Perto de Tóquio, ilha das camélias esbanja piscinas termais e vulcão do Godzilla

Nem só de sakuras vive o Japão. Além das famosas cerejeiras que cobrem o país na primavera, outra espécie é estrela em Oshima, uma pequena ilha vulcânica a apenas 120 km de Tóquio. São as tsubakis, flores de camélia selvagem que pintam as ruelas de vermelho nos meses mais frios do ano.

Com menos de 10 mil habitantes, Oshima é a maior das Ilhas Izu e a mais próxima da capital. Ainda que sob jurisdição do governo de Tóquio, fica a mundos de distância da bagunça da metrópole, com um charme pitoresco do Japão antigo e ritmo lento das cidades do interior.

Oshima tem um festival anual dedicado às camélias, agendado para voltar no começo de 2022, com desfiles, danças folclóricas e workshops. Com cerca de 3 milhões de árvores de camélia na ilha, a flor sustenta a economia local com a produção de óleo extraído de suas sementes para produtos de beleza e culinária, uma atividade que vem desde o século 8.

No jardim botânico do Metropolitan Oshima Park, há mais de 3 mil árvores de centenas de espécies de camélias, incluindo a kinkacha, uma camélia amarela rara, e a nativa yabu-tsubaki (Camellia japonica).

Mas nem tudo são flores na ilha. Oshima é um vulcão ativo que transforma a trilha até sua cratera no Monte Mihara numa grande aventura, além de manter suas águas termais sempre aquecidas, nas piscinas de água termal, os chamados onsens, com vistas cinematográficas.

Godzilla

O vulcão figura em lendas locais, causou tragédias recentes e tem sua dose de cultura popular: Godzilla foi enterrado aqui em um filme da série, de 1984. Ao ser atraído pelas autoridades até a cratera, o monstro despenca nas lavas incandescentes em uma erupção causada por explosivos.

Na sequência do filme, em 1989, Godzilla é libertado das trevas do vulcão. Hoje, ele é visto circulando como garoto propaganda de restaurantes da ilha, como o Sushikou, no Porto de Motomachi, que serve “sushi bekko”, iguaria local de peixe fresco marinado em molho picante.

Ficção à parte, o vulcão de fato entrou em uma erupção de proporções dantescas em 1986, levando à retirada de toda a população da ilha. Fotos e vídeos da época, com explosões de lava com mais de 1,5 km de altura, são exibidos no principal museu de Oshima, um prédio de dois andares dedicado a vulcões do Japão e do mundo (sem muitas informações em inglês).

Pelo verdejante Monte Mihara, ficaram cicatrizes. Lavas que escorriam pela montanha parecem paralisadas no tempo, agora escurecidas. A caminhada até a cratera é fácil, porém a ventania e a névoa no seu topo a 758 metros de altitude exigem cautela dos visitantes.

A caldeira é um buraco dramático no final da trilha com uns 200 metros de profundidade. Há fumaça saindo pelas paredes, embora não dê para ver seu fundo, nem lavas fumegantes. Seu diâmetro passa dos 300 metros, protegidos por cercas. Nos anos 1930, a proteção foi reforçada para impedir a alta rotatividade de suicídios no local (mais de 600 em um único ano).

Um tori, passagem de madeira para um templo, recebe os visitantes no topo e faz um enquadramento perfeito do Monte Fuji à distância, mas só nos dias claros em que a montanha símbolo do país resolve dar o ar da graça.

O ideal é começar a trilha pelo estacionamento do parque, que é também ponto final de uma linha de ônibus, e voltar por um caminho diferente, que leva diretamente ao Oshima Onsen Hotel. Aqui, fica a recompensa pelas duas horas de sobe e desce: relaxantes águas termais com vista panorâmica do Monte Mihara.

Onsens a céu aberto

O hotel possui quartos tradicionais de tatame e um restaurante com culinária típica, como um prato de dourado fresco com óleo de camélia. Quem não estiver hospedado pode usar o onsen por 800 ienes (R$ 40). Os banhos são separados para homens e mulheres, com uma parte a céu aberto e outra fechada.

De volta à Motomachi, há outro onsen tradicional, o Hamanoyu, que é misto e por isso exige roupa de banho (entrada por 300 ienes, R$ 14). A piscina outdoor de águas termais é rasa, com vista para o oceano. Locais se misturam a turistas, principalmente na hora do pôr-do-sol.

Do outro lado da ilha, na ponta ao sul, fica o vilarejo Habu Port, onde casas de madeira centenárias nos transportam ao Japão antigo. Para chegar lá vindo de Motomachi, a estrada é decorada por penhascos de camadas coloridas, resultado de depósitos vulcânicos milenares.

Não há muito o que fazer em Habu Port, principalmente se não tiver reserva para o concorrido restaurante Minato Sushi.

Há um museu praticamente abandonado no local onde funcionava o hotel mais chique da ilha, que recebia a elite japonesa nos tempos áureos da vila pesqueira. É o Odoriko no Sato Museum, dedicado às dançarinas (odoriko) que se apresentavam na região, uma delas personagem do livro “A Dançarina de Izu” (1926), do prêmio Nobel Yasunari Kawabata.

O museu tem dois andares de quartos vazios empoeirados, alguns com manequins elaborados de dançarinas tocando instrumentos e servindo convidados no tatame.

Para chegar a Oshima de Tóquio, há duas opções via mar: jetfoil, que leva menos de duas horas (15.000 ienes ida e volta, R$ 730) ou balsa regular, que leva de cinco a seis horas (10.000 ienes ida e volta, R$ 487). O transporte na ilha pode ser feito de ônibus e táxi comum, ou com aluguel de carro e bicicletas elétricas.

Fonte: Folha de S.Paulo