A beleza da escrita

O Focus Brasil realizou nos dias passados, entre 8 e 12 de setembro, o Encontro Mundial de Escritores Brasileiros, tudo online de acordo com os tempos atuais. No último dia do Encontro, logo pela manhã, houve a Mesa Redonda moderada por Claudemir de Oliveira à qual tive a honra de participar junto às escritoras Susy Shikoda (Inglaterra), Vanderli Bello (Inglaterra) e Valdivia Beauchamp (USA). O tema era o importante e útil questionamento sobre o que é preciso para “sermos escritores de sucesso”.

A escrita nasce de dentro de nós por um processo de transmutação de nossas experiências e anseios, alegrias e tristezas. “Lê-se o que gostamos de ler, mas escrevemos aquilo que somos capazes de escrever,” escreveu Jorge Luis Borges, Enraizados cada um em seu pedaço de mundo, o escrever é o reflexo de nossa personalidade inserida num contexto, lidando com questões pertinentes ao nosso ser e àquele das pessoas ao nosso redor. Por isso, “escrevemos o que somos capazes de escrever”, aquilo que nasce “do sangue” como diria Nietzsche. Deste lugar, a escrita reflete a elaboração que nossa alma fez do mundo no qual se encontra e serve como nutrimento para as demais almas que partilham de experiências e situações parecidas. A escrita é um gesto generoso de doação e amor ao próximo.

Por outro lado, a escrita é revelação. Começamos com uma ideia e logo percebemos que ela é nada mais que um portal adentrando o qual enveredamos pela jornada que será de descoberta e autodescoberta. Deixar-se levar pelo mistério do escrever, permitir-se ser influenciados por novos perfumes e novos vislumbres: isso também é escrever. “A escrita, conforme Marguerite Duras, é o desconhecido. Antes de escrever não se sabe nada daquilo que se está para escrever e em plena lucidez.” Escrever sem dúvida não é “canalização”, mas é surpreendente e realizador.

Mais importante, escrever é uma atividade o que nos humaniza, pois somos plenamente humanos a partir do momento em que registramos nossa vida, pensamentos, vicissitudes por meio de sinais. A história humana começa com a escrita. Dos desenhos, durante um longo processo, chegamos aos sinais que evoluíram evoluindo e sendo evoluídos pelo desenvolvimento de nosso cérebro. Individualmente, e mesmo sem querer se tornar autores, escrever continua sendo um exercício de humanização. Nos ajuda (obriga!) a parar, refletir, reavaliar, enxergar melhor, com mais detalhes, entender, questionar. Saímos de uma “sessão de diário” diferentes de quando a começamos. Quem já experimentou isso sabe do que eu falo.

Parar para escrever, entretanto, nos dias de hoje para ser uma das coisas mais difíceis da terra. Tempos de internet, rápidos, tão rápidos que mal dá para respirar. Uma vez atendi uma moça que não conseguia prestar atenção a nada por mais de uns segundos… tempo necessário para olhar as imagens no Instagram! Coerentemente, não conseguiu levar adiante a análise. Tempos atrás li uma pesquisa sobre a incidência do Alzheimer: era menor num convento de freiras… O que elas faziam de diferente? Alimentação? Atividade física? Não. Elas tinham o costume de escrever todas as noites sobre seu dia. Todas as noites…

Escrever é saúde. Por isso, vale investir na disciplina necessária para se manter escrevendo, o que estimulará a nossa autoestima, o que por sua vez favorecerá a criatividade, a qual instigará uma maior espontaneidade que retroativamente impulsionará as ideias, portanto novamente a criatividade… E um ser criativo é sempre, inevitavelmente, um ser mais feliz!

 

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Fonte: Gazeta News