
Eis que o mundo foi pego no contrapé com a notícia da possível falência da Tupperware –para quem não liga o nome à fisionomia, a marca que popularizou os potes plásticos para guardar e esquecer restos de comida na geladeira.
Eu pessoalmente, só estive recentemente diante de um legítimo tapué da Tupperware. Como se sabe, tapué é o recipiente genérico: tudo aquilo que se situa entre a pirex (que é de vidro) e o pote de sorvete/margarina.
A Tupperware se notabilizou por um esquema de vendas que, de tão arcaico, assombra que tenha perdurado até o século 21. Ele tem, como substrato, uma rede orgânica de donas de casa que se abastecem com a empresa e cuidam da distribuição entre as amigas.
Claro que a Tupperware abriu outros canais de venda, como o e-commerce, mas sua imagem será sempre relacionado às reuniões de senhoras na casa de uma delas, para conhecer e promover as novidades da marca. Algo tremendamente bizarro, se não inconcebível, numa sociedade com igualdade de gênero.
Enquanto morei com ela, minha mãe nunca teve tapué da Tupperware. Talvez porque trabalhasse fora. Talvez porque não conhecesse ninguém da panelinha (tigelinha?) das vendas. Talvez porque fosse uma pessoa, hum, econômica e preferisse o reaproveitamento de embalagens.
Como a maior parte das mães, aliás.
O tapué é um objeto mágico. As tampas somem e se multiplicam no armário, com apenas uma regra imutável: não haverá pares de pote e tampa. Os potes emprestados com restos de bolo nunca voltam, mas sempre aparece em casa um tapué desconhecido para suprir sua falta.
A Tupperware pode acabar, mas deixou uma marca indelével na sociedade brasileira. Aqui, a cultura do tapué é eterna.
Fonte: Folha de S.Paulo