Quanto vale um ‘mocktail’, drinque sem álcool?

Pouco depois do pôr do sol, em uma noite de sábado em dezembro, Megan Horton se acomodou no bar do Nubeluz, um “lounge” no 50º e último andar do mais novo hotel Ritz Carlton da cidade de Nova York, para saborear uma bebida.

Ela tinha chegado à cidade vinda de San Francisco, onde trabalha na área de serviços ao cliente da Apple, e estava disposta a esbanjar.

Contemplando o horizonte da cidade ao seu redor, ela assistiu enquanto o barman preparava um emerald coin, uma bebida que leva mel, capim-limão, limão e aipo, e o serviu em uma taça.Ela experimentou a bebida, em companhia de uma amiga e de outros clientes elegantes do bar, e sorriu, apreciando o ambiente.

A única coisa diferente é que seu coquetel não tinha álcool algum.

Horton, 43, parou de beber regularmente, nos últimos meses, principalmente porque ela não sente mais vontade de consumir álcool. “Sempre gostei de festa, por muitos anos, mas agora não sinto vontade de beber”, ela disse. “Algo mudou no meu cérebro”.

Quando ela visitou a cidade de Nova York em uma viagem de final de semana com um grupo de amigas, no mês passado, planejava pedir seltzers, nas noites em que elas saíssem para curtir a cidade. “Adoro o ambiente e consigo me divertir sem beber”, disse Horton. Mas ela não demorou a perceber que a maioria dos estabelecimentos, incluindo os bares mais populares da cidade, tinha uma lista sofisticada e abrangente de coquetéis sem álcool.

Na noite anterior, no Oscar Wilde, um bar excêntrico com tema vitoriano, na rua 27 Oeste, ela pediu um drinque que era uma mistura de sucos de frutas.

Horton nem se incomodou por os “mocktails” [coquetéis sem álcool] do Nubeluz custarem US$ 20, só alguns dólares a menos do que as bebidas com álcool. “Foi tão divertido que eu pudesse pedir um coquetel fofo junto com minha amiga”, ela disse. “Além disso, pago o que for para me sentir feliz por não estar de ressaca no dia seguinte”.

Em Nova York, moradores e turistas estão curtindo coquetéis elaborados e sem álcool. Muito diferentes dos “mocktails” usuais, eles são imaginados por barmen profissionais, criados com ingredientes de primeira linha, entre os quais destilados livres de álcool, e apresentados em copos elegantes e bem guarnecidos.

“Não é só um barman misturando suco de cranberry e acrescentando ginger ale e dizendo que aquilo é um coquetel chique”, disse Chelsea DeMark, que cria drinques para bares, entre os quais o do hotel Thompson Central Park. O hotel, inaugurado há cerca de um ano, serve uma bebida chamada Bee’s Knees with a Twist, que custa US$ 19 e inclui gim sem álcool, limão e mel (coquetéis com álcool variam de US$ 21 a US$ 28).

A olho nu, esses coquetéis sem álcool são indistinguíveis de bebidas que deixam o consumidor embriagado.

No Nubeluz, inaugurado em setembro, Miguel Lancha, que lidera o programa de coquetéis da casa, disse que diversos fregueses pediram inadvertidamente bebidas sem álcool que fazem parte do cardápio. “Eu diria que, quando descobrem que a bebida não tem álcool, em geral ficam agradavelmente surpresos”, ele disse, rindo.

Alguns clientes que não bebem ficam muito felizes por essas opções estarem disponíveis, já que isso permite que continuem a desfrutar da experiência de ir a um bar de primeira linha. Outros, no entanto, dizem que os coquetéis não têm gosto bom, não são saudáveis o suficiente ou simplesmente não valem os preços altos.

Ainda assim, os “mocktails” continuam a vender bem.

No Thompson Central Park, DeMark disse que a proporção é de um “mocktail” para cada cinco coquetéis com álcool.

“Nossos coquetéis sem álcool agora representam quase 5% de nossas vendas”, disse Tony Mosca, diretor de comida e bebida no Carlyle, famoso hotel no Upper East Side nova-iorquino. “Isso mostra que existe um mercado para eles”.

“Também vemos pessoas que vêm para tomar uma bebida alcoólica, mas elas às vezes podem tomar uma segunda bebida, essa talvez sem álcool”, ele acrescentou.

O Bemelmans Bar, piano bar do Carlyle, oferece quatro opções de coquetel não alcoólico, incluindo o Pepito “The Bad Hat”, com tequila sem álcool, suco de limão, xarope de laranja e água gasosa, que custa US$ 26. Mais quatro serão adicionados ao longo do ano, de acordo com Mosca.

Os especialistas em coquetéis dizem que agora são capazes de oferecer mais coquetéis não alcoólicos porque contam com novos ingredientes.

“Porque não existiam bebidas destiladas sem álcool, os coquetéis sem álcool eram só suco e água tônica”, disse Lancha. “Agora, os ingredientes disponíveis para fazer as bebidas são muito modernos e não param de melhorar”.

Um exemplo é a Ritual Zero Proof, uma empresa que produz bebidas destiladas sem álcool para uso em coquetéis, e faz alternativas para o uísque, gin, tequila e rum. A Mullip é outra empresa que faz bebidas destiladas não alcoólicas com uma variedade de perfis de sabor, muitos dos quais combinam com os tipos tradicionais de bebidas alcoólicas. (Também existem muitas marcas que produzem vinhos e cervejas não alcoólicos.)

Uma das razões para que os coquetéis não alcoólicos tenham preços tão altos é que os ingredientes também são caros. As bebidas não alcoólicas chegam a preços de cerca de US$ 40 por garrafa. “A destilação é um processo laborioso, como o de uma bebida alcoólica”, disse DeMark. “As bebidas básicas nos custam um bom dinheiro, e muitas vezes é preciso usar mais delas do que você usa o álcool comum, para alcançar os mesmos resultados, porque o sabor não é tão forte”.

Alguns clientes percebem a diferença.

Quando Sandie Gong, 33, que trabalha para uma empresa de tecnologia e mora no bairro de Williamsburg, Brooklyn, engravidou, no ano passado, ela pediu coquetéis sem álcool em cinco bares diferentes de Brooklyn e Manhattan. “Lembro-me de que um dos primeiros era um spritz Aperol, mas parecia ser feito inteiramente de açúcar”, ela disse.

Gong não se limitou a experimentar coquetéis. “Comprei uma garrafa de vinho tinto não alcoólico por US$ 25 dólares, e o sabor era o de uma bebida que fica chocha por estar aberta há muito tempo”, ela disse.

“Adoro o sabor do álcool, e essas bebidas não têm sabor algum”, ela disse. “Só quero que eles criem um álcool sintético com sabor de álcool”.

De fato, os especialistas dizem que um dos desafios dos coquetéis não alcoólicos (e outra razão pela qual o preço é tão elevado) está em que bebidas destiladas com teor alcoólico zero podem ser ingredientes mais difíceis com que trabalhar. Também são novas, e por isso não houve muito tempo para aprender. “Pense em como a história do uísque é longa”, disse Lancha.

“Por mais que você sacuda um gim, o sabor sempre vai ser de gim, mas quando você faz o mesmo com uma bebida não alcoólica, ela pode perder todo o sabor”, disse DeMark. “Tentamos fazer um vermute não alcoólico com uma mistura de toranja e ingredientes herbáceos, e acrescentamos um toque de vinagre. É complicado, e o resultado não era sempre o mesmo”.

Outra queixa de clientes é que beber coquetéis não alcoólicos ainda parece pouco saudável.

“A maioria dos coquetéis em restaurantes são como bebidas para crianças, cheias de açúcar”, disse Lisa Morse, 55, psicóloga clínica em Nova York.

Ela tenta evitar álcool porque a bebida lhe dá dores de cabeça e prejudica seu sono. Morse experimentou muitas misturas sem álcool em bares e restaurantes —”gosto da experiência de tomar um coquetel sem os efeitos negativos de saúde que vêm com o álcool”, ela disse— mas não se sentiu bem com aquilo que colocou no corpo.

Em vez disso, ela começou a fazer coquetéis em casa misturando seltzer com Ghia, um aperitivo sem álcool e com baixo teor de açúcar (uma garrafa custa cerca de US$ 40). “Se recebemos pessoas para coquetéis ou um jantar, é divertido tomar uma bebida e compartilhar da experiência”, ela disse.

Fonte: Folha de S.Paulo

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