Disney fecha a Splash Mountain, e fãs vendem água do brinquedo

A Splash Mountain foi uma das atrações mais populares do Disney World por 30 anos. Por isso, quando o brinquedo, que envolve deslizar em um carrinho em forma de tronco por canaletas cheias de água, fechou de vez, no fim de janeiro, em vez de dizer adeus, alguns fãs da Disney se viram diante de uma questão intrigante: quanto é que alguém se disporia a pagar por um saco plástico contendo água da Splash Mountain?

Muitos fãs esperaram durante horas na fila, durante o final de semana, para um último mergulho por uma altura equivalente a cinco andares, no parque localizado perto de Orlando, Flórida, e depois do fechamento começaram a surgir no eBay ofertas daquilo que os vendedores descreviam como pequenas quantidades de água da Splash Mountain, que utilizava o equivalente a 3,6 milhões de litros de água.

Os preços variavam de US$ 8,50 (R$ 42,41) a US$ 25 (cerca de R$ 125) por um saco plástico contendo “água da Splash Mountain”, de acordo com o que estava escrito em caneta hidrográfica preta nas embalagens, que também incluíam um desenho de gotas de água, para enfatizar o conteúdo.

Uma das ofertas mostrava uma garrafa reutilizável que supostamente continha 300 mililitros de água recolhida no último dia de operação do brinquedo, por US$ 7,99 (R$ 40). Outro vendedor anunciava 120 ml de água da Splash Mountain, em um frasco de vidro, por US$ 149,95 (R$ 748).

As ofertas dos fãs surgem em um momento no qual a Disney vem tentando apagar a história racista do brinquedo, cujo tema é o filme “A Canção do Sul” (1946), que a companhia não disponibiliza em qualquer formato há mais de 35 anos.

Quando o brinquedo for reaberto no ano que vem, Br’er Rabbit e outros personagens do filme terão desaparecido, substituídos por personagens e temas de “A Princesa e o Sapo“, um filme de 2009 da Disney. O brinquedo terá um novo nome, Tiana’s Bayou Adventure. Plano semelhante está sendo adotado para a Splash Mountain da Disneylândia, na Califórnia, embora este segundo brinquedo por enquanto continue funcionando.

Adrian Vasquez, 28, que já visitou a Splash Mountain mais de 200 vezes, disse que não ficou minimamente surpreso ao ver as ofertas de água do brinquedo no eBay.

“A comunidade Disney pode ser bem esquisita, às vezes”, disse Vasquez, 28, que afirma não ter levado quaisquer suvenires de sua última visita à Splash Mountain.

A Disney anunciou seus planos de mudança em 2020, durante o acerto de contas nacional desencadeado nos Estados Unidos pelo assassinato de George Floyd.

“Canção do Sul”, que era ambientado em uma fazenda da Geórgia depois da guerra civil americana, misturava trechos de animação e trechos de ação com atores de uma forma inovadora para a época, e ganhou um Oscar pela canção “Zip-a-Dee-Doo-Dah”.

Mas os críticos do filme há muito tempo afirmavam que a história —baseada em livros de Joel Chandler Harris, um folclorista branco que recolheu contos tradicionais afro-americanos e os atribuiu ao tio Remus, um personagem fictício— romantizava a escravatura e promovia estereótipos racistas.

Bob Iger, presidente-executivo da Disney, declarou em 2020 que o filme jamais seria oferecido no Disney+, a plataforma de streaming da empresa, porque “não era apropriado para o mundo de hoje”.

Quando os brinquedos forem reabertos nos parques, no ano que vem, os visitantes encontrarão a princesa Tiana, a primeira princesa negra da Disney, e Louis, o jacaré, que estarão se preparando para sua primeira apresentação no Mardi Gras. “O novo conceito é inclusivo”, disse a Disney em 2020. “Endereça-se à diversidade dos milhões de pessoas que visitam os nossos parques todos os anos”.

Natural do centro da Flórida e hoje morador de Tampa, Vasquez disse que cresceu indo ao parque, e que a Splash Mountain foi o seu primeiro “brinquedo de crianças grandes”. Ele chegou a trabalhar lá, em 2015, quando estava na universidade.

“Até as pessoas que me treinaram lá disseram que o material de origem era racista”, ele afirmou. “É apropriado que uma atração baseada em um filme que retrata negativamente as pessoas negras seja substituída pela primeira princesa afro-americana da Disney. Essa mudança representará um grande avanço para muitos fãs não brancos da Disney, que buscam mais representação nos parques”.

Ele disse que esperava que o novo brinquedo oferecesse as mesmas emoções, mas quis se despedir do original no dia do fechamento.

E assim, de manhã, Vasquez chegou 45 minutos antes da abertura do parque para o público, que aconteceria às 9h, e depois participou do que descreve como “corrida de cinco mil metros” até a Splash Mountain —uma multidão de visitantes correndo em busca de uma vaga para um último passeio.

De acordo com o jornal The Orlando Sentinel, alguns visitantes passaram cinco horas na fila, que parecia interminável. Um grupo de fãs entoava “splash! Splash! Splash!”, quando os troncos entravam nas calhas para começar o passeio. Funcionários da Disney fizeram a última descida no brinquedo, e foram aplaudidos pelos fãs encantados.

“Havia alguma tristeza, mas também um sentimento de celebração no ar”, disse Vasquez. Ele contou que fez três passeios no último dia de funcionamento, em um deles acompanhado por sua mãe.

“Foi um pouco triste, mas também muito divertido”, ele disse.

Fonte: Folha de S.Paulo

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