Eugene Levy apresenta programa para quem detesta viajar: ‘Apenas sendo muito honesto’

São Paulo

Ter um programa de viagens, por meio do qual conhecer diversas partes do mundo, se hospedar em hotéis luxuosos e visitar atrações famosas, pode parecer o emprego dos sonhos para muita gente. Mas não para o ator e comediante canadense Eugene Levy, 76.

Após encerrar a bem-sucedida “Schitt’s Creek”, pela qual levou o Emmy de ator de comédia em 2020, ele poderia, em tese, escolher o que queria fazer a seguir. Mas resolveu apostar justamente em algo que não tinha a menor vontade. O resultado é a série documental “O Viajante Relutante”, que estreia nesta sexta-feira (24) no serviço de streaming Apple TV+.

“Eu só aceitei o convite quando mudaram o conceito do programa”, revela Levy em bate-papo com a imprensa, do qual o F5 participou. “Inicialmente, seria para rodar o mundo visitando diferentes hotéis de luxo, o que deve parecer incrível para qualquer outra pessoa. Mas eu era a pessoa errada.”

O ator se define como “um péssimo viajante”. “Não gosto muito”, explica. “Não é que odeie, mas não amo. Não tenho uma curiosidade inata nem senso de aventura, então eu recusei.”

Porém, os produtores sugeriram alterar a premissa, que —vamos combinar— não era tão original assim. “Falando comigo e percebendo a minha relutância, eles acharam tão engraçado que mudaram o programa, perguntaram se eu faria se fosse um programa sobre eu não querer viajar. Eu acabei aceitando porque entendi que, dessa forma, eu poderia ser eu mesmo.”

E foi assim que nasceu essa espécie de anti-guia de turismo, em que nem tudo está sempre bem e onde o apresentador eventualmente comenta que preferia ficar na cama a conhecer alguma atração proposta pela produção. Entre os lugares visitados na primeira temporada estão Veneza, Lisboa, Tóquio e Maldivas.

Conhecido pelo bom humor, Levy garante que não está forçando a barra para parecer mais ranzinza do que realmente é. “Não criei uma persona, sendo muito sincero”, conta. “Não estou interpretando um papel. Tudo o que vocês veem sou eu tentando ser o mais honesto que posso ser, sem ofender as pessoas com quem estou lidando ou as experiências pelas quais estou passando.”

Há que se dizer que, apesar da suposta falta de vontade, o veterano não se furta de fazer nenhum passeio, por menos convidativo que possa parecer. Na Finlândia, ele dá um mergulho em águas geladas; na Costa Rica, faz uma trilha noturna em uma floresta com cobras; no estado americano de Utah, anda de helicóptero (mesmo tendo pânico de alturas); e, na África do Sul, ajuda a realizar um exame de toque retal em um elefante.

“Eu meio que abracei a causa porque essa era a natureza do programa”, afirma o ator. “São experiências que eu nunca teria escolhido fazer na vida, mas me abri para isso. E foi um grande passo para mim, porque antes eu apenas recusaria várias dessas coisas. Para que vou andar em um trenó puxado por cachorros a mais de 50 km/h em cima de um lago gelado? Por mais emocionante que seja, obrigado, mas não quero fazer de novo.”

Por outro lado, Levy apreciou as gravações nas quais foi levado a conhecer as histórias de moradores das cidades que visitou —mesmo dizendo não ser muito conversador. “Tirei um pouco a minha armadura, o que, neste ponto da vida, vejo como algo positivo”, avalia.

“Sempre fui uma pessoa meio tímida, já tive muita insegurança correndo pelas minhas veias em alguns momentos, nunca tive uma personalidade sociável em termos de puxar assunto com as pessoas”, relata. “Conversar com essas pessoas e conhecer essas culturas por meio delas me abriu os olhos. Fico feliz de levar isso comigo.”

O que ele não esperava era, em um desses encontros, ser reconhecido por uma família de fãs da franquia “American Pie”, na qual ele interpretou o personagem Noah Levenstein, o pai involuntariamente constrangedor do protagonista. “Acho que essa foi a maior surpresa de todas, porque era a última coisa que eu esperava ouvir naquela mesa”, brinca.

Fonte: Folha de S.Paulo

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