Os amigos Leandro Mercali e Edevir Zaccaria se desafiaram, em 2016, a fazer uma grande viagem com motos de 125 cilindradas.
Dois anos depois, conseguiram cair na estrada e percorreram quase 6.000 km. Eles rodaram cidades do Rio Grande do Sul, Uruguai, Argentina e Chile.
No caminho, enfrentaram furto de um dos veículos e temperaturas baixíssimas na Cordilheira dos Andes.
Confira abaixo os perrengues e alegrias enfrentados pelos amigos.
Eu sei que em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email [email protected].
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Tudo começou em 2016, quando eu e meu amigo Edevir comentamos sobre fazer uma viagem com motos de 125 cilindradas, inicialmente até o Uruguai. A partir daí falávamos de vez em quando a respeito, mas sem muita euforia.
Em outubro de 2017 comentamos novamente sobre o assunto e dissemos: ou a gente vai de uma vez, ou nunca mais tocamos no assunto. Então decidimos nos reunir para definir alguns pontos importantes sobre a viagem.
Surgiu a ideia de ir até o Chile, mas, como pensávamos ser impossível, voltamos a pensar somente no litoral do Uruguai. E marcamos uma data de saída: 10 de março de 2018.
Em janeiro determinamos quantos dias podíamos ficar em viagem, que foi 15 dias, mas já com a retomada da ideia de ir até o Chile. A rota coube a mim definir, já que o Uruguai eu já conhecia e meu amigo, não.
Determinamos custos diários de no máximo R$ 250 de hotel com café da manhã para os dois e ajustamos rotas e metas de quilômetros rodados no primeiro dia. Se não fosse assim, o Chile ficaria de fora e iríamos só até a Argentina.
Na madrugada do dia 10 de março, às 5h, saí de Veranópolis (RS) com uma Biz 125 ex ano 2014, passando por Bento Gonçalves (RS), onde morava o Edevir. Com sua CG 125 Fan ano 2012, seguimos sentido Porto Alegre, Pelotas, Santa Vitória do Palmar e ingressamos no Uruguai por Chuí (RS).
Entrando no país vizinho, passamos por várias cidades que eu também não conhecia e chegamos a Punta del Este às 23h45, totalizando 1.130 km no primeiro dia.
O segundo dia da viagem foi para descansar em Punta, que é linda demais. Aproveitamos e fomos até a Casapueblo, museu e hotel construído a mão pelo artista Carlos Páez Villaró (1923-2014) em Punta Ballena.
No dia seguinte viajamos por Piriápolis, Montevidéu e fomos até Colônia do Sacramento.
No quarto dia fizemos a travessia para Buenos Aires de barco, num “Buque bus”, e pernoitamos lá –sempre escolhíamos onde ficar por aplicativo de hospedagem. À noite fomos até o Puerto Madero caminhando, o que é um show à parte. Buenos Aires é linda e relativamente segura.
Na volta para o hotel, a surpresa: roubaram a moto do meu amigo no estacionamento.
Por sorte a polícia a recuperou, mas com o chicote elétrico totalmente cortado. Passamos a madrugada na delegacia dando esclarecimentos. Quando liberaram a moto, às 5h, a empurramos até o hotel escoltados pela polícia, já que não funcionava mais.
Acordamos às 7h e, como temos conhecimento em mecânica e elétrica, desmontamos a moto e refizemos toda a parte elétrica. Com algumas ferramentas e fita isolante que o encarregado da manutenção do hotel nos emprestou, às 10h ela estava funcionando novamente.
Neste dia seguimos a Rosário e depois até Cañada de Gomez, onde mora a Liliana. A conheci pelo Facebook um tempo antes porque ela tem o mesmo sobrenome que eu. Dormimos no hotel onde ela trabalha, o Verde Sole –bem aconchegante, por sinal.
No 6º dia viajamos para Villa Maria, onde dormimos na beira da estrada logo após o almoço, numa sombra e de barriga cheia –fazia 38 ºC. Depois passamos por Rio Cuarto, Villa Mercedes e San Luis, onde pernoitamos.
No dia seguinte rumamos para Mendoza e vimos a imagem mais esperada da viagem ao longe: as montanhas da Cordilheira dos Andes. Choramos de emoção. Passamos o dia na cidade.
No outro dia, o 8º, desbravamos a Cordilheira com temperaturas de até 0 ºC e chegamos a Santiago, no Chile.
A volta
O retorno foi pelo mesmo caminho até Rosário, e depois seguimos por Nogoyá, Federación, San Jaime de la Frontera e entramos no Brasil por Uruguaiana. Aí passamos por São Borja, Ijuí, Passo Fundo e Veranópolis.
Foram 5.942 km em 12 dias de viagem e sem nenhuma gota de chuva. Não tivemos problemas mecânicos, mesmo andando com as motos nos limites de giro dos motores, e nenhum pneu furado. Detalhe: sempre trocávamos o óleo dos motores a cada 1.500 km.
Nossa velocidade em viagem era sempre acima dos 100 km/h, chegando muitas vezes ficar longos períodos a 140 km/h. As estradas e o combustível de boa qualidade ajudavam muito.
Sem dúvida foi a experiência mais incrível das nossas vidas. Conhecemos muitas pessoas que admiravam nossa aventura e a nossa coragem, já que, para muitos, fazer uma longa viagem com motos de baixa cilindrada é coisa de outro mundo. Policiais tiraram selfie conosco. E grupos de motoqueiros do Brasil e da América do Sul queriam saber da nossa trajetória.
Indescritível! Sigam #uruguaiargentinachiledebiz125 para ver nossas fotos.
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Aviso aos passageiros 1: O mineiro Thiago Guido já contou ao Check-in como foi a sua jornada de moto pelo sul da América do Sul
Aviso aos passageiros 2: O casal João Paulo Mileski e Carina Furlanetto compartilhou um pouco de sua viagem pelo Brasil e América do Sul em um carro 1.0
Fonte: Folha de S.Paulo