Piroca doce causa furor no governo Bolsonaro

Antes de mais nada, tirem as crianças do recinto –não quero receber uma visita do virtuoso comitê dos fiscais de cu alheio, que agora ativou seus braços jurídico e policial.

Saiu no Diário Oficial da União na quarta-feira (1): por determinação do Ministério da Justiça, lojas que vendem crepes em forma de pirocas e bucetas precisaram esconder suas vitrines. E os letreiros da fachada, pois contêm palavras chulas.

É o governo da República Federativa do Brasil acionando o aparato estatal para censurar palavrões, caralho! Puta que o pariu, isso é bizarro até para esse governo de arrombados!

Nesta republiqueta bananeira, a distopia fundamentalista não pode ser simplesmente opressora e sombria. Precisa ser caricata e grotesca, como se um filme snuff com o Sergio Mallandro fosse dirigido pelo núcleo de humor do SBT. Somos dolorosamente ridículos. Toscamente doentios.

No começo, era só uma iniciativa exótica de uma vereadora exótica da pouco exótica Londrina, no Paraná. Lésbica assumida, Jessicão (PP) redigiu um projeto de lei para proibir preventivamente a instalação, na sua cidade, de confeitarias especializadas em crepirocas e crepepecas.

São massas doces e salgadas, com variados recheios, assadas em moldes que se assemelham a pênis e vulvas. O quitute pode ser complementado com confeitos (que representam pelos pubianos) e cremes (que emulam secreções).

A gritaria da Odorica Paraguaçu londrinense reverberou em Sucupira, digo Brasília. O presidente mais boca-suja da história achou boa ideia apontar os canhões para um punhado de comerciantes, a ver: La Putaria (Rio e Belo Horizonte), Assanhadx (São Paulo), Ki Putaria (Salvador) e La Pirokita (Maringá e Paranavaí).

Apenas a loja paulistana não precisou camuflar o letreiro, pois seu nome não é uma alusão explícita ao –sinal da cruz– sexo. Todas foram proibidas de vender crepicas a menores de 18 anos, coisa que já não faziam.

Munida de plástico preto e fita crepe (olha a ironia), a polícia baixou como patrulha da castidade na mesma Ipanema que já viu, entre a empolgação e a indiferença, o Gabeira tomar sol com tanga de crochê.

Dá um fastio danado repisar que se trata de uma tática diversionista de um governo acossado pela inflação –e de um presidente que terá de prestar contas à Justiça quando perder o emprego. Até porque não é só isso.

Os crápulas planaltinos aproveitam essas ocasiões para impor a pauta retrógrada em assuntos que a sociedade, assoberbada com a surra de más notícias e disparates, considera de baixa prioridade. E assim vamos consolidando a base da teocracia milico-miliciana.

Eles acham ok criança segurar fuzil, mas se escandalizam com as partes do corpo que, segundo a doutrina cristã, Deus nos deu para amar e procriar. Eles se dizem defensores da liberdade de expressão, mas ficam assanhadx e tiriricas quando alguém escreve “putaria” em praça pública.

Vão se foder.

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Fonte: Folha de S.Paulo