Cataratas: melhor hotel da América do Sul já foi da Varig e hoje faz parte de império da Louis Vuitton

Nove hotéis brasileiros figuram na mais recente edição do Forbes Travel Guide, o guia de viagens da publicação americana que elege anualmente as melhores propriedades ao redor do mundo. Entre os 558 melhores cinco estrelas da lista, o único sul-americano é o Hotel das Cataratas, localizado dentro do Parque Nacional do Iguaçu —que figura no ranking pelo sexto ano consecutivo.

Desde 2007 sob o guarda-chuva do luxuoso grupo Belmond (que também assina o Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, e investiu US$ 20 milhões em uma grande reforma), o hotel chamou a atenção da Forbes pelo seu charme colonial e pelo spa com produtos nativos brasileiros. Mas, principalmente, pelo acesso que os seus hóspedes têm às cataratas.

“Turistas em geral devem deixar o parque todos os dias, o que significa que ao amanhecer e ao entardecer, os hóspedes têm as cataratas só para eles”, destaca a avaliação da revista. “Você pode caminhar até a Garganta do Diabo, cercada pelo borrifo das cataratas, tendo apenas a vida selvagem local como companhia antes mesmo de os primeiros turistas do dia entrarem no parque.”

Esse acesso mais que privilegiado ao Parque Nacional do Iguaçu, um patrimônio mundial natural pela Unesco, é uma exclusividade do lado brasileiro —os argentinos até contam com um hotel por ali, mas sem a mesma experiência de contemplação— e fruto da sensibilidade do arquiteto mineiro Ângelo Murgel. Funcionário do serviço florestal do Ministério da Agricultura no final da década de 1930, ele foi o responsável por projetar as edificações dos vários parques nacionais então criados por Getúlio Vargas.

O projeto do Hotel das Cataratas foi concebido na mesma época em que a arquitetura modernista nacional dava os seus primeiros frutos (como o Ministério da Educação, projetado por Lúcio Costa no Rio de Janeiro). Ainda assim, Murgel optou por uma linguagem colonial, que à época soava datada, mas hoje compõe o charme que conquista até mesmo quem está só de passagem, a caminho das cataratas.

Em sua tese de doutorado, o arquiteto explica que buscou “a simplicidade e a naturalidade com que o homem nos seus estágios mais primitivos sempre resolveu o problema de suas habitações. Para ele, “apenas o essencial, em termos de materiais, deveria ser trazido de fora, tendo em vista que os principais componentes para as construções eram obtidos ‘in loco’, lançando mão dos recursos regionais e aplicando-os de modo a obter o máximo efeito”.

Professor da da Faculdade de Arquitetura de Urbanismo da UFJF, o arquiteto Fábio José Martins de Lima explica em sua tese de doutorado que o conjunto de edificações que compõem os parques nacionais do Iguaçu e de Itatiaia, no Rio de Janeiro (também assinado pelo mineiro), privilegiaram, antes de tudo, as interações com a natureza.

Em Foz, além do hotel, Murgel concebeu também a sede administrativa do parque, a residência do diretor e o primeiro aeroporto local, inaugurado em 1941, em meio à Segunda Guerra. Já as movimentações para a construção do hotel só começaram nos anos 1950, em parte por consequência da proibição dos jogos de azar, que fechou o Hotel Cassino, até então o único à altura dos turistas endinheirados que apareciam por lá.

Oito anos depois, em 1958, o Hotel das Cataratas finalmente abriu as portas. Inicialmente, sob responsabilidade de uma hoteleira nacional que logo desistiu da operação, assumida então pela Real Transportes Aéreos, uma companhia aérea paulista adquirida pela Varig logo em seguida. A Rede Tropical de Hotéis, divisão de hotelaria da companhia aérea, gerenciou o hotel até 2007, quando ele foi licitado novamente e assumido pelo grupo Belmond.

Em 2018, toda a rede Belmond foi comprada pelo grupo LVMH, dona da Louis Vuitton, incorporando a administração do Hotel das Cataratas ao império de Bernard Arnault, que em dezembro de 2022 ultrapassou Elon Musk e se tornou o homem mais rico do mundo.

Atualmente, o Belmond Hotel das Cataratas conta com 187 suítes, que incluem desde pequenos apartamentos de 24 m² à espaçosa Suíte Cataratas (65 m²), com sala de estar e quatro varandas.

Os hóspedes contam ainda com piscina, bar, dois restaurantes, spa e, como bem destacou o guia da Forbes, “um excelente escritório de viagens interno que organiza passeios de safári na floresta tropical, observação de pássaros, rafting e passeios de helicóptero pelas cataratas.”

Fonte: Folha de S.Paulo