EUA: A história de Gisele Barreto, brasileira por 15 anos indocumentada e que hoje ajuda outros imigrantes

Aos 7 anos, ela deixou um bairro do Rio de Janeiro marcado pela violência e entrou sem documentos nos Estados Unidos com a família. Instalados em um apartamento de um cômodo em Nova York, buscava móveis nas ruas enquanto a mãe limpava casas. Hoje, a brasileira Gisele Barreto Fetterman é ativista e faz campanha para o marido, que concorre a uma vaga no Senado para a Pensilvânia pelo Partido Democrata.

O candidato, John Fetterman, vice-governador de seu Estado, diz que a história de Gisele é o que inspira sua política de imigração. Gisele passou quase 15 anos sem documentação, às vezes vasculhando lixeiras e renunciando à assistência médica. Todos os dias antes de ir à escola, sua mãe lhe dizia: “Seja invisível”, um lembrete de que um passo em falso poderia comprometer a nova vida.

John Fetterman, Gisele Barreto Fetterman Open Up About Their Family

Em vez de esconder essas dificuldades, Gisele transformou o papel cerimonial de segunda-dama da Pensilvânia, ou “SLOP” (sigla de “Second Lady of Pennsylvania”), como diz Gisele, em um megafone para os marginalizados. E suas experiências estão no foco dos esforços de Fetterman para mudar a visão sobre a imigração em uma das disputas eleitorais mais acompanhadas no próximo mês, que ajudará a determinar qual partido controla o Senado.

“Tenho muitas conversas desconfortáveis”, disse ela, em entrevista por telefone. “Ouço coisas do tipo: ‘Você não tem aparência de uma pessoa sem documentos’. Bem, e qual é a aparência de uma que não tem?”
Gisele Barreto Fetterman (à esquerda) acompanha o marido, o vice-governador da Pensilvânia, John Fetterman (à direita), candidato democrata ao Senado dos EUA, em evento com o presidente americano, Joe Biden.

Gisele Barreto Fetterman shares video of woman calling her the N-word at a grocery store

O candidato republicano Mehmet Oz, o famoso “Dr. Oz”, filho de imigrantes turcos e apoiado por Donald Trump, classifica Fetterman como um radical com políticas de fronteiras abertas que incentivarão o crime. Fetterman, 53, afirma que o sistema atual está “quebrado”. Sua esposa pede compaixão. “Você tem que parar um momento e pensar como era a vida de alguém para deixar tudo para trás”, disse. “Não deveria sentir dor para saber que outra pessoa está passando por isso.”

155 mil seguidores no Twitter

Com cabelos pretos ondulados e muito ativa nas redes sociais – ela tem 155 mil seguidores no Twitter – Gisele, de 40 anos, cultivou uma marca nacional. Seus feeds são um fluxo de imagens da família, cachorros, da campanha e fotos ocasionais com celebridades como Kim Kardashian e o falecido Anthony Bourdain.

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A segunda-dama da Pensilvânia vem da Tijuca, na zona norte do Rio. Sua mãe, Ester Resende, formada em nutrição, privou Gisele e o irmão de uma vida de classe média no Brasil para protegê-los do crime. A decisão foi tomada após saber que uma tia havia sido assaltada sete vezes em um ano. Os roubos de carros se tornaram tão frequentes que “acabou decidindo nunca mais dirigir”, lembra Gisele. Ester instruiu as crianças a fazerem as malas para “uma aventura”.

Desembarcaram na cidade de Nova York. A jovem Gisele teve aulas de inglês e assistiu a muitos episódios legendados da série “Mister Rogers”.
Foi apenas em 2004, quando tinha 22 anos, que Gisele conseguiu o green card. Recebeu a cidadania americana cinco anos depois. Estudou nutrição e conheceu o marido depois de lhe escrever uma carta perguntando sobre suas medidas como prefeito para revitalizar Braddock, uma cidade siderúrgica decadente nos arredores de Pittsburgh. Casaram-se em 2008 e têm três filhos.

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Preocupações com a saúde

A vantagem de dois dígitos de John Fetterman sobre Oz, 62, encolheu e a distância entre os dois, agora, está dentro da margem de erro. A saúde de Fetterman tornou-se foco de ataques de republicanos após uma entrevista à NBC News, na qual precisou da ajuda de um dispositivo com legendas como resultado de um derrame. Se o marido vencer, Gisele diz que pretende continuar contando sua história. “As pessoas dirão: ‘Acho você ótima e faz coisas tão boas, meu problema é com os outros imigrantes’”, afirma. “Tento explicar: Também sou como esses outros imigrantes.” // Fonte: Valor Econômico.

Fonte: Brazilian Press