Retomada do turismo tem Nordeste como favorito e viajantes interessados em novidades

O ano de 2022 foi o período que o brasileiro voltou a colocar o pé na estrada: caíram as restrições por conta da Covid-19, e aumentou a taxa vacinação contra a doença. Os tempos de isolamento social ficaram para trás mas não sem deixar marcas no perfil do viajante, que agora mostra mais interesse em um turismo mais sustentável, consciente e cheio de experiências.

Com a retomada na maior parte do mundo, o setor está otimista para 2023. De acordo com boletim do terceiro trimestre da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), a expectativa é de que haja um crescimento de 53% neste mercado.

Essa volta por cima do setor vem depois de uma queda brusca no faturamento, que, de acordo com o Ministério do Turismo, chegou a 59% em 2021.

Os destinos nacionais se destacam nessa nova fase. O boletim da associação aponta o Nordeste como a região queridinha dos viajantes. Salvador (BA) é a cidade mais visitada, seguida de Maceió (AL), Porto de Galinhas (PE), Recife (PE) e São Paulo, em segundo lugar, e Fortaleza (RN), Gramado (RS), Natal (RN) e Rio de Janeiro, ocupando o terceiro lugar.

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) publicou os dados referentes ao fluxo aéreo no Brasil em setembro de 2022, e registrou cerca de 7 milhões de passageiros —um aumento de 127% na movimentação doméstica nos aeroportos do país em comparação ao mesmo período de 2020.

“O turismo doméstico foi o primeiro a despontar no período pós-pandemia, mas a demanda reprimida por destinos internacionais já está sendo atendida, o que tem colaborado com o aumento do faturamento das operadoras devido a fatores como a variação cambial e a inflação, que fazem com que o valor do ticket médio seja maior”, afirma Roberto Haro Nedelciu, presidente da Braztoa.

Entre os destinos internacionais preferidos dos brasileiros, segundo a associação, estão Lisboa e Orlando, em primeiro lugar, Nova York e Paris, na segunda colocação, e Barcelona e Buenos Aires, em terceiro no ranking.

O blogueiro Rafael Leick, 37 anos, da capital paulista, é um dos turistas brasileiros que em 2022 voltaram a viajar. Leick se diz apaixonado por viagens, mas se viu obrigado a, nos últimos dois anos, fazer passeios pontuais traçados de acordo com as flexibilizações, e para destinos de pouco contato social.

Neste ano, o paulistano decidiu que era a hora de voltar a por o pé na estrada, e passou 20 dias no Uruguai, de férias.

“Foi muito esquisito ficar tanto tempo sem viajar. Fui do time que seguiu com afinco as restrições, principalmente pelo contato com a minha avó. Voltei a viajar de avião neste ano, e me permiti fazer uma viagem mais solta, sem tanto roteiro e corrida em pontos turísticos, o que considero uma mudança no meu perfil de viajante depois da pandemia”, avalia.

A plataforma Booking.com lançou neste ano a 7ª edição do Relatório de Viagens Sustentáveis, que contou com a participação de mais de 30 mil viajantes. O levantamento indicou que a conscientização a e busca por viagens mais sustentáveis está crescendo.

“O Brasil, por exemplo, é o terceiro país que mais considera as viagens sustentáveis importantes (96%), atrás apenas do Quênia e do Vietnã, e empatado com a Colômbia”, afirma Luiz Cegato, gerente de comunicação da plataforma para a América Latina.

“As pessoas não estão apenas pensando em seu impacto no meio ambiente, mas também em sua conexão com diferentes culturas e em como impactar positivamente os destinos que visitam.”

Outra pesquisa com mais de 24 mil viajantes de 32 países mostrou que, dos brasileiros pesquisados, 79% querem viagens que sejam “fora da zona de conforto”, e que “testem seus limites”, enquanto 44% buscam viagens voltadas à prática de meditação.

A coach Izabella Tulio Wagner, 45 anos, de Jaraguá do Sul (SC), é uma dessas turistas que investiram em uma “viagem de autoconhecimento” à Índia em 2022.

“Aceitei o chamado de minha professora para fazer essa viagem. Me dedico ao estudo e desenvolvimento da espiritualidade e viajar tem um viés diferente para mim hoje. [A viagem] está conectada a um propósito, um movimento que primeiramente vem de dentro”, define a coach.

Roberto Haro Nedelciu, presidente da Braztoa, também é dono de uma agência de viagens. Ele afirma que o setor carece de mão de obra capacitada para vender mais do que passagens aéreas, e sim “pacotes focados em experiências”, que vão de degustação de queijos e café até hospedagens em meio a lugares exóticos.

“É preciso criar roteiros interessantes que vão além de praia, mar e sol. As pessoas querem realizar atividades que tornem aquela viagem inesquecível”, diz.

“Não é só uma viagem para descansar. Os turistas querem visitar lugares diferentes como Jalapão e Pantanal. Além disso, o turismo rural desponta como uma opção também, o que não tinha antes da pandemia.”

Fonte: Folha de S.Paulo