Costa Chica é a meca de surfistas, hippies e místicos no México

Ao desembarcar no aeroporto de Puerto Escondido, no estado de Oaxaca, na costa mexicana do Pacífico, chamei um táxi e segui na direção noroeste, passando por plantações de papaia e colinas baixas e rochosas.

Meu plano era passar cinco dias saltando de um enclave costeiro a outro na Costa Chica, que se estende do estado vizinho, Guerrero, até a metade do litoral de Oaxaca. 

Minha família visita há tempos a região, famosa por suas ondas ideais para o surfe

Muitas vezes imaginei se as ondas mortíferas que atraíram meu pai e meus tios —mas tornam as praias arriscadas para banhistas comuns— salvaram a área de um desenvolvimento imobiliário ao modo de Cancún.

A Costa Chica cresceu de modo lento e orgânico. Sua economia, por muito tempo baseada na agricultura e na pesca, agora inclui uma dose modesta de turismo. O acesso é difícil (não há voos internacionais diretos), mas isso acaba sendo uma atração.

As pessoas vão a essa parte do litoral por alguns motivos. Além de suas cidades boêmias, a cena cultural inclui a arte e a arquitetura da Casa Wabi, em Salina Cruz, um espaço de exposição em estilo modernista projetado pelo arquiteto japonês Tadao Ando.

Também há uma comunidade gay na cidade de Zipolite e adeptos do new age e da ioga na vizinha Mazunte.

Ainda no táxi, peguei uma estrada que terminava em um areal, em Salina Cruz. O motorista apontou para um portão perdido em meio à vegetação. Lá, escondida, estava minha acomodação para a noite.

Era uma cabana minúscula, a Casa Tiny, com a qual eu vinha sonhando. As fotos da estrutura simples, que pode ser alugada via Airbnb, ficaram na minha memória. Lá estava eu, no espaço inspirado pelo filósofo e escritor Henry David Thoreau (1817-1862) —cópias de seu clássico “Walden”, em diversos idiomas, ocupavam uma estante.

O horário mais quente do dia estava chegando, momento ruim para caminhar. Mas eu estava com fome. Tomei um caminho que atravessava uma plantação de cactos, em direção ao oceano.

Cheguei ao Escondido, um hotel-butique com diárias que custam US$ 325 (R$ 1.410). Encontrei um canto fresco, sob um ventilador, pedi uma piña colada e comida para viagem.

Enquanto esperava, fui até a Casa Wabi, ao lado, que já estava fechada, mas o pessoal do hotel disse que eu poderia ir mesmo assim.

Entrei por uma abertura na cerca e andei em meio a um labirinto de arbustos. Algumas estruturas eram visíveis em meio àquele mar de verde —um pavilhão de argila e um edifício retangular negro com cara de museu modernista.

Se a Casa Wabi tem ar cosmopolita, minha parada seguinte, Brisas de Zicatela, é uma cidade boêmia dedicada ao surfe. Após viagem de 40 minutos, fui deixada em La Punta —o nome que os locais dão para a área logo ao sul da cidade de Puerto Escondido.

Nos dois dias seguintes, me acomodei sob um guarda-sol na sua badalada praia, observando as pessoas. Tomei um coquetel de mescal em um bar e comi em um restaurante de um casal argentino. Vi praticantes de body-board sendo derrubados pelas ondas. Não ousei entrar na água.

Então, rumei para Zipolite, conhecida por sua praia nudista, uma das poucas no país  em que a prática é permitida.

Aceitei o conselho de um funcionário do hotel em que estava, a Casa Sol Zipolite, e fui à Pizzeria de Mazunte (a área em torno de Zipolite é repleta de restaurantes italianos).

Na mesa ao lado, havia um grupo de, imaginei, estudantes estrangeiros em férias. Puxei conversa com uma jovem de Londres. Ela disse que estava lá para “trabalhar em seu trauma” —provavelmente era hóspede de um dos centros espirituais e de cura da região.

Nos meus cinco dias na Costa Chica, me impressionei com as diferenças entre os lugares —alguns dos poucos pontos de esquisitice restantes na costa do México. Embora seja tentador descartar esses locais como algo que “não é o verdadeiro México”, eles são espetacularmente variados. Como o México.

Tradução de Paulo Migliacci

Fonte: Folha de S.Paulo