Pesquisas nos EUA não consideram brasileiros como latinos: qual equívoco?

Nas pesquisas dos EUA o brasileiro era reclassificado como “não latino ou hispânico”, gerando erro nas estatísticas

Criou-se confusão para a classificação dos brasileiros nas pesquisas dos EUA, pois na avaliação do governo americano, “hispânico ou latino” diga respeito somente às pessoas de “cultura ou origem espanhola”

Da Redação – Qual a real identidade de brasileiros que vivem nos EUA? Conforme a pesquisa domiciliar americana, a “American Community Survey (ACS)” –, cerca de 416 mil residentes se identificaram como hispânico ou latino em 2020. Entretanto, em pesquisas anteriores, os resultados não foram compatíveis – 14 mil em 2019 e 16 mil em 2021 –, apontando um equívoco nessa estatística. Para o governo americano, a classificação “hispânico ou latino” diz respeito somente às pessoas de “’cultura ou origem espanhola”.

A busca pela classificação de um grupo étnico específico ocorreu a partir de uma lei aprovada em 1976 pelo “Congresso Americano.” A partir dessa medida, a categorização ficou assim: “americanos que se identificam como sendo de língua espanhola e traçam sua origem ou descendência no México, Porto Rico, Cuba, América Central e do Sul e outros países de língua espanhola.”

Dessa forma, estavam incluídos na classificação 20 países falantes de espanhol na América Latina, mas não o Brasil, falante de português, ou outros países latinos, mas não hispânicos.

Criou-se confusão para a classificação dos brasileiros, pois na concepção de avaliação do governo americano, “hispânico ou latino” diga respeito somente às pessoas de “cultura ou origem espanhola”. No entanto, para o próprio brasileiro, o termo “latino” remete ao fato de ser latino-americano e de falar uma língua latina, o português.

A partir de 2000, o “Departamento do Censo dos EUA” passou a fazer uma recategorização posterior. Assim, quem dizia ser “hispânico ou latino”, mas, ao mesmo tempo, informava ser brasileiro, era então reclassificado como “não hispânico ou latino”.

Com isso, em 2006, além do Censo decenal, os EUA passaram a contar também com a “American Community Survey”, uma contagem populacional anual. Com essa reclassificação em vigor, a parcela de brasileiros quantificados como “hispânicos ou latinos” caiu para 4% ou menos em quase todas as edições da “ACS”.

Identificação de brasileiros

O “Pew Reserach Center” consegue identificar brasileiros observando dados de país de nascimento e ancestralidade. Mesmo o fenômeno afetando outros grupos, o caso do brasileiro se destaca, pois 70% da comunidade brasileira nos EUA contabilizada se declarou “hispânica ou latina”, revelou o erro de pesquisa, comparado a 41% dos belizenhos, 3% dos filipinos e 3% dos caribenhos não-hispânicos.

Segundo o brasileiro Raphael Nishimura, diretor de amostragem do “Survey Research Center”, na “Universidade de Michigan”, o caso serve para refletir sobre como pesquisas são feitas. “Metodologicamente, isso – se referindo ao erro na ‘ACS’ de 2020 –, é interessante para ilustrar um dos aspectos do erro de mensuração em pesquisas: o impacto do entendimento da pergunta por parte do respondente no que se pretende mensurar”, alertou.

Em junho de 2022, o governo anunciou uma revisão na coleta de dados sobre raça e etnia nos EUA, que poderá valer já para o Censo de 2030. Mas essa reavaliação parece estar mais focada nas comunidades do Oriente Médio e norte da África. E se os brasileiros fossem oficialmente considerados “hispânicos ou latinos”, seria o 14º maior grupo latino dos EUA, acima da Nicarágua (395 mil) e abaixo da Venezuela (619 mil).

A comunidade brasileira contabilizada na “ACS” pode, no entanto, estar subestimada. O “Ministério das Relações Exteriores” do Brasil calcula o número de brasileiros vivendo nos EUA em 1,9 milhão – trata-se da maior comunidade brasileira no exterior, segundo relatório de agosto de 2022 sobre o tema.

Fonte – BBC News Brasil

Fonte: Nossa Gente