Em Miami, roteiro de arte e gastronomia atrai quem busca overdose de estímulos

Uma possível escolha de Miami como destino turístico está ligada à sua potente capacidade de alteração dos sentidos sem que precisemos recorrer a qualquer tipo de trago ou meditação mais profunda.

Talvez por existir no imaginário a ideia de um paraíso tropical diferente, no qual os prazeres sempre estiveram relacionados às experiências de consumo.

Hoje bem mais cosmopolita do que aquela cidade pintada pelo cenário art déco de “Miami Vice” nos anos 1980, a nova Miami tem se reinventado desde o início dos anos 2000, quando recebeu a renomada Art Basel.

A influência da arte na renovação urbanística é notada em três bairros ao norte do centro: Wynwood, Allapatta e Design District reúnem galerias, museus e instalações que ocupam espaços antes considerados pouco atraentes.

Para muitos, caminhar pelas ruas de Wynwood pode ser comparado a se perder entre as salas de um museu. Não há uma parede sem interferência artística. Grafites brilhantes e colagens coloridas tomaram conta das fachadas de antigos galpões, prédios de escritórios e até repartições públicas, dando origem a uma galeria a céu aberto —referência mundial.

Entre as obras nas ruas ou dentro do quarteirão restrito a pagantes (o centro Wynwood Walls cobra US$ 12 pelo acesso), nota-se o forte apelo por temas sociais, em especial aos dramas que atingiram o próprio bairro antes da valorização imobiliária —Wynwood era lar de imigrantes porto-riquenhos que até meados de 2000 sofriam com a xenofobia e com a extorsão de gangues.

A meia hora dali ficam os museus de Allapatta. O Superblue (US$ 36) é o mais novo deles, inaugurado em maio de 2021. A instituição se autodenomina “centro de arte experimental para obras gigantes”.

O espaço de 5.000 metros quadrados abriga instalações nas quais o visitante experimenta espanto, euforia e até confusão mental, a depender da imersão que cada obra propõe.

Aos que preferem uma arte mais profunda, basta atravessar a rua e entrar no Rubell. O espaço é bem mais antigo, criado em 1990 pelo casal de colecionadores Mera e Donald Rubell.

Considerado um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do país, a coleção reúne mais de 7.000 obras dos últimos 50 anos, incluindo trabalhos de Jean-Michel Basquiat.

Para quem não dispensa a gastança, o Design District e o shopping Brickell City Centre podem fechar o roteiro, com uma mistura um tanto forçada de arte, moda e gastronomia.

No Design District, enquanto um bon-vivant vestindo regata estaciona sua Ferrari, uma galeria ostenta uma tela de Picasso de portas abertas. Do outro lado da rua, o restaurante coreano Cote exibe sua estrela Michelin na fachada.

No shopping, o luxo é mais contido, mas há lojas de todas as grifes e a Avant Gallery. Ao notar a presença de brasileiros, a gerente Anna Serova sorri e comenta: “Brasileiro curte arte, mas não compra”.

O jornalista viajou a convite de Greater Miami Convention & Visitors Bureau

Fonte: Folha de S.Paulo