Ilha da Madeira propõe descanso com vinhos, peixes e visitas a canais

Para quem já sentiu que precisa de férias das férias, tamanha a correria do seu roteiro de viagem, a Ilha da Madeira é uma boa opção para encerrar o tour de quem viajou pela Europa.

O arquipélago, a 1h30 de voo de Lisboa, descobriu sua vocação turística no século 18, firmando-se como destino terapêutico para a nobreza. O principal atrativo era o bom clima local, que oscila entre os 17º C e os 25º C ao longo do ano.

Bem consolidada entre viajantes vindos do velho continente, a Madeira busca agora atrair turistas do outro lado do Atlântico –americanos, canadenses e brasileiros (ambição que seu nativo mais ilustre, o jogador Cristiano Ronaldo, abraçou).

O diferencial do arquipélago em relação às capitais europeias é a proposta: desacelerar. Trilhas, observação de golfinhos e baleias, gastronomia e degustação de vinhos —com destaque para a invenção local, o Madeira— estão entre os principais passeios.

São quatro ilhas: Madeira, Porto Santo, Desertas e Selvagens, mas apenas as duas primeiras são habitadas.

A capital, Funchal, concentra a maior zona hoteleira do arquipélago. As opções de hospedagem vão de Airbnbs (há quartos a partir de R$ 48 a diária) a resorts de luxo, como os da rede Savoy.

Nas charmosas ruas estreitas do centro da cidade, há cafés, bares e restaurantes. Um destaque é a Fábrica de Santo Antônio, onde se encontra bolachas e biscoitos artesanais, além do típico bolo de mel, feito com melado de cana, nozes e especiarias.

Andando mais um pouco, chega-se ao Mercado dos Lavradores, onde a Madeira exibe sua grande diversidade de frutas e legumes frescos para os turistas britânicos, alemães e nórdicos, que dominam a ilha.

Embora o brasileiro não encontre ali tanta novidade —é preciso inclusive ficar atento ao golpe da fruta, que se repete também nessas bandas—, a visita mercado de peixes vale muito. Lá se vê o feioso, mas saboroso, peixe-espada-preto, típico da região.

Peixes e frutos do mar, aliás, dominam a gastronomia, mas não sem competição. As espetadas madeirenses –literalmente carne espetada em galhos de loureiro– são uma excelente pedida para variar o cardápio.

Os loureiros fazem parte da floresta laurissilva, considerada pela Unesco patrimônio natural mundial em 1999. Madeira, Canárias, Açores e Cabo Verde são os únicos locais em que essa vegetação sobreviveu.

Para beber, o doce vinho da Madeira é incontornável –em pequenos e cautelosos goles, no entanto, dado seu alto teor alcoólico. Há também diversos vinhos de mesa produzidos localmente, nas videiras plantadas em terraços (o terreno da ilha é acidentado), que ocupam a paisagem. Uma degustação sai por 15 euros por pessoa na Quinta do Barbusano.

A Festa do Vinho, um dos muitos eventos do calendário local, ocorre em agosto, quando começa a colheita. A atividade pode ser aberta a turistas.

Saindo de Funchal, na Câmara de Lobos (em referência à foca-monge do Mediterrâneo, uma das espécies mais raras do mundo, hoje encontrada apenas na ilha Desertas), deve-se provar a poncha, espécie de prima da caipirinha e que leva originalmente aguardente, mel e limão.

Os pescadores locais foram os responsáveis pela criação do drinque e pelas xavelhas, como são chamados os barcos coloridos atracados no cais. A paisagem pitoresca foi pintada por Winston Churchill, durante sua estadia na ilha em 1950, o que explica a estátua em homenagem ao primeiro-ministro britânico por ali.

As paisagens, aliás, são um ponto alto do arquipélago. Ainda em Câmara dos Lobos, é possível visitar o Cabo Girão, um mirante situado a 580 metros de altura. Sua plataforma de vidro suspensa permite uma vista completa da falésia.

Também dá para vê-lo de baixo, em um dos catamarãs que percorrem a ilha em busca de golfinhos e baleias. Quem tiver pique, vale fazer o passeio já com roupa de banho, uma vez que os barcos costumam parar por ali para um mergulho.

Turismo ativo e de aventura

Tanta comida e bebida pedem um passeio pelas levadas, sistema de irrigação implantado nos primórdios da ilha e que funciona até hoje para escoar a água dos pontos mais altos da região.

Nesse sistema, moradores têm direito a desviar a água da levada para a sua propriedade por uma certa quantidade de horas, proporcional ao tamanho da terra. Um slot de uma hora a cada 15 dias, por exemplo, custa 16 euros por ano.

Os canais estreitos são acompanhados por caminhos, originalmente pensados para sua manutenção, e que hoje também fazem as vezes de trilhas pela floresta laurissilva. São cerca de 3.000 km de percursos disponíveis.

Um dos mais procurados é o das 25 fontes, com cerca de 7 km de extensão (sem subidas, para a alegria dos sem fôlego) e um túnel no meio (com água suficiente para molhar o tênis, para a tristeza dos friorentos).

Para esse passeio, vale chegar cedo, porque logo os caminhos se enchem de turistas. Segundo os guias, o melhor mês do ano para as trilhas é setembro, e os piores, janeiro e fevereiro, em razão das chuvas. No caminho é possível avistar muitos passarinhos e trutas, inseridas pelos portugueses nos canais como método para verificar a qualidade da água.

Os mais aventureiros podem se interessar também pela caminhada “acima das nuvens” do Pico do Areeiro para o Pico Ruivo, que liga as três montanhas mais altas da Madeira. O trajeto tem cerca de 10 km de extensão e é feito em seis horas, acompanhado por um guia (a partir de 37 euros por pessoa na Adventure Kingdom).

Além das trilhas, atividades como trekking, canyoning, escalada e asa-delta também acontecem na ilha.

Embora seja uma ilha, praias não são o forte da Madeira. Algumas opções são a da Calheta e Machico (com areia importada do Marrocos), a do Seixal (de areia negra) e Formosa. Em contrapartida, há muitas piscinas naturais, como as de Porto Moniz.

Quem procura um destino praiano mais próximo do que conhecemos no Brasil, deve visitar Porto Santo. A ilha é acessível por avião ou ferry, partindo de Madeira.

Fonte: Folha de S.Paulo