- Norberto Paredes @norbertparedes
- BBC News Mundo

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Mercado de Seven Sisters é um lugar que faz os latino-americanos se sentirem em casa por meio da música e da comida
Apesar de estar na capital britânica, nesse lugar não faz diferença falar inglês para degustar um café colombiano, comer uma empanada ou simplesmente comprar alguns dos muitos produtos latino-americanos que são vendidos no local.
Há décadas, o Mercado de Seven Sisters – também conhecido como Pueblito Paisa ou Vila Latina -, se tornou um ponto de encontro para a comunidade latina em Londres. No local, é comum ouvir gritos em espanhol e, de vez em quando, um vallenato, uma salsa ou um reggaeton.
Mas há alguns anos, muitos latino-americanos que trabalham ou estão sempre por ali temem o desaparecimento do lugar.
No entanto, uma intensa e longa campanha para preservar o mercado parece ter rendido frutos, depois que a imobiliária Grainger, uma das maiores do Reino Unido, abandonou seus planos de demolir o local.
Vicky Álvarez, uma colombiana que chegou ao mercado em 2002, afirma que não poderia acreditar na notícia quando a escutou.
“Quer que eu te diga a minha reação de verdade? Não parava de chorar e logo fui para a festa para celebrar”, disse Álvarez, de 50 anos, à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
“Me senti como se tivessem acabado de me dizer que ganhei muitos milhões na loteria. Agora, finalmente, podemos seguir adiante”, acrescentou.
Crédito, Vicky Álvarez
Vicky Álvarez (no centro) disse que passou ‘toda uma vida’ lutando para preservar o Seven Sisters
A casa dos latinos em Londres
Em 2004, as autoridades do município de Haringey, no norte de Londres, firmaram um acordo com a imobiliária Grainger para transformar a área do mercado em um lugar com 196 apartamentos e um centro comercial.
Desde então, Álvarez, que na época estava no mercado havia dois anos, se organizou com outros comerciantes para defender o que ela chama de “a casa dos latinos em Londres”.
“Aqui, muitos de nós nos transportamos às nossas terras. É um lugar que faz com que se sintam em casa, através da música ou da comida. Aqui também é possível encontrar uma mão amiga que te ajuda a buscar uma nova casa ou um emprego”, explicou.
“Em 2004, começamos nos organizando internamente e nos denominamos Pueblito Paisa (em referência a pessoas da Colômbia). No começo, não tínhamos advogados nem nenhum tipo de representação legal, mas tínhamos uma visão do que queríamos em um nível comunitário”.
Aos poucos, o grupo buscou um advogado para que os representasse e arquitetos que se encarregaram de entender a visão deles.
Mas a luta dos defensores do mercado não parecia convencer as autoridades locais.
Em 2012, a imobiliária obteve permissão para demolir e remodelar o local, que é propriedade da Transport for London, uma entidade da prefeitura municipal, responsável pela maioria do sistema de transporte na região de Londres
‘Um grande exemplo da diversidade cultural de Londres’
Mas a disputa judicial não terminou ali.
Os comerciantes não quiseram deixar o local e, inclusive, conseguiram que um especialista em direitos humanos das Nações Unidas investigasse o caso, que ele classificou como uma ameaça para a vida cultural das pessoas na região.
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Grupo de especialistas da ONU assegurou que o mercado conhecido como ‘Vila Latina’ é um grande exemplo da diversidade cultural de Londres
“O projeto de alteração obrigaria a comunidade a suspender ou buscar outro lugar para as suas atividades. Isso terá um grande impacto sobre as pessoas que pertencem a minorias e sobre o direito delas de uma participação igualitária nos direitos econômicos, sociais e culturais”, concluíram os especialistas.
“O mercado proporciona um espaço cultural dinâmico, que inclui as pessoas de diversos lugares e de diferentes gerações, e é um grande exemplo da diversidade cultural de Londres”, acrescentaram.
Apesar disso, um juiz do Tribunal Superior britânico quase acabou com as esperanças dos defensores do mercado ao confirmar, em 2019, a aprovação de uma medida que concordava com a construção dos apartamentos e do centro comercial no lugar.
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Por enquanto, o mercado latino continua fechado
‘O pesadelo acabou’
Dois anos depois da sentença, a imobiliária Grainger alegou “custos crescentes” e a força de “uma minoria pequena, mas barulhenta” ao anunciar que abandonava seus planos de demolir e remodelar o local.
O Mercado de Seven Sisters foi fechado uma semana antes do primeiro confinamento em Londres pela pandemia de covid-19, em março do ano passado, por motivo de saúde e segurança. Desde então, continuou fechado.
Atualmente, a Transport for London, empresa que administra o local, garante que está trabalhando para trazer todos os comerciantes de volta aos seus locais de trabalho.
Agora, as autoridades de Haringey apoiam os planos dos comerciantes locais para desenvolver o lugar. Isso inclui transformá-lo em um mercado gerenciado pelos próprios trabalhadores do mercado, com escritórios e instalações comunitárias de baixo custo.
“É uma luta de 17 anos, que representa toda uma vida. Foram, ao menos, 15 anos terríveis de lutas e desafios judiciais. Fizemos muito barulho para sermos reconhecidos e respeitados”, declarou Vicky Álvarez.
“No fim, graças a Deus, conseguimos o que tanto queríamos: preservar essa bela comunidade. O pesadelo acabou”, afirmou.
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Fonte: BBC