Enoturismo na zona central de Portugal mescla tradição e modernidade

No coração do Dão, a Quinta da Taboadella conta o renascimento da primeira região vinícola demarcada de Portugal. É exemplo de como a vitivinicultura do país ganha prestígio com excelentes rótulos, ao aliar sofisticação, tecnologia e tradição.

Com suas serras majestosas, o Dão é berço de castas como touriga nacional e encruzado que, por sua vez, fazem nascer vinhos elegantes premiados dentro e fora do país.

Localizada em Silvã de Cima, em um maciço montanhoso que protege os vinhedos do ar marítimo do Atlântico e dos ventos secos da Espanha, a Taboadella é ponto de partida de uma viagem enogastronômica pela região conhecida como Borgonha portuguesa.

O empreendimento da família Amorim, também proprietária da Quinta da Vinha Nova, no Douro, tem como diferenciais vinhedos antigos espalhados por 42 hectares, uma casa de campo que ganhou o selo Relais & Châteaux e uma vinícola ultramoderna.

Com 2.500 m², a construção em madeira e cortiça inaugurada em 2020 leva a assinatura do arquiteto Carlos Castanheira. É de lá que saem 180 mil garrafas por ano de vinhos feitos a partir de castas autóctones (nativas), em um terroir de solos graníticos, que dão esplendor à produção.

O Taboadella Grand Villae Reserva, top de linha entre os tintos, e o Encruzado Reserva Branco podem ser degustados após se apreciar a sala das barricas sobre um passadiço de madeira reciclada. Destaque para as cubas de cimento. “Está na moda e traz mineralidade, amacia os taninos e deixa os vinhos mais elegantes”, diz a guia Helena Lopes.

A prova de vinhos pode ser feita no jardim que dá para um lagar romano, tanque de pedra do século 1º, que conserva a parte de prensagem da uva, buracos de filtragem e área para recolher o mosto.

A experiência se completa com hospedagem na Casa Villae 1255 (€ 3.500 por duas noites, ou R$ 18.447). O terraço da residência senhorial em pedra convida à contemplação dos vinhedos ao redor.

O Dão tem a primazia na produção dos chamados vinhos tranquilos desde 1908. A região vinícola é circundada por cinco serras.

A amplitude térmica de dias quentes e noites frescas, mais altitude, mineralidade do solo e acidez resultam em vinhos já reconhecidos. São 177 produtores com certificação de origem controlada. Maior vinícola do Dão, a Quinta de Cabriz produz 6 milhões de litros/ano de rótulos como Casa de Santar e Passo dos Cunhas.

O Paço dos Cunhas, quinta do século 17, atrai turistas em busca dos segredos de rótulos como o Vinho do Cobrador, produzido em 7 hectares de uma “vinha velha”, de onde saem 11 mil garrafas ano.

O roteiro continua pelo Santar Vila Jardim, projeto paisagístico onde se mergulha em vinhedos que originam rótulos como o Condessa de Santar e o Conde de Santar.

A visita começa pela casa do Conde de Santar e Magalhães, construção do século 16. O belo jardim da residência foi reestruturado com um vinhedo interno onde foram plantadas touriga nacional e merlot, blend do Memórias de Santar. Vinhos aromáticos e elegantes a serem degustados com delícias da gastronomia local, como o queijo da Serra da Estrela.

Leite cru de ovelha (da raça bordaleira), flor do cardo (coalho natural), sal e sabedoria ancestral são o segredo do famoso queijo amanteigado.

Qualidade que também se encontra em restaurantes de excelente cozinha regional, como DeRaiz, na aldeia de Rebordinho, a dez minutos do centro de Viseu. O casal Inês Beja e Nuno Fonte resgatou receitas das avós, como ovos verdes e pastéis de massa tenra, em um menu sofisticado.

Os jovens chefs trabalharam na cozinha do estrelado Mesa de Lemos, que ostenta uma estrela Michelin. Há quatro anos, resolveram empreender com receitas de cadernos amarelados da família.

O passeio segue pela Beira Interior, a mais alta região vinícola de Portugal, com Denominação de Origem Controlada desde 1999. Sãos 16 mil hectares de vinhedos, próximos à fronteira espanhola.

Pela autoestrada A23, chega-se à Adega 23, armazém convertido em vinícola em meio a 12 hectares de vinhedos.

Fruto da paixão da oftalmologista Manuela Carmona, natural da região e radicada em Lisboa, a vinícola floresceu em um solo de xisto com quartzo e um microclima, traduzidos na frescura do Adega 23 Reserva 2018, eleito o melhor vinho da Beira Interior ano passado.

Na histórica Guarda, cidade mais alta de Portugal, pode-se desenhar um roteiro personalizado ao visitar o Solar do Vinho da Beira Interior. São 3.100 hectares de vinhedos espalhados por 70 vinícolas.

“Temos vinhos a 800 metros de altitude, o que garante frescor e acidez”, diz Rodolfo Queiroz, presidente da Comissão de Viticultura da Beira Interior, que tem rótulos premiados como Quinta dos Termos e Quinta dos Cardos.

Com uma carta de vinhos com 530 rótulos, o restaurante Nobre é um convite para comer e beber a 1.044 metros de altitude com vista para a Sé da Guarda, catedral que levou 250 anos para ser construída.

A jornalista viajou a convite da Agência Regional de Promoção Turística do Centro de Portugal

ONDE COMER

DeRaiz Restaurante
R. da Capela, nº 13, Rebordinho, Viseu. restaurantederaiz.pt


Paço dos Cunhas de Santar
Largo do Paço de Santar, Santar. 1990.wine


Restaurante Nobre Vinhos e Tal
Largo Dr. Amândio Paúl, nº 5, Guarda, @nobrevinhosetal


O QUE VISITAR

Queijaria Vale da Estrela
Estrada Nacional 16, nº 43, São Cosmado, Mangualde. valedaestrela.pt


Vinícola Adega 23
Estrada dos Amarelos, Sarnadas de Ródão (saída 20 da A23). adega23.pt


Vinícola Santar Vila Jardim
Av. Viscondessa de Taveiro, Nelas. santarvilajardim.pt


Vinícola Quinta da Taboadella
Silvã de Cima, Satão, Viseu. amorimfamilyestates.com

Fonte: Folha de S.Paulo

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