Feira Preta promove festival com gente preta em todos os espaços

Um festival liderado por uma mulher negra, Adriana Barbosa; empreendedores que ganham visibilidade e grana; debates importantes sobre diversos temas com a negritude como protagonista; serviços e música. O Festival Feira Preta voltou a uma edição presencial neste fim de semana no Memorial da América Latina, em São Paulo, após um hiato de dois anos em que ocorreu online. Para além dos negócios e dos shows, o evento promove o afeto entre o povo preto.

Paula Lima, que foi a primeira artista do festival em 2002, cantou em 2022 com o Balanço Black Project e resumiu o espírito do festival “gente preta em todos os espaços”, da idealização, a condução do palco, dos empreendedores, aos talks, chegando a plateia. E isso faz diferença não só pelo impacto econômico que gera, mas no espírito do evento, em como ele é conduzido, passando pelas dificuldades anuais que enfrenta há duas décadas para acontecer, mas também na entrega que promove: “Somos pretos, somos muitos”, complementou Paula Lima, resumindo o sentimento do festival.

Crianças, jovens, adultos e idosos circulavam pelos espaços diversos do evento, que é considerado o maior de cultura negra da América Latina. A chuva esteve presente nos dois dias, mas não atrapalhou a vontade de celebrar. É preciso lembrar que a Feira mudou de data por conta da Expo Consciência Negra, que ocorreu entre 18 e 20 de novembro. A Expo é organizada desde 2021 pela Prefeitura de São Paulo e lembra muito a Feira Preta, que, em geral, sempre teve apoio tímido do governo municipal.

Um dos debates do evento foi justamente sobre os festivais pretos, reunindo além da Feira Preta, representantes da Batekoo; Latinidades, que ocorre no Distrito Federal, e Petronio Alvarez, em Cali, na Colômbia. O papo foi sobre desafios, mas também sobre criatividade e as oportunidades únicas geradas. Os colombianos, aliás, foram um destaque a parte no festival desse ano, com bandas e empreendedores, mostrando a conexão da diáspora africana.

Um dos acertos da edição de 2022 foi a roda de samba que animou o público e o protegeu da chuva, deixando aquele gostinho de “quero mais”. Os seguidores mais fiéis da feira sentiram falta de samba rock e os passinhos de baile charme que animaram outras edições. Para afroempreendedores do Brasil todo, foi a oportunidade de vender, mostrar peças únicas na passarela, mas também de encontrar um público interessado em produtos com identidade.

MC Sophia, que cresceu no festival, trouxe debates em forma de música, mostrando rimas contundentes. Baiana System e Iza fecharam a programação de sábado e domingo, respectivamente, arrastando grandes públicos e empolgados por estarem cantando para uma plateia majoritariamente negra. Para quem acompanha a Feira Preta de longa data, como eu, pode sentir um evento mais maduro e dá esperar uma edição em 2023 ainda mais potente. Como bem lembra o slogan do evento: o futuro é hoje e, no caso do festival, todo preto.

Fonte: Folha de S.Paulo

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