Paso Robles, na Califórnia, aguça sentidos com vinhos e banhos termais

Paso Robles surge como um oásis entre as montanhas douradas que marcam a região central da Califórnia, exatamente no meio do caminho entre Los Angeles e San Francisco. Famosa entre os entusiastas de vinhos, a cidade também atrai por aguçar outros sentidos, com banhos de águas termais e uma gigantesca instalação de arte ao ar livre.

Pelas estradinhas da cidade de 30 mil habitantes, as plantações anunciam uma região agrícola, com colinas cobertas de vinhedos a perder de vista. Estamos numa meca do vinho californiano, onde o número de vinícolas quadruplicou desde o ano 2000. Hoje, são mais de 200.

“Somos o ‘wild west’ [oeste selvagem] dos vinhos”, brinca Stacy Bonnifield, representante da Eberle Winery, citando as misturas únicas e não tradicionais de vinhos que colocaram Paso Robles no mapa com diversos prêmios.

Aqui, ela explica, a atitude é mais descontraída em comparação aos colegas mais sérios ao norte, na clássica Napa Valley.

Foi o fundador da Eberle que introduziu de forma clandestina as uvas cabernet sauvignon na região, em 1974. Ex-jogador de futebol americano, Gary Eberle largou a faculdade de medicina para se dedicar à terra em Paso Robles, rica em calcário e de clima perfeito para as uvas, com dias quentes e noites frias.

Aos finais de semana, Eberle e seus dois poodles gigantes costumam receber os visitantes na vinícola, que oferece tour e degustação gratuitas. Ele conta que a pandemia fez a casa focar em eventos online para vender seus vinhos, e trouxe a chance de realizar reformas, como remodelar o deque com vista para os vinhedos onde agora acontecem parte das degustações.

“Ao reabrir, recebemos não apenas a clientela das antigas como também gente nova de todo os EUA interessada em descobrir os vinhos de Paso Robles”, disse Eberle. “Foram dois anos de altos e baixos, mas somos gratos por estarmos ainda hoje prosperando.”

Do outro lado da cidade, a vinícola Adelaida organiza degustação no ponto mais alto da região, no topo de seus vinhedos a 700 metros de altura. Após um passeio pela propriedade, os convidados experimentam meia dúzia de criações da casa, com destaque para os “blends” de tinto (US$ 25 a US$ 100).

Paso Robles criou um mapa com sete trilhas para explorar suas vinícolas. A Vineyard Drive, por exemplo, passa por uma estrada bucólica com sete fazendas: dá para explorar os brancos premiados da Paix Sur Terre e variedades menos conhecidas na Thacher, como as uvas valdiguié e cinsault.

As azeitonas também se adaptaram bem a Paso Robles, onde ficam diversos produtores de azeite. A fazenda Kiler Ridge Olive Farm prepara degustação de azeites locais por US$ 5, num espaço ao ar livre com vista para suas oliveiras.

A experiência é uma aula de culinária. E, ao final, parece muito normal quando a anfitriã oferece uma bola de sorvete com um fio de azeite. É estranhamente delicioso.

Arte e spa ao ar livre

El Paso de Robles, nome original da cidade, significa “caminho dos carvalhos”, mas os locais chamam apenas de Paso. Originalmente habitada pelo povo indígena chumash, a região viu a chegada de missionários franciscanos e conquistadores espanhóis no século 18.

Em comum, todos aproveitavam a riqueza das fontes termais, embora hoje tenham restado poucas opções de spa com águas minerais.

O spa River Oaks Hot Springs oferece banhos privativos em jacuzzi por US$ 28 a hora (ou US$ 65 com degustação de vinhos e frutas). Há dez espaços para os banhos, cinco deles ao ar livre e com vista para a vinícola do vizinho. As jacuzzis têm jatos fortes, e a água chega a 40 graus, com um leve cheiro de enxofre.

A outra opção é a Franklin Hot Springs (entrada: US$ 8), um pequeno lago sem frescuras de spa, parte de um camping. O Paso Robles Inn, primeiro hotel da cidade e construído justamente com uma casa de banhos em 1891, oferece quartos com jacuzzi na varanda, mas sem águas termais, já que os hóspedes reclamavam do cheiro de enxofre.

Paso Robles também virou atração turística por outro motivo além de seus vinhos e águas termais. Desde 2019, quase meio milhão de pessoas já vieram ver a mega instalação “Field of Light”, do artista inglês Bruce Munro, que ocupa 15 acres de um terreno particular chamado Sensorio, vizinho à Eberle Winery.

O espaço está coberto por mais de 58 mil esferas de fibra ótica, alimentadas por energia solar. Os visitantes passeiam pelo “campo de luz” à noite, quando a iluminação muda suavemente de cores, brincando com os sentidos daqueles que passaram o dia nas salas de degustação.

A exposição estava prevista até 2021, mas foi estendida sem data para acabar.

A jornalista viajou e se hospedou a convite de Paso Robles

Fonte: Folha de S.Paulo

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