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Israel faz maior bombardeio em Gaza desde início do cessar-fogo, com mais de 400 mortos; o que se sabe

Escola em Al Tabien, em Gaza

Crédito, EPA

Legenda da foto, Escola em Al Tabien, em Gaza, foi um dos alvos de ataque aéreo de Israel

  • Author, George Wright
  • Role, BBC News

O exército israelense afirmou nesta terça-feira (18/03) estar realizando “ataques extensivos” na Faixa de Gaza.

O Ministériod a Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, disse que mais de 400 palestinos foram mortos e outras centenas ficaram feridas nos ataques.

Em uma declaração, as Forças de Defesa de Israel (FDI) disseram estar mirando o que chamaram de “alvos terroristas” pertencentes ao Hamas.

Citando médicos e testemunhas, a agência Reuters informou que três casas foram atingidas em Deir Al-Balah, no centro de Gaza, além de um prédio na Cidade de Gaza e alvos em Khan Younis e Rafah.

Recentemente, o exército de Israel emitiu novas ordens de evacuação para várias áreas em Gaza.

Muitos estão fugindo para áreas que consideram mais seguras. Israel aconselhou os moradores de Gaza a irem para Khan Younis no sul ou áreas ocidentais da Cidade de Gaza.

Rosalia Bollen, porta-voz da Unicef que está em Al-Mawasi, no sul de Gaza, disse à BBC que acordou com o som “de explosões muito, muito alto”.

“Nossa casa estava tremendo. Pelos próximos 15 minutos… ouvimos explosões quase a cada cinco ou seis segundos.”

O coordenador humanitário da ONU para o Território Palestino Ocupado, Muhannad Hadi, disse: “Isso é inconcebível. Um cessar-fogo deve ser restabelecido imediatamente”.

A correspondente da BBC em Jerusalém, Yolande Knell, disse que “dois meses de relativa calma em Gaza terminaram rapidamente durante a noite”.

Segundo ela, líderes políticos do Hamas estão supostamente entre os mortos — mas médicos dizem que muitas crianças também foram mortas nos ataques aéreos.

A BBC apurou que o governo israelense havia notificado a Casa Branca antes de lançar ataques noturnos em Gaza, depois que um oficial israelense disse isso à parceira americana da BBC, CBS News.

Israel confirmou a afirmação, com o porta-voz do governo David Mencer dizendo que o retorno aos combates foi “totalmente coordenado com Washington” — e agradecendo ao governo Trump “por seu apoio inabalável a Israel”.

A aliança está “mais forte do que nunca”, disse ele aos repórteres. Trump ainda não comentou sobre os ataques.

Emir Nader, do Serviço Mundial da BBC, que estava na entrevista coletiva, pediu a Mencer uma resposta às famílias dos reféns que dizem que o governo desistiu daqueles que ainda estão presos em Gaza e está saindo de um acordo que teria trazido todos para casa.

“Foi o Hamas que fez esses reféns”, Mencer respondeu à pergunta, argumentando que o Hamas “poderia libertá-los” se quisesse. “O Hamas não é confiável”, ele acrescentou.

O presidente de Israel, Isaac Herzog, recorreu às redes sociais, dizendo que a “renovação dos combates” do exército israelense em Gaza tem dois objetivos principais: “O objetivo moral crítico de devolver os sequestrados e, claro, restaurar a segurança total a todos os moradores do Estado de Israel”.

Na publicação, ele reconhece que os ataques noturnos em Gaza são “um motivo de preocupação para muitos”. Por isso, é importante para ele “enfatizar que os combates não são um fim em si mesmos” — mas uma ferramenta para atingir os objetivos que Herzog descreve acima.

Ele também pede ao governo que ouça as famílias dos reféns e pede a todos os israelenses que mostrem sensibilidade em relação a eles “neste momento difícil”.

Algumas pessoas caminham sobre escombros de prédios e carros

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Escombros em Deir Al-Balah, em foto de janeiro; cidade foi uma das atingidas por novos bombardeios israelenses

Cessar-fogo violado

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o ministro da Defesa, Israel Katz, ordenaram os ataques na manhã de terça-feira (18/03, no horário local; noite de segunda-feira 17/03 no Brasil), de acordo com uma nota do gabinete do primeiro-ministro.

“Isso vem depois da reiterada recusa do Hamas em libertar nossos reféns, bem como sua rejeição de todas as propostas apresentadas pelo enviado presidencial dos EUA Steve Witkoff e pelos mediadores”, diz a nota.

“Israel, de agora em diante, agirá contra o Hamas com força militar crescente.”

O plano para a realização dos ataques “foi apresentado pelas FDI no fim de semana e aprovado pela liderança política”, completou o gabinete. A rede americana CBS noticiou que Israel informou a Casa Branca sobre seu plano de ataque.

Já o Hamas acusa Israel de atacar “civis indefesos” e diz que os mediadores devem responsabilizar Israel “totalmente” por “violar o cessar-fogo”.

Os EUA propuseram estender a primeira fase até meados de abril, incluindo uma nova troca de reféns mantidos pelo Hamas e prisioneiros palestinos mantidos por Israel.

Mas um oficial palestino familiarizado com as negociações disse à BBC que Israel e o Hamas discordaram sobre os principais aspectos do acordo estabelecido por Witkoff nas negociações indiretas.

A mais recente guerra entre Israel e o Hamas começou em 7 de outubro de 2023, quando o grupo palestino matou mais de 1.200 pessoas no sul de Israel, a maioria civis, e capturou 251 reféns.

O ataque desencadeou uma ofensiva militar israelense que já matou mais de 48.520 pessoas, a maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas — dados que são usados pelas Nações Unidas e outros.

A maior parte da população de 2,1 milhões de Gaza precisou se deslocar várias vezes.

Estima-se que 70% dos edifícios do território palestino foram danificados ou destruídos. Os sistemas de saúde e saneamento entraram em colapso, e há escassez de alimentos, combustível, remédios e moradia.

Com as famílias dos reféns ainda em Gaza protestando contra a decisão de Israel de retomar os ataques, cerca de 25 reféns israelenses foram libertados, vivos, entre 19 de janeiro de 2025 — quando o tão esperado cessar-fogo Israel-Hamas — o final de fevereiro.

Entre eles estavam Eli Sharabi (mostrado acima) e Emily Damari, uma cidadã dupla britânica-israelense que foi uma das primeiras pessoas soltas sob o acordo.

O Hamas também entregou os corpos de outros oito reféns. Cinco cidadãos tailandeses vivos também foram libertados — isso foi parte de um acordo separado.

Em troca, cerca de 1.900 prisioneiros palestinos foramlibertos das prisões israelenses — imagens mostraram reuniões familiares emocionantes na Cisjordânia ocupada.

Quem permanece? Israel diz que o Hamas ainda mantém 59 — todos, exceto um, foram capturados durante os ataques de 7 de outubro. Acredita-se que 24 que ainda estejam vivos.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmaeil Baghaei, diz que os EUA têm “responsabilidade direta” pela “continuação do genocídio nos territórios palestinos ocupados”.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Egito, Tamim Khallaf, diz que os ataques aéreos israelenses constituem “uma violação flagrante” do acordo de cessar-fogo e representam “uma escalada perigosa”.

A Jordânia vem acompanhando “o bombardeio agressivo e bárbaro de Israel na Faixa de Gaza” desde a noite passada, relata a agência de notícias AFP, citando o porta-voz do governo, Mohammed Momani, que destaca “a necessidade de parar esta agressão”.

A Arábia Saudita condenou o bombardeio de Israel “em áreas povoadas por civis indefesos”, sem “a menor consideração pelo direito internacional humanitário”.

A comissária de ajuda da União Europeia, Hadja Lahbib, pede o fim da violência renovada e o retorno ao cessar-fogo, dizendo que os civis em Gaza “suportaram um sofrimento inimaginável”.

Fonte: BBC