Istambul alia cultura moderna a tradições em meio à negociação entre Rússia e Ucrânia

Palco das negociações da guerra entre Rússia e Ucrânia, Istambul (Turquia) tem registrado queda do número de turistas dessas regiões e, ao mesmo tempo, buscado atrair mais visitantes de outros países aliando cultura contemporânea com antigas tradições.

Com um pé na Europa e outro na Ásia, a antiga capital de Bizâncio e do Império Otomano tem a vantagem de reunir na sua península histórica inúmeros monumentos a uma curta distância uns dos outros. É uma cidade lendária, mas, ao mesmo tempo com ares, tamanho e comportamento de capital, mesmo sem ser.

Desde o ano passado, Istambul passa por uma série de renovações que trouxeram vida nova à cena artística. Um exemplo é a reinauguração do Centro Cultural Atatürk (AKM), um grande complexo que reúne teatros, museu, galerias, salas de música, cinema e biblioteca.

O destaque principal é a Opera Hall, uma esfera gigante coberta com 15 mil peças de cerâmica vermelha que guarda uma sala de concertos com capacidade para mais de 2.000 pessoas. Criada como uma homenagem à cerâmica do antigo edifício AKM, os ladrilhos foram feitos à mão por uma associação de mulheres.

A obra está dentro de um projeto maior do Ministério da Cultura, que deseja criar uma “Rota da Cultura” no distrito de Beyoğlu. Também ano passado, entrou em cena o Galataport, um porto de cruzeiros que conta com lojas, restaurantes, bares e uma área de caminhada ao longo do estreito de Bósforo.

Uma semana em Istambul é o desejável para conhecer os principais atrativos, segundo os guias locais, mas, no meu caso, foram apenas dois dias úteis. E, acreditem, com uma certa organização, é possível visitar os locais ícones da cidade.

A começar pela área que abriga o sítio arqueológico urbano de Sultanahmet, onde está a Hagia Sophia, incluída na lista de patrimônios mundiais da Unesco. Se for mulher, lembre-se de ter na bolsa um lenço para cobrir a cabeça sempre que for entrar em alguma das 3.000 mesquitas que existem em Istambul.

Construído no século 6, funcionou como igreja por 916 anos. Em seguida, serviu como mesquita durante quase 500 anos e depois como museu por 86 anos. Em julho de 2020, uma decisão do tribunal turco autorizou o uso novamente como mesquita. O monumento permanece aberto a visitantes nacionais e estrangeiros.

Neste mês, primeira vez em 88 anos, as orações do período de Ramadan, o mês sagrado dos muçulmanos, voltaram a ser realizadas no local, após um atraso de dois anos devido à pandemia de Covid-19.

A Mesquita Azul fica bem perto da Santa Sophia. Está em obras, mas vale a pena entrar para admirar a tonalidade azul que vem dos milhares de azulejos em desenhos geométricos e florais que decoram as paredes.

O Hipódromo também está a poucos metros dali. Construído sob o reinado do imperador bizantino Septimus Severus, funcionava principalmente como um centro esportivo, onde as corridas de bigas e circos serviam de diversão.

No período otomano, o local da arena tornou-se uma praça pública e hoje abriga vários monumentos, como o obelisco egípcio e a coluna serpentina em forma de três serpentes de bronze entrelaçadas.

Uma caminhada de dez minutos e chega-se ao Bazar das Especiarias, um dos melhores locais da cidade para comprar produtos típicos, como temperos, ervas para chás, frutas secas, castanhas e doces.

Assim como em qualquer lugar de compras na Turquia, o negócio ali é pechinchar. Sem nenhuma habilidade para isso, esta repórter pediu ajuda ao guia e conseguiu desconto de 50% em um jogo de chá.

À tarde, uma opção é um passeio de barco pelo Estreito de Bósforo. Mas se a ideia é continuar nas compras, o Grand Bazaar está a menos de 1 km dali. Aberto em 1461, conta com mais de 4.000 lojinhas, distribuídas em 60 corredores.

Um outro roteiro recomendado é a partir da praça Taksim, onde fica a famosa rua İstiklal, com 2 km de extensão. O local abriga arcadas neoclássicas com uma variedade de lojas, restaurantes, confeitarias e pubs.

Ainda na rua İstiklal, vale uma visita à maior igreja católica romana em Istambul, a St. Antoine. O edifício original foi construído em 1725 e seu sucessor, o projeto atual, entre 1906-1912, no estilo neogótico veneziano. A igreja é administrada por padres italianos.

Mais uma curta caminhada e chega-se à Torre Gálata, construída em 1348 pelos genoveses. Foi a estrutura mais alta da cidade durante séculos. Hoje, oferece uma impressionante vista de 360 graus de Istambul.

Reserve uma tarde para visitar o Palácio Topkapi, que foi a casa imperial otomana por um período de quase quatro séculos. Transformado em museu em 1924, o local reúne uma série de pavilhões, imensos pátios, além de harém e tesouro imperial.

No mesmo complexo, está o Museu Arqueológico de Istambul. Ali você vai encontrar raridades como o primeiro poema de amor do mundo e o sarcófago de Alexandre, o Grande.

No fim do dia, tente assistir a uma apresentação de dança sufi dos Derviches Rodopiantes. Conhecida como Sema, é uma das cerimônias mais populares da Turquia.

Sem balão na Capadócia, invista nas cavernas e oficinas de tapetes e cerâmica

Os passeios de balão, que custam entre 130 e 150 euros, são considerados o cartão postal da Capadócia, região localizada a cerca de 700 km de Istambul. Mas prepare-se: em até 120 dias por ano os voos podem ser cancelados devido às condições climáticas, especialmente os ventos fortes.

Por isso, os guias recomendam que os turistas reservem ao menos cinco dias na região caso não queiram sair dali sem viver essa experiência. Se não for possível, o que foi o meu caso, invista nas inúmeras outras atrações que esse território de aspecto lunar, que já serviu de cenário para um dos filmes de “Star Wars”, de George Lucas, pode oferecer.

As formações rochosas que se assemelham a cogumelos, conhecidas como “chaminés de fada”, estão por toda a parte. As cavernas escavadas nas rochas formadas a partir de lava vulcânica abrigam casas, igrejas, algumas com afrescos bizantinos muito bem preservados. Sob o chão, há cidades inteiras escondidas.

Uma das principais atrações é o museu a céu aberto de Göreme, listado como patrimônio mundial da Unesco. A região reúne um número enorme de igrejas e capelas escavadas nas rochas, que datam dos séculos 9º ao 12. A Capela Escura (Karanlık) é uma delas.

A falta de luz fez com que o local mantivesse os seus afrescos bíblicos em ótimo estado de conservação. Na capela de Santa Catarina, há uma representação de São Jorge​, que teria nascido na região em 280 d.C., lutando com o que parece ser uma serpente gigantesca —e não um dragão.

O castelo de Uçhisar é a maior e mais alta “chaminé de fada” da Capadócia. Ali, os romanos construíram casas, depósitos, cisternas e tumbas. Paşabağı é outra parada obrigatória.

Em uma das chaminés, de três cabeças, há uma capela dedicada a São Simeão e um abrigo de eremitas. Eles escavaram a rocha de cima para baixo, criando salas de 10 a 15 metros de altura. Dormiam em camas feitas de pedra e eram alimentados pelos habitantes locais por meio de baldes abaixados em cordas.

Localizada ao sul de Nevşehir, a cidade subterrânea de Kaymaklı remonta a 3000 a.C e é considerada a maior cidade subterrânea da Capadócia.

Apresenta um labirinto de túneis e salas esculpidas em oito níveis de profundidade na terra, mas apenas quatro deles podem ser visitados no momento. Esses buracos gigantes foram habitados por minorias religiosas que os usavam como esconderijo em tempos de perseguição.

Os cristãos, por exemplo, viviam do lado de fora dessas cavernas e só iam para debaixo da terra quando eram atacados pelos romanos. Possuíam vários compartimentos para estoque de comida. Com isso os refugiados conseguiam uma autonomia de até seis meses, sem sair da caverna.

Até animais eram criados ali dentro. Em Kaymaklı, o primeiro andar era usado como estábulo, enquanto os outros níveis incluem alojamentos, uma igreja e até sepulturas.

Se sobrar tempo, inclua no roteiro uma oficina de cerâmica em Avanos. Ali é possível aprender a arte de moldar o barro e fabricar peças feitas à mão, que depois são coloridas em tons terrosos e turquesa.

Nas oficinas de tapetes, também em Avanos, as aulas ensinam desde como extrair o fio do casulo do bicho-da-seda, passam pelo tingimento, escolha dos desenhos e tecelagem fio a fio.

Há produtos para todos os gostos e bolsos, com tapetes confeccionados com fios de algodão, de lã e de seda. Alguns demoram até dois anos para ficarem prontos e podem custar dezenas de milhares de euros.

Antes de começar explorar a região, atente-se para algumas dicas importantes:

  • Tenha sempre em mãos uma garrafa de água e protetor labial. Entre abril e outubro, o calor é intenso e o tempo muito seco.
  • Alongue-se bastante. Para entrar nas cavernas e conhecer os vales, é preciso subir, descer, escalar, abaixar e caminhar muito.
  • Carregue uma lanterna. Algumas igrejas escavadas têm afrescos escondidos em cantinhos escuros.
  • Caso prefira evitar as agências de viagem, é fácil se virar sozinho, desde que tenha um carro. As estradinhas são bem sinalizadas, as atrações têm audioguias e estão concentrados numa área relativamente pequena.

Fonte: Folha de S.Paulo