Carretera Austral, no Chile, é para os que curtem muito pegar estrada

Se você é do tipo que gosta de dirigir, mas gosta mesmo, há uma outra maneira de se conhecer a porção norte da Patagônia chilena: se aventurar pela mítica Carretera Austral, estrada com seus 1.240 km alternando trechos em asfalto, rípio (cascalho), barro e neve em meio a parques nacionais, vilarejos e paisagens de tirar o fôlego.

Com a construção iniciada em 1976, a rodovia tem seu marco inicial em Puerto Montt, região dos lagos e vulcões próxima a Puerto Varas e Frutillar, e se estende até Villa O’Higgins, rasgando a paisagem como a única via de ligação terrestre entre o norte e o sul dessa parte da Patagônia.

A dica é reservar ao menos dez dias, pegar o carro em Puerto Montt e ir descendo até Puerto Chacabuco. Mas não pode ser qualquer carro.

Escolha um SUV confiável, com suspensão alta e reforçada, para encarar os trechos em rípio e outras adversidades. Também evite o inverno, pois neva e chove muito na região, tornando alguns trechos intransitáveis. Assim, planeje viajar entre novembro e fevereiro, quando é mais seguro.

Neste momento, a cidade de Puerto Montt está na fase 2 do plano chileno de combate à pandemia, e turistas só podem se locomover para destinos que estejam nas fases 3 e 4. As fases são revisadas regularmente, portanto confira antes de viajar em gob.cl/coronavirus/pasoapaso. Para mais informações, consulte o site chile.travel/planviajarachile.

Planejamento, por sinal, é a palavra-chave dessa viagem. Até o destino, são duas travessias em balsas, sendo que uma delas, entre Hornopirén e Chaitén, pode levar até cinco horas. Para este trecho, é preciso comprar passagem com antecedência no site barcazas.cl e se programar para estar no local de embarque logo pela manhã, pois só há uma balsa por dia. Se perder, abraço! A boa notícia é que a embarcação é confortável e conta com um honesto serviço de cafeteria.

Em terra firme, a estrada alterna trechos em asfalto novíssimo com outros nem tanto. Dirigir no rípio não é tão complicado, e logo o motorista se acostuma com o barulho das pedrinhas martelando o carro e o sacolejo por causa dos buracos frequentes. Com isso em mente, não economize no seguro, pois invariavelmente o veículo vai retornar com vários riscos e pequenos amassados na lataria.

Outra recomendação é ficar de olho no combustível, já que não há postos ao longo da estrada, apenas nas cidades.

Para além da Carretera Austral, vale desviar um pouco na altura de Chaitén, deixando para trás essa região devastada por uma forte erupção vulcânica em 2008, e esticar por pelo menos dois dias até Futaleufú, uma pequena e charmosa cidade próxima à fronteira com a Argentina famosa pelas corredeiras ideais para a prática do rafting e espírito meio hippie.

De volta à estrada principal, a próxima parada é Puyuhuapi, vilarejo de colonização alemã às margens de um fiorde, com direito a termas com piscinas de água quente ao ar livre e boa estrutura para hospedagem e alimentação.

É uma excelente base para ir ao Parque Nacional Queulat, que abriga o Ventisquero Colgante, uma impressionante cascata de gelo (durante a pandemia, é preciso reservar a entrada no site bityli.com/IOlru).

O último trecho até Puerto Chacabuco é o mais difícil, pois é preciso percorrer uma estrada estreita com rípio, barro e, por vezes, neve, que cruza o parque Queulat. Bastante íngreme em certos momentos, exige do motorista cautela e paciência, pois há caminhões que não raramente atolam, bloqueando a estrada. A neblina é constante.

A boa notícia é que, vencido o desafio, chega-se à uma região plana, de vales verdes ladeados por montanhas com neves eternas e rios límpidos, onde é comum a pesca de salmão selvagem.

Uma estrada em boas condições leva a Aysén e Puerto Chacabuco, onde a segunda parte da viagem começa.

Animou? Ótimo! Só não se esqueça que a volta é pelo mesmo caminho. Afinal de contas, a Carretera Austral é uma só.

Fonte: Folha de S.Paulo