Em viagem pela Colômbia, grupo de mulheres conhece cidades e a liberdade

Em 2020, o blog trouxe o relato da Rebecca Alethéia, uma enfermeira que viajou por vários lugares, principalmente na África.

Mulheres negras viajantes existem e resistem diariamente pelas estradas, rodoviárias, ferrovias e aviões“, escreveu ela em seu relato.

Rebecca gosta tanto de rodar o mundo que criou uma agência, a Bitonga Travel, que leva outras mulheres negras para conhecer os lugares.

Desde 2018 foram várias expedições, como a que Giselle Christina conta abaixo, quando seis mulheres que não se conheciam viajaram por 20 dias para a Colômbia e para cidades do norte do Brasil.

Além de falar sobre uma “liberdade nunca experimentada antes”, a socióloga pergunta: “A quem é concedido o direito a conhecer o mundo?”

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Quando conheci Rebecca Alethéia (por indicação de Ciça, mulher cearense de nascença, radicada em SP e atualmente moradora da ilha de Boipeba na Bahia) não fazia ideia de que ela concederia a mim o direito de conhecer o mundo.

Viajante inveterada, a preta é muito bem-humorada, bem-disposta e acima de tudo generosa. Não demorou muito e as peripécias de viagem dela viraram meu melhor entretenimento no final do dia, não tinha novela das 9h que batia.

Não era só ver por onde ela passou, era sentir o que ela sentia, era saborear cada comida de rua, gargalhar com as dancinhas nos monumentos e até se aperrear com os perrengues que ela passava e ainda compartilhava com a gente. Afinal, a vida da mulher negra viajante não é fácil.

Rodar com ela por esse mundo sempre curiosa para saber o próximo destino foi a minha grande diversão em 2021, mas ainda assim a mente e o coração já estavam conformados que só assistir já estava bom.

No meio do segundo semestre de 2021, Rebecca “lançou a braba”: quem quer viajar comigo põe o dedo aqui que já vai fechar o abacaxi. Mas Rebe, vamos para onde? E essa era a grande sacada, literalmente ela estava propondo um “vem comigo, no caminho eu explico”. E qual foi a minha surpresa quando disse “sim” sem nem pensar, sem fazer contas, sem escolher destino, sem controlar a minha própria vida.

Quando me dei conta estava fazendo várias coisas pela primeira vez, trabalhando insanamente em um emprego na minha área, me programando para viajar “sozinha”, me arriscando a conhecer pessoas absolutamente novas e ainda não controlando nada (sou leonina com ascendente em touro, controlo tudo o tempo todo).

Estava apreensiva, mas em nenhum momento senti medo. Eu fui acolhida e muito bem amparada, principalmente depois do choque de saber que a viagem era internacional e eu não tinha nem passaporte. Fui conduzida e até ciceroneada pelas burocracias que cercam um evento desses e acima de tudo fui inspirada por todas as mulheres que toparam essa jornada gloriosa e cheia de perrengues.

Nós viajamos ao todo em seis mulheres, e eu era a única virgem de trip, mas as trocas entre a gente foram tão genuínas e intensas que parecia que aquilo era comum para mim também.

Cada uma de nós era muito boa em alguma coisa e isso facilitou a nossa longa estadia de 20 dias perambulando para lá e para cá, tinha dia que uma estava rica e outra estava pobre (problemas de câmbio), mas nenhuma de nós passou vontade de nada, as finanças eram do grupo e todas nós nos responsabilizamos por todas as contas conjuntas. E tudo isso ainda com uma liberdade nunca experimentada antes.

Por mais que fosse uma viagem em grupo, não foi uma viagem engessada, cada uma fez o seu roteiro e assim teve gente que chegou antes, que chegou no meio, que ficou mais em determinada cidade e menos em outra. Mas mesmo assim nós estávamos juntas tomando conta uma da outra.

Acompanhar o ritmo da blogueira de viagem não é fácil e voltamos da Colômbia por terra, passando dois dias dentro de um barco até Manaus, uma das experiências mais incríveis da minha vida.

Resumindo, conhecemos seis cidades na Colômbia e duas no norte do Brasil. Rebecca ainda emendou Rondônia e Acre, mas a estreante aqui já estava sem forças e só pensava na própria cama.

De toda essa experiência eu só tenho duas certezas, mulheres pretas podem fazer qualquer coisa nesse mundo todo e que eu vou usar esse mundo todo para fazer todas as coisas.

Aviso aos passageiros 1: Aqui tem uma lista de vários viajantes negros que produzem conteúdo de qualidade e que merecem ser seguidos

Aviso aos passageiros 2: Os Barros, uma família negra, contaram sua história e seu projeto de viajar de Kombi do Brasil ao Havaí

Fonte: Folha de S.Paulo