Nesta matéria conversamos com várias mães que compartilharam as suas histórias de amor e desafios com a maternidade, são mães experientes, outras jovens, mães de meninas e mães de meninos.
Eliana Marcolino
Ser mãe é a mais nobre missão, as mulheres foram agraciadas com o poder de gerar vidas, em seu ventre guarda a esperança de continuidade das futuras gerações. A maioria das mães assume com responsabilidade e comprometimento esta dádiva, as mães se doam para garantir o bem-estar e qualidade de vida dos filhos. Mães são aquelas que tornam os ambientes mais inóspitos e hostis em espaços de conforto e afetividade.
Nesta matéria conversamos com várias mães que compartilharam as suas histórias de amor e desafios com a maternidade, são mães experientes, outras jovens, mães de meninas e mães de meninos.
Maria Itália, aposentada: 72 anos é mãe de três rapazes, sendo dois gêmeos. Mineira, está nos EUA há três anos. Ela nos conta que se acha um pouco diferente das demais mães, por não ser muito apegada aos filhos, levou muito a sério a proposta de criar os filhos para o mundo, nunca se prendeu, ou deixou de fazer o que queria por causa dos filhos, não que ela os deixassem abandonados, mas porque tinha pessoas de confiança que a ajudava, como a mãe e as babás. “Eu sou uma mãe que não carreguei embaixo das asas”.
“Filho é filho desde que nasce e eles não tem idade para a mãe, eu sou aquela mãe de certa forma não tão presente na vida deles, mas no momento que eles precisam, não tem nada que me segura. Até hoje nos momentos que eram necessários eu estar presente, eu fui. Já vivi situações aflitivas, complicadas que me exigiram muito sacrifício. Eu já tive que abandonar o meu negócio porque meu filho estava precisando de mim naquele momento. Um dos gêmeos, teve síndrome do pânico, eu não tinha como cuidar dele e da empresa ao memo tempo, então saí do interior de São Paulo, fui para Belo Horizonte para passar um fim de semana com ele, mas ao chegar lá, percebi a situação que ele se encontrava, eu abandonei tudo e fiquei com ele por um ano e meio, graças a Deus valeu a pena. Na época, ele fazia duas faculdades públicas, eu o levava para a faculdade e ficava esperando no corredor. Para protegê-lo eu fiquei ao lado dele o tempo que foi necessário”.
Itália conta que esta é a segunda vez que vem para os Estados Unidos, larga tudo no Brasil para vir ajudar o filho mais novo. Ele passou por uma situação muito difícil, precisou dela e ela largou tudo lá e veio acudir o filho.
Já aconteceu situação em que o outro filho gêmeo também precisou. “Eu tive que me desdobrar em todos os sentidos para poder acudir, foram situações muito dramáticas, que exigiram de mim bastante esforço e disposição física. Eu sou guiada por Deus, sei que a força que às vezes consigo não é minha, vem de Deus”.
Kenia Godoi, autônoma: É mãe de Maria de 14 anos e Pedro de 9. Vive nos EUA há seis anos. Diante da falta de diagnóstico da enfermidade do filho, a família emigrou para os EUA, em busca de tratamento.Pedro foi diagnosticado com a Síndrome de Wiskott-Aldrich, uma doença hereditária que passa de mãe para filho, somente os meninos desenvolvem essa doença. “Eu tenho um histórico na família, meu primeiro filho faleceu com essa doença, a expectativa de vida para a criança é de apenas 2 anos e 4 meses e foi exatamente o tempo de vida do meu primeiro filho, na época nós não descobrimos o motivo da morte dele no Brasil”.
Kenia conta que, assim que seu filho foi diagnosticado, começou a busca para o tratamento que era através do transplante de medula óssea, conseguiram o doador no mesmo ano em que começou o tratamento nos Estados Unidos. O Pedro teve muitos problemas, ele sofreu um derrame cerebral, as plaquetas baixaram muito, ele teve de usar um capacete para proteger a cabeça que não podia sofrer nenhum impacto. Apesar da pouca idade é um menino muito guerreiro que aceita a situação, colaborou com o tratamento. “Quando ele fez o transplante, para mim, ele nasceu de novo.
Para Kenia, a vida do Pedro é um milagre porque a criança com essa doença tem pouca expectativa de vida, e o Pedro chegou aqui com 3 anos e meio. Ele enfrentou um voo do Brasil até os EUA com plaquetas baixas, isso não poderia porque falta oxigenação no cérebro, a mãe mostra a sua inabalável fé diante dessa experiência: “nós passamos por isso tudo porque tinha a mão de Deus nos segurando, nos trazendo até aqui e Deus preparou tudo, hospital, equipe médica, o doador da medula óssea. Deus preparou o melhor para ele. O Pedro é um milagre de Deus”.
Ao ser questionada sobre qual foi o maior sacrifício para cuidar do filho ela responde que mãe não vê como sacrifício, mas como uma doação. “Primeiro, deixei uma filha em casa aos cuidados da minha irmã e do meu cunhado, enquanto meu marido trabalhava, ela se dedicou muito aos meus filhos. Deixei o meu esposo, e a minha filha para eu me dedicar exclusivamente ao Pedro, porque ele estava precisando. Eu não deixei ninguém cuidar do Pedro, quis ficar todo o tempo dentro do hospital com ele.
Fabiane Moreira, empresária: de Brasília, há 7 anos vive nos EUA. Mãe do Miguel de 11 anos e Rebeca de 7. Para Fabi, o maior desafio é o seu jeito de ser mãe, muito independente, vive em uma sociedade onde a mãe fica dentro de casa, trabalha, e se você não for assim parece que não é uma boa mãe. “Esse foi o meu maior desafio, de entender que eu não tinha que ser igual a outras mães que largam tudo para cuidar dos filhos, como fez a minha mãe, não estudou, não trabalhou fora para cuidar da gente. Mas ela sempre nos cobrou, então eu pensava: quando eu tiver filhos vou realizar todos os meus sonhos e não vou culpá-los se algo não der certo”.
Fabiane nos conta dos momentos difíceis pelos quais passou com a maternidade. Aos 7 anos Miguel começou a sentir sintomas diferentes, formigamentos no rosto. Certa vez ele paralisou uma parte do rosto, teve uma convulsão e foi levado para a emergência. Ele foi diagnosticado com epilepsia parcial. “Pensei no que ele poderia sofrer com esta doença, fiquei muito abalada. Eu estudava todos os dias. Pedi na escola um semestre de licença para cuidar do meu filho, meu pedido foi negado. A escola alegou que o problema de saúde era no meu filho e não em mim. Aquilo pra mim foi o fim do mundo, eu só chorava, teve uma época que eu fingia que ia para a escola, mas depois voltava para casa, e só chorava, o diretor me mandava mensagem falando que eu iria perder o visto de estudante porque estava faltando. Na sala de aula a professora gritava comigo. Pesquisei sobre meus direitos e descobri que eu tinha o direito de tirar licença, peguei um atestado com a psicóloga e consegui a licença porque estava com depressão e precisava cuidar dos meus filhos”.
Quando fomos para Orlando, fiquei mais tempo com meus filhos e, percebi que Rebeca parava de um lado e ficava olhando para frente e mexendo a boca, a gente chamava, chamava e ela continuava a olhar para o nada, depois de um tempo ela respondia, mas sem perceber o que estava acontecendo. Levei ela ao médico, e eles diagnosticaram crise de ausência e epilepsia. Fui à escola e eles me informaram que o desempenho dela estava ruim e a professora pensava que ela estava desobediente porque a professora falava e ela não respondia.
As crianças fizeram tratamento, Miguel parou de tomar o medicamento e está bem, e a Rebeca já está bem melhor. Depois que ela começou a tomar os medicamentos nunca mais teve crise de ausência.
Fabiane se mudou de cidade para oferecer uma melhor escola para os filhos. A mãe faz um alerta: “Nós mães devemos observar bem os nossos filhos, olhar nos detalhes. Que a gente pare para observar o comportamento das crianças. Que a gente olhe nos nossos filhos como pessoas fortes, capazes de dialogar para tomar as decisões juntos”.
Emily Lima: 31 anos, carioca. vive nos EUA há 12 anos. Mãe de três filhos, Alexandre 9, Luisa 7 e Luma 2 anos. Influencer com conteúdo no Instagram voltado para mães.
Emilly nos conta que o seu maior sonho sempre foi ser mãe, teve 2 filhos do primeiro casamento, nesse relacionamento passou por violência doméstica, mas o que a fez relutar e continuar tentando foram os filhos, porque ela sempre quis dar uma família para eles. “Em 2016 resolvi me separar, mas houve uma tentativa de homicídio, ele tentou me matar. Ele ficou um ano e meio preso e depois foi deportado”. Emilly se casou novamente e tem uma filha deste relacionamento que também terminou. “Faço o que sei fazer de melhor, sou a mãe que brinca com os filhos, ando de bicicleta, de skate, jogo futebol, caio na bagunça com eles”.
Quem vê esta jovem mãe sorridente, não imagina o sofrimento pelo qual ela passou: “Quando fui agredida, meu filho viu tudo e foi ele que me salvou, quando o pai dele tentou me matar eu apaguei, se não fossem os gritos dele pedindo para o pai parar eu não teria sobrevivido. Ele começou a gritar e os vizinhos ouviram e me socorreram. Isso aconteceu no corredor do prédio, estava de mãos dadas com o meu filho de três anos, meu ex-marido me pegou de surpresa. Meu filho ficou traumatizado, ficamos um bom tempo fazendo terapia”.
“Em uma das brigas, chamei a polícia e quando tem criança envolvida, eles acionam o DCF, que é o Departamento de proteção à criança. No papel veio como se eu também fosse negligente por deixar as crianças presenciarem a violência, e que eu poderia perder a guarda dos meus filhos por isso”.
Em um dia Emilly decidiu abandonar o ambiente de conflito, pegou os filhos e foi para a casa do seu tio, no entanto, alguém denunciou, falou que ela havia tirado os filhos de casa e que não tinha um lugar para ficar com as crianças. “Quando eu decidi sair do ambiente de violência com os meus filhos eu recebi uma notificação do DCF dizendo o seguinte: ‘Você tem 20 dias para arrumar um lugar’. Eu sozinha, com duas crianças, ilegal na América, ganhava cem dólares por dia fazendo faxina. Algumas pessoas se mobilizaram e me ajudaram. Consegui o apartamento exatamente no prazo de 20 dias, eles foram me visitar e eu tinha o apartamento, com apenas um colchão no chão, mas eu tinha a casa para morar com os meus filhos. Passei uma barra salgada. Mas tudo que passei ajudou a forjar a mulher que sou hoje, não é qualquer um que me derruba não”.
Emilly deixa uma mensagem: “O filho te segura, mas ele também te assegura de muita coisa, no meu caso, se meu filho não estivesse comigo, quando passei pelo que passei, será que alguém teria escutado? Eu poderia estar morta hoje, mas foi o grito do meu filho que me salvou.
Paula Vieira, empresária: 37 anos, de Poços de Caldas MG, vive há 8 anos nos EUA. Foi mãe aos 15 anos de idade. Daniel tem 21 anos.
Paula relata que o momento mais difícil da sua vida foi quando o filho quase morreu, ele tinha dez anos quando começou a reclamar de intensa dor de cabeça, no princípio o médico falava que era virose. Certo dia ele desmaiou e foi encaminhado para a Santa Casa, fizeram a tomografia e levantaram a hipótese de um tumor no cérebro. “A sensação que tive era de que o meu espírito havia saído do corpo, fiquei fora de mim. Constataram que ele tinha um abscesso e que ele deveria passar por uma cirurgia urgente. Foram 4 horas de operação. A imagem que tenho daquele dia foi a pior de toda minha vida, ele saiu da sala cirúrgica todo enfaixado, cheio de eletrodos, com os braços amarrados na maca. Eu queria me aproximar dele, mas não podia. Eu choro de emoção ao me lembrar disso. No outro dia foi liberada a minha entrada na UTI, quando cheguei, a cena que vi foi a pior da minha vida. Ele estava intubado, com o rostinho todo inchado, ele estava amarrado. Quando eu me aproximei e conversei com ele, vi que os batimentos cardíacos dele subia, ele estava em coma induzido. Foi tirado do coma três dias depois, assim que ele acordou a primeira pessoa que chamou foi eu, cadê a minha mãe? Ele ficou internado por 21 dias e eu basicamente fiquei internada com ele. Depois que saiu, passou pelo processo de recuperação, percebi que foi um milagre tão grande em minha vida, que meu filho não teve nenhuma sequela”.
Hoje Daniel tem muita saúde e mora nos EUA com a mãe. A mensagem de Paula é que, “não existe nada tão ruim que a gente não possa superar, devemos tentar buscar sempre o melhor para si e para os filhos”.
Bianca Zimmer, empresária: 48, é do Rio Grande do Sul, vive nos EUA há 20 anos. Mãe de três meninas, Bruna 20, Vitória 18, e Juliana 15. Ela conta que um dos desafios da maternidade é de criar as filhas em um país com outra cultura e longe da família. Quando a primeira filha tinha um mês e meio Bianca precisou fazer uma cirurgia de vesícula. “Tive que ficar internada dois dias no hospital. Somente eu e meu marido sozinhos, sem nenhum familiar, sem saber como cuidar direito deste bebê. Essas coisas são difíceis quando se é jovem e se tem pouca experiência”.
A mãe relata que o maior investimento que ela e o esposo proporcionaram para as filhas é uma educação escolar de qualidade: “Nunca desistimos de educar bem as meninas. A opção foi trabalhar muito para oferecer uma boa educação”.
Educar não é nada fácil, exige renúncia, tempo, diálogo e muita compreensão principalmente em tempos de internet e redes sociais, quando o mundo entra nas casas. Diante dessa realidade Bianca conta que sentiu a necessidade de estabelecer regras mais rigorosas quanto ao uso das novas tecnologias: “Aqui em casa, a gente regra o tempo de uso do telefone, ninguém dorme com telefone no quarto, 10h a gente recolhe o telefone de todo mundo. Tiramos os eletrônicos de dentro dos quartos, temos apenas uma TV na sala. A conversa é aberta, explicamos para elas os perigos do celular que é tão viciante quanto uma cocaína”. Sobre o uso das tecnologias, o pai é especialista no assunto, Jaime Zimmer, é escritor, autor do livro: “Escravidão digital”. Por serem conhecedores dos perigos do uso excessivo das tecnologias os pais estabeleceram regras na família.
Eles retiram as tecnologias, mas ofereceram a oportunidade do diálogo.Existe um acordo na família onde se unem em duplas para preparar as refeições, e a quarta-feira é reservada para o pai jantar em um restaurante com as meninas, cada quarta é reservada para uma filha em especial, nesse dia a menina tem a atenção exclusiva para conversar com o pai. Bianca também tem um dia particular para ir ao restaurante com uma das filhas, trata-se de um momento de privacidade entre ambas. Além disso, a família guarda um dia para estarem juntos. “Nesta vida corrida aqui da América nós entramos no acordo de fazermos uma refeição juntos, reservamos a sexta-feira, é quando a gente conversa. A semana está chegando ao final a gente tem que se recompor para a outra semana. Procuramos sempre jantar com elas. Temos uma rotina de cozinhar em dupla todos os dias, é uma estratégia para ficarmos juntas, é uma comunhão entre família”.
Lílian Magesky, empresária: 39, natural de Recife PE, vive nos EUA há 14 anos, mãe de Lara Magesky, 13 anos. Lílian fala com entusiasmo sobre a importância de estar junto da sua filha. “Ser mãe imigrante não é fácil, estamos em um lugar onde não existe parentes, é uma maternidade com muitos desafios. Sou a melhor mãe que posso ser. Faço o meu melhor todos os dias. Sempre que possível levo a minha filha comigo. Sempre me esforcei para levar a minha filha, seja no trabalho ou nas viagens. Ela acompanha o meu esforço e aprende também”.
Lílian confessa que o mais difícil na maternidade para ela não foram as noites sem dormir com a bebê, mas a fase da adolescência está sendo um grande desafio. É a fase das grandes descobertas, e das grandes mudanças, eles mudam de humor. A mãe se orgulha da amizade com a filha: “Sou a melhor amiga da minha filha a gente conversa muito”. Magesky deixa a sua mensagem: “Ser mãe não é fácil, é um desafio, a gente não vai ser perfeita nunca, mas podemos dar o nosso melhor, o bom exemplo, o tempo de qualidade e o amor”.
Não há dúvidas de que todas as mães são mulheres extraordinárias.
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Fonte: Brazilian Times