As 7 roubadas capitais dos bares brasileiros

Segue a lista, na seguinte ordem: do pé-sujo ao speakeasy.

1. Torre de chope

Uma das ideias mais cretinas da história moderna, a torre de chope é um prodígio do design. Combina estética horrenda com o fracasso absoluto da funcionalidade.

Basicamente, o cara do bar despeja uma pororoca de chope num recipiente do tamanho do piscinão do Pacaembu. Nesse processo, a bebida já perde metade do gás. E aí fica esquentando no centro da mesa.

2. Batata frita cheia de tranqueira

Batata frita é uma das grandes maravilhas da culinária. Talvez a melhor de todas as comidas veganas.

Como toda fritura, ela precisa ser crocante para ser boa.

Aí vem algum gênio e joga uma betoneira de cheddar cremoso ou requeijão em cima da batata. O resultado é mole, morto e nauseabundo.

3. Cerveja sem camisinha

Para quem não tem familiaridade com as gírias de boteco: camisinha é a capa térmica, em geral de plástico duro, feita manter o gelo da cerveja de 600 mililitros.

Todo “bar e lanches” raiz, de trabalhador braçal, oferece a tal camisinha. Mas tem uns estabelecimentos que servem cerveja grande sem ela. São, em geral, bares que simulam botecos autênticos, com uma tosquice toda calculada no business plan.

Economia mesquinha ou conceito? É feio porque ostenta uma marca? Francamente, devolve a geladeira da H31n3k3n então.

4. Cadeiras de praia

Já expus meu desgosto a respeito delas neste outro texto.

5. Não ter comida grátis

Aprendamos com os espanhóis e os italianos. Os primeiros oferecem as tapas, pequenos petiscos que chegam de cortesia a cada bebida comandada. O aperitivo italiano pode ser igual à tapa espanhola, mas às vezes é um bufê que tem até lasanha à vontade. Atrai cliente que é uma maravilha.

Claro que o “grátis” não deve ser levado a sério demais, pois o comerciante obviamente faz suas planilhas e embute esse custo em coisas que o cliente vai pagar. É simpático, porém.

Aqui, quase não se veem nem os amendoins ou batatinhas que os americanos deixam no balcão para salgar a boca do freguês e induzi-lo a beber mais.

6. Bares secretos

Então, seu bar tem um sótão ou um porão que está sendo usado de depósito de coisas quebradas. Você tem um clique: uma rápida reforma, e o lugar pode aumentar em 35% o faturamento do salão principal.

Mas espera.

Não vamos apenas ampliar o bar. Vamos criar uma nova marca. Cortina de veludo, ambiente trevoso, coquetelaria dos anos 1920, preços dos anos 2040.

Ah, é um bar secreto. Vamos divulgar a novidade para toda a imprensa e influenciadores.

Essa cascata de speakeasy até colava uns 10 ou 15 anos atrás. Já deu. Parem, por favor.

7. Drinques mais caros que um prato de comida

Parece até que eu fiquei hibernando em casa por dois anos e acordei para uma realidade em que os coquetéis viraram arte, luxo e glamour. Desde quando é normal cobrar uma exorbitância por um drinque?

Virou praxe coquetéis mais caros que comida. Não falo de petiscos nem de PFs de boteco, mas pratos principais do mesmo bar que vende a bebida.

Um lugar paulistano vende o boulevardier por R$ 54 e um espaguete com alheira por R$ 52. Sazerac por R$ 72 e arroz de pato pelo mesmo valor.

Assim, é fato que o trabalho do bartender deve ser valorizado e que os insumos estão caros, mas a coisa extrapola o limite do razoável.

Bares são ambientes de convivência informal, não salas de degustação e louvor ao deuses do coquetel. A função da bebida é relaxar, não causar pesadelos com a fatura do cartão de crédito.

Se continuar nessa toada, a coquetelaria vai cair na mesma cilada em que caíram o vinho e cerveja artesanal: levar-se a sério demais.

Fonte: Folha de S.Paulo