Monte das Gameleiras, no Rio Grande do Norte, tem ar europeu e frio de montanha

Repetidas bicadinhas na janela e o canto de um pássaro invadem o quarto em Monte das Gameleiras, no Rio Grande do Norte. O dia, lá fora, já está claro, montanhas revelam diferentes formatos no horizonte e os sons, dessa e de outras aves, são os únicos despertadores.

A tranquilidade na região e as paisagens de serra, com pedras gigantes, somam-se a temperaturas que já registraram, no inverno, mínimas de 13ºC. O município, com cerca de 2.000 habitantes, está localizado 500 metros acima do nível do mar e a 123 km de Natal.

É o ponto mais alto de um roteiro chamado Paraísos do Agreste e, nele, destaca a guia Mara Marques, os turistas procuram o mesmo que ela buscou quando chegou há quase uma década: “Sossego,
charme e o clima maravilhoso”.

Visitantes —principalmente de Natal, Paraíba e Pernambuco—, movimentam o turismo, visto ainda como emergente. Holandeses que passam pela praia de Pipa e outros estrangeiros também já incluíram Gameleiras na rota.

A Europa tem sido não só origem de turistas, mas inspiração para hospedagens, que começam a se multiplicar.

Uma lei municipal de 2015 reconheceu parte da região como “vila rural holandesa”. A referência principal foi a primeira pousada a abrir, exibindo, até hoje, um grande moinho de vento, arquitetura e tamancos típicos do país europeu, aquecedores e uma lareira no restaurante.

A temperatura, que é quente de dia e fria à noite, a hospitalidade e as pedras que enchem os olhos levaram o advogado e empresário Júnior Gurgel a fazer um investimento.

Ele havia morado na Holanda e, de volta ao Brasil, decidiu usar a referência no espaço, em operação desde 2010.

Outros meios de hospedagem remetem a países nórdicos, como uma cabana suíça, inaugurada em janeiro deste ano, e o primeiro domo geodésico, concluído em novembro.

O empreendimento tem ocupação garantida em todos os finais de semana até junho. “Agora, estamos preparando mais dois domos e a previsão é que até agosto eles estejam prontos”, afirma
o administrador Caio Jorge.

O desembolso é estimado em R$ 3 milhões e a inspiração veio de iglus da Noruega.

Para viagens de bate e volta ou estadias que duram em média quatro dias —com diárias a partir de R$ 160 a pacotes que podem chegar a R$ 1.400—, Monte das Gameleiras tenta despontar em meio a destinos badalados.

“O pessoal vem muito para esse lado por conta da Pedra da Boca (formação rochosa de aproximadamente 336 metros de altura, na divisa do RN com a Paraíba), aí não tem ideia do que a gente tem aqui para cima. E, quando chega até aqui, fica ‘poxa vida eu não sabia que tinha tanta coisa bonita’”, diz Marques, enquanto espera a próxima trilha.

Os passeios mais famosos no município levam às pedras gigantes que lembram, por exemplo, um navio. E até uma história de amor.

O roteiro mais longo tem cerca de 5 km e inclui a Pedra do Cruzeiro, ponto mais alto da região e onde está a igrejinha de Nossa Senhora da Boa Saúde.

A construção de um mirante na área terá investimento de R$ 1,5 milhão e previsão de entrega para o fim do ano, segundo o vice-prefeito da cidade, Demar Ferreira.

“O fluxo no inverno aumenta e muito. Todas as pousadas têm sua ocupação de quase 100%. E, no verão, não temos do que reclamar”, afirma o empresário Júnior Gurgel.

A pousada de Gurgel foi aberta quando o roteiro turístico ainda nascia. Para descrever o momento que o setor vive, ele cita conversas que tinha com um mototaxista. “Ele parava meu carro e dizia ‘neste final de semana subiram quatro carros’. Hoje, ele já não consegue fazer a conta.”

Fonte: Folha de S.Paulo