Cidades não querem voltar a receber turistas em excesso depois da pandemia

A queda abrupta na visitação de destinos muitos populares pelo mundo revelou de forma mais evidente o impacto que o turismo de grande escala causa no ambiente e na vida dos moradores.

Em Veneza, a interrupção na chegada de navios de cruzeiro e a falta de visitantes deixou os canais da cidade, normalmente turvos, com água transparente.

Na Espanha, em Barcelona, moradores puderam aproveitar as praias da cidade e o parque Guell, projetado por Antoni Gaudí (1852-1926), como faziam em sua infância. Por causa da grande quantidade de visitantes, muitos haviam deixado de visitar esses locais, relatou reportagem da agência de notícias AFP.

Em Amsterdã, a prefeita da cidade, Femke Halsema, afirmou no final de maio temer um retorno rápido da atividade turística, porque a cidade não teria espaço suficiente para manter o distanciamento social com tantos visitantes (18,4 milhões em 2019).

A diretora da organização de divulgação turística de Amsterdã, Geerte Udo, também disse que espera atrair o “tipo de certo de visitante” depois da pandemia. A cidade quer atrair turistas interessados em sua história e cultura e se afastar da imagem de um local para festas, prostituição e consumo de drogas.

Para Helena Araújo Costa, coordenadora do Laboratório de Estudos em Turismo e Sustentabilidade da UNB (Universidade de Brasília), a visão desses destinos vazios pode ajudar a amadurecer a construção de um turismo mais equilibrado. “Se para nós já foi impactante ver as imagens da água limpa nos canais de Veneza, imagina para os moradores?”, diz.

Segundo Trícia Neves, sócia-diretora da consultoria em turismo Mapie, há um movimento de reapropriação de destinos por moradores da região, como em Gramado, que está sendo visitada em sua maioria por gaúchos aos fins de semana.

“Isso pode ter impacto na relação dos moradores com o turismo, e eles podem ser os catalisadores de movimentos que limitem o volume de pessoas e tragam equilíbrio entre o ambiente e as viagens.”

Num primeiro momento, um turismo menos massificado será necessário para que a retomada da atividade seja segura do ponto de vista sanitário e novos fechamentos não sejam impostos.

Fonte: Folha de S.Paulo