Fake news: os vinhos de R$ 52 mil que Lula nunca tomou

Nem foi empossado, o presidente eleito Lula já recebe uma saraivada de fake news que o acusam de gastar torrentes de dinheiro (decerto não seria dinheiro público).

A mais recente diz respeito a uma conta de restaurante em Portugal. O ex-famoso Roger Rocha Moreira, bolsonarista e cantor da banda Ultraje a Rigor, publicou em seu Twitter a foto de uma nota de consumo do dia 16 de novembro, emitida pelo restaurante lisboeta Solar dos Presuntos.

Escreveu Roger: “Continha do lazarento em Portugal: paella de lagosta, vinho Château Lafitte [sic] (olha o preço) e o escambau. O presidente dos pobres. Os pobres coitados otários.”.

O total em consumo foi de 9.400,60 euros, algo como R$ 51,5 mil. A mesa tomou duas garrafas de Château Lafite (1.150 euros cada) e uma de Château Petrus (5.800 euros). Os três vinhos bordaleses, somados os 23% de impostos, equivalem a aproximadamente R$ 52 mil.

O animador de auditório do Danilo Gentili se esqueceu de fazer uma conta bem básica (ou de acompanhar o noticiário): no dia 16, Lula ainda estava no Egito, para onde foi convidado para a COP 27.

Esse descaso com fatos simples é recorrente nas fake news –que não traduzíveis somente por “notícias falsas”, pois se trata de campanhas orquestradas de difamação.

Tão recorrente que a mesma nota de consumo fora utilizada para caluniar o primeiro-ministro português António Costa, que tampouco estivera no Solar dos Presuntos naquela data (e o restaurante desmentiu as fake news em seu Instagram). O bolsonarismo só plagiou a mentira da extrema direita portuguesa.

Lula é o presidente eleito, um estadista com bagagem que lhe permite beber o vinho que bem entender, contanto que a despesa não saia dos cofres públicos. Nenhum político não-petista é cobrado dessa forma. E todos são fãs dos châteaux bordaleses e de um Barca-Velha.

Ain, mas e a picanha de R$ 1.799,99 do Bolsonaro, que virou meme?

Primeiro, a picanha do Bolso é real; o vinho do Lula não é.

Segundo, Bolsonaro mereceu pela hipocrisia. É o cara que sai do banquete imperial do Japão pra posar com um saquinho de miojo no hotel. Ele também pode comer e beber o que quiser. A quebra de sigilo nos cartões corporativos vão revelar se tem alguma mutreta nesses churrascos.

Uma das fotos que circulam no Twitter mostra a tal nota do Solar com um comprovante de cartão ao lado. Outra imagem que não prova nada, por isso não vou publicá-la.

O valor teria sido pago, com gorjeta generosíssima, por um sujeito que qualquer pesquisa no Google identifica. É um grande empresário brasileiro, que certamente tem grana para tomar quantos Lafites e Petrus quiser.

Um gaiato português comentou nas redes: “Quem foi o otário que foi ao Solar dos Presuntos, pagou por uma refeição mais que um ordenado mínimo ganha num ano e não comeu presunto?”.

Pois é.

A aposta de que tenha sido brasileiro é sólida. Aliás, em Portugal, só estrangeiro jeca pede vinho francês.

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Fonte: Folha de S.Paulo

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