Passei um Natal no White Lotus Taormina

Gosta de séries? Então tenho certeza de que você ainda está sob o choque do final da segunda temporada de “The White Lotus”, na HBO Max. Eu também amei tudo, mas eu tinha um motivo a mais para isso: eu passei um Natal naquele cenário.

Não me refiro só à cidade estupenda que é Taormina, mas também ao próprio hotel onde os hóspedes da ficção enlouquecem pouco a pouco, o San Domenico, rebatizado então de The White Lotus.

Estive lá em 1998 e, pelas imagens que vi agora, isso foi antes de um belíssimo upgrade que a cadeia hoteleira Four Seasons deu no antigo convento do século 14. Certamente antes de eles cobrarem cerca de R$ 5.000 por noite por um quarto.

Demorei para reconhecer o San Domenico em “White Lotus”. Eu sabia, claro, que a locação da segunda temporada, depois da estreia no Havaí, seria da Sicília, Itália. Mas não tinha bem certeza de onde.

Quando vi aqueles quartos luxuosos que recebiam, entre outros, uma milionária descompensada, dois casais riquíssimos da “geração milênio” e três gerações de californianos no cio e com muito dinheiro para gastar com prostitutas, estranhei.

Minhas acomodações naquele dezembro de 1998 tinham mais a ver com o estilo espartano do convento original do que com um luxo cinco estrelas. Mesmo assim, hospedei-me com conforto, feliz não só com o hotel, mas também com a chance de passar o Natal naquela cidade.

Taormina é daquelas cidades pequenas o suficiente para se explorar a pé. Um carro sempre ajuda quem quer ir mais longe, digamos, numa locação de “O Poderoso Chefão” ou num “palazzo” particular aberto à visitação, como fazem os personagens de “White Lotus”.

Mas andar por aquelas ruas antigas, sempre cheias, é o maior charme do lugar. De Pinóquios de madeira (uma presença curiosa, uma vez que o boneco, segundo a história, teria sido talhado na Toscana) a grifes de luxo, você não dá dez passos pela cidade sem ver algo interessante.

O famoso teatro romano, construído no século 3° a.C., é talvez sua atração mais famosa, com seu palco aberto para o cenário real daquela costa deslumbrante. Mas cada esquina de Taormina te traz uma descoberta; quem sabe até uma rua com seu nome, como o Vico Zecca, que encontrei sem querer.

Minha escala na cidade fazia parte de uma espécie de lua de mel pela Sicília. Muito bem acompanhado e bastante apaixonado, peguei um carro em Catânia, dormi primeiro em Siracusa antes de acordar com a vista dos templos antigos em Agrigento.

Daí, cortei pelo meio da ilha para passar mais perto do vulcão Etna e seguir para Palermo, onde cheguei no dia 24 de dezembro. Tudo fechado na cidade, mas quem estava ligando para isso numa viagem tão encantadora?

No próprio dia de Natal, acordamos cedo, passamos pela pequena Cefalu para fotos e chegamos em Taormina para o almoço. Era um dia feio de inverno e nosso quarto (pré-Four Seasons!) não era dos mais convidativos.

Descemos então até a Isola Bella, onde uma casa misteriosa flutua sobre o mar Jônico. Não vou dar spoiler, mas algo de muito importante acontece por lá em “White Lotus”.

Naquele Natal, porém, tudo que me interessava estava naquele lugar. Meu espírito de viajante saciado, a possibilidade de uma vida a dois, a sensação que tanto me agrada de pertencer a qualquer lugar do mundo.

Mais de duas décadas depois, hordas de turistas americanos, reais e fictícios, mudariam para sempre aquela paisagem. Mas tenho certeza de que, ainda hoje, você encontra por lá um casal apaixonado se beijando, certo de que toda a felicidade do mundo se resume a um dia de Natal em Taormina.

Fonte: Folha de S.Paulo

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