órgãos fiscalizadores –e que, aparentemente, não fiscalizam coisa alguma.

Parece até crueldade planejada o fato de terem transformado o galpão onde ocorria a feira de produtos orgânicos –deslocada para outra área do parque– em área kids para os clientes do restaurante.

Vamos ver se a Fazenda Churrascada vai permitir no brinquedão os filhos dos trabalhadores que chegam de ônibus e metrô ao parque. Trata-se de propriedade pública, independentemente de qualquer concessão.

O Água Branca já era. Ou não, se a gente gritar alto o suficiente contra esses absurdos.

Fonte: Folha de S.Paulo