Brasileiro preso por invasão ao Capitólio diz que usará religião para reconstruir América

Eliel Rosa foi uma das pessoas presas por invadir o Capitólio há um ano, em 6 de janeiro de 2021. Ele declarou à Justiça dos EUA que nasceu em uma cidade pequena do Brasil, filho de um pastor evangélico. Nos anos 2000, ele se mudou para Curitiba e foi trabalhar para a prefeitura. Na década seguinte emigrou, alegando ser alvo de perseguição política, e obteve asilo em 2018.

Dois anos antes, Rosa e a família haviam se instalado em Midland, cidade de 140 mil moradores no oeste do Texas, onde tinha amigos que eram pastores de uma pequena igreja. Lá ele fundou o ministério Nehemiah220, que diz ter como missão “motivar e facilitar a reconstrução da identidade judaico-cristã americana”.

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No vídeo que anuncia a criação do projeto, em 2017, o brasileiro faz um alerta de que os EUA estão em risco e “podem se destruir ao perderem sua origem e não acordarem”. Ele diz que nomes como o ex-presidente Barack Obama, a ex-candidata à Presidência Hillary Clinton, o cineasta Michael Moore e o linguista Noam Chomsky “não são a história verdadeira da América”.

O projeto Nehemiah220 inclui também uma “escola de governo”, que busca relacionar ensinamentos cristãos à gestão pública. A aula inaugural, em 2018, teve como tema “O cidadão cristão e os fundamentos bíblicos do governo civil”. Em fevereiro de 2018, o próprio Rosa deu uma aula com o tema “Um olhar sobre o problema da imigração pelo caminho de Deus”, em uma igreja próxima.

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Em outubro de 2020, um debate sobre “Colonização comunista na pós-modernidade” ocorreu em um jardim com cartazes da campanha de Donald Trump à reeleição. Pouco depois, a página da Nehemiah220 postou um desenho que dizia que dar apoio ao islã significaria favorecer a própria extinção.

Rosa disse às autoridades que foi a Washington em 6 de janeiro, junto com a amiga Jenny Cudd, para ver o comício de Trump. O republicano convocou um ato para reafirmar alegações de que houve fraude nas eleições de 2020. No discurso, estimulou seus apoiadores “a lutar”.

Segundo a defesa do brasileiro, ao fim do discurso ele decidiu voltar ao hotel para comer algo e depois se juntou à multidão que ia em direção ao Congresso. Chegando lá, ele e Cudd disseram que encontraram uma porta aberta e entraram no prédio, às 14h35. Eles ouviram o que pareceu um tiro, se afastaram para que equipes de socorro atendessem o ocorrido e deixaram o local após receber ordem para isso, às 14h43.

“Só o que posso fazer é dar minha palavra de que se eu for autorizado a ficar neste país e realizar meu sonho americano, nunca mais cometerei uma estupidez assim de novo. Eu amo essa nação. A América é onde quero que meu corpo descanse quando minha hora chegar.”

Ele e a amiga foram indiciados por cinco acusações: obstruir um procedimento oficial, entrar e permanecer em um prédio restrito, conduta desordeira em um prédio restrito, conduta desordeira em um prédio do Congresso e fazer piquete dentro do Congresso. Rosa se declarou culpado da última acusação, cuja pena máxima é de seis meses de prisão.

Ele acabou condenado a 12 meses de pena condicional: precisa seguir uma série de regras, mas não ficar detido em uma penitenciária. A punição foi considerada mais branda do que a de muitos outros invasores.

Outro invasor de origem brasileira, Samuel Camargo, também foi preso e indiciado por participar da invasão do Capitólio. O caso dele ainda não foi julgado, e ele aguarda a sentença em liberdade. Camargo, que alegou ser inocente, nasceu em Boston, filho de pais brasileiros, e morava em Fort Myers, na Florida, quando foi detido.

 

Fonte: Brazilian Press