Estremoz é chance de conhecer Portugal ‘raiz’ e tomar bons vinhos

Portugal guarda boas surpresas para turistas que não querem disputar às cotoveladas um lugar na fila do Elétrico 28, o icônico bondinho amarelo de Lisboa, e estão dispostos a explorar o interior do país.

Uma dessas surpresas é a pequena Estremoz, na região do Alentejo. A menos de duas horas de carro da capital lusitana, por meio de uma estrada que é um verdadeiro tapete, o viajante foge dos passeios badalados e tem a oportunidade de conhecer um Portugal mais “raiz”.

Aconchegante e ensolarada, a cidade é ideal para se desfrutar de sossego, viajar pela história e se deleitar com a gastronomia típica alentejana, regada a um bom vinho.

Fundada em 1258, Estremoz foi construída no entorno de uma colina, fortificada com muralhas de pedra. Quatro portas feitas de mármore dão acesso às labirínticas ruas da cidade velha. Após uma sinuosa ladeira se chega ao largo Dom Dinis, onde estão os principais patrimônios históricos da Cidade Alta, como o Castelo de Estremoz, a Igreja de Santa Maria e Santiago e a Capela de Nosso Senhor dos Inocentes.

A silhueta da colina é dominada pelo castelo, onde hoje funciona uma pousada. Sua torre, conhecida como Torre das Três Coroas, é uma das mais conservadas da arquitetura militar medieval portuguesa.

Do alto de seus 27 metros, ou 300 estreitos degraus, é possível avistar a Cidade Baixa, região mais moderna, mas que nem por isso deixa de ser antiga e cheia de ancestralidade. Se destaca na paisagem o Rossio, como é chamada a praça central, espaço mais agitado da cidade.

Nos cafés e restaurantes do Rossio, pode-se provar a autêntica cozinha regional, como a carne de porco à alentejana. Servido frito com amêijoas cozidas, o prato é preparado com o porco preto, espécie de origem ibérica. Perfeito se acompanhado de um bom vinho tinto do Alentejo.

Se hoje os vinhos alentejanos são reconhecidos, há 40 anos a história era diferente. Até os anos 1980, somente os vinhos portugueses produzidos no Porto e Douro tinham reconhecimento mundial. A produção dos agricultores alentejanos era mandada para grandes vinícolas, que faziam blends e engarrafavam vinhos genéricos.

Quem colocou Alentejo no mapa dos vinhos foi o enólogo João Portugal Ramos, 69. Ele liderou uma jovem geração de enólogos, que transformou a vitivinicultura alentejana, com a modernização do processo produtivo e criação de vinhos individuais e de origem controlada.

Foi exatamente na pequena Estremoz que, há 30 anos, João Portugal ergueu a sua vinícola, a Adega Vila Santa. Ele aproveitou a diversidade do solo local, repleto de argila branca, calcário, xisto e, principalmente, o mármore, uma das marcas da cidade, para desenvolver o seu terroir.

De lá, saem vinhos premiados como o Estremus, um dos rótulos mais prestigiados da casa que, no Brasil, chega a custar mais de R$ 1.800. Ele é produzido com uvas trincadeira e alicante bouschet, colhidas em videiras plantadas aos pés do castelo.

Além de bons vinhos, a Adega Vila Santa também oferece uma série de atividades para os amantes do enoturismo. São visitas guiadas pela vinícola, provas e almoços, com preços que vão de 17,50 a 85 euros por pessoa.

Nos meses de colheita, de setembro a outubro, quem ali chega pode participar da tradicional pisa das uvas nos lagares de mármore. Para os que não querem muito agito, os piqueniques são uma opção (45 euros por pessoa).

Um dos programas mais disputados permite ao enólogo amador se tornar profissional por um dia (45 euros por cabeça). Com a orientação da equipe técnica da adega, é possível criar blends e elaborar seu próprio vinho, com direito a grafar o nome no rótulo.

Com uma garrafa dessas em mãos, quem precisa trazer de souvenir os típicos galinhos de Portugal?

Fonte: Folha de S.Paulo

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