Rota das Frutas é opção para quem pretende pedalar perto de São Paulo

Um trajeto de 75 km entre as cidades de Jundiaí, Louveira, Vinhedo e Itatiba será entregue neste sábado (29) para quem pretende pedalar em meio à natureza, em uma região próxima à capital paulista. A Rota das Frutas é uma alternativa para aqueles que praticam o ciclismo como esporte e, em alguns de seus trechos, também é uma opção de turismo sobre duas rodas.

Criadas pela CCR com apoio do governo estadual, as ciclorrotas começaram a ganhar forma no fim do ano passado. A primeira, a Rota das Flores, em Holambra, foi entregue em dezembro. A Rota das Frutas é a segunda e outras três estão programadas para os próximos meses, num total de 300 km. Ao todo, a concessionária pretende investir R$ 5 milhões em reparos na pavimentação, sinalização, entre outros.

Poucas horas antes do evento de inauguração, previsto para as 7h deste sábado, em Jundiaí, a Rota das Frutas ainda não contava com as 108 placas de sinalização para determinar o caminho a ser seguido pelos ciclistas. Diferentemente de uma ciclovia, a ciclorrota não traz uma separação física em relação ao restante do trânsito. É mais uma indicação de trajeto seguro por ruas, avenidas e estradas, daí a importância de ser bem sinalizada.

Segundo a CCR, houve atraso na entrega das placas por parte do fornecedor, mas todas seriam instaladas até o evento de inauguração, na manhã deste sábado.

As rotas surgem no momento em que se acentua a discussão sobre o uso do acostamento das grandes rodovias por grupos de ciclistas.

Em outubro, portaria da Secretaria Estadual de Logística e Transporte estabeleceu limites para o uso de bicicletas nas estradas paulistas. O texto determinava a utilização “apenas como meio de transporte, quais sejam, deslocamento ao trabalho e trânsito comum, ou seja, aqueles alheios às atividades de desporto”.

Na prática, a medida inviabilizaria o treinamento dos pelotões de ciclistas profissionais e amadores em estradas onde isso é bastante comum, como a Anhanguera e a Bandeirantes, concedidas à CCR. Para treinar, os ciclistas precisariam de autorização e pagar uma taxa. Após pressão, João Doria (PSDB) decidiu revogar a portaria.

CEO da CCR Infra SP, Fábio Russo afirma que, desde o ano passado, a concessionária tem pensado em abordar a segurança em relação a vários temas, entre os quais, o tráfego de ciclistas nas grandes rodovias. Para ele, o uso do acostamento por bicicletas é incompatível com a alta velocidade dos demais veículos. Em 2021, cinco pessoas morreram pedalando em estradas sob gestão da CCR.

No início do projeto, a concessionária ouviu grupos de ciclistas para saber os motivos pelos quais buscavam os acostamentos da Anhanguera e da Bandeirantes, por exemplo. “Eles disseram que usam rodovias como essas porque não têm alternativas”, afirma.

Para oferecer outras opções e suporte a quem pedala, a concessionária consultou as prefeituras envolvidas no projeto das rotas. “Onde o ciclista de fora para o carro e não atrapalha a cidade? Onde não será multado e tem segurança? Tem um comércio local que pode se desenvolver e vender alimentação, apoio?”, questionou o representante da CCR.

A partir daí, foi criado um plano que mira, além da segurança, aspectos relativos ao desenvolvimento econômico da região. Segundo Russo, o mercado de cicloturismo movimenta 20 bilhões de euros por ano na Europa, envolvendo toda a cadeia de consumo das bicicletas, o que seria um bom exemplo para cidades próximas de São Paulo. Público para isso não falta. A estimativa é que a Rota das Frutas venha a receber até mil ciclistas aos sábados e domingos.

Empresária e triatleta, Talita Saab tem uma assessoria esportiva e já conhece bem as estradas que formam a Rota das Frutas. Ela afirma que o percurso de 75 km é ideal para ciclistas que pretendem fazer seus treinamentos. “É um baita treino para quem quer fazer um caminho bonito, seguro”, afirma.

A exigência técnica para atletas ou ciclistas bastante acostumados a longas distâncias está no fato de os 75 km terem muitas subidas. Ao todo, são mais de 1.400 metros de altimetria acumulada, caso a opção seja por fazer o trajeto por completo. Em resumo, é muito morro.

Apesar disso, também há espaço para quem pretende sair da capital paulista com a família e passar um dia agradável em meio ao clima interiorano, cercado por plantações de frutas, segundo Talita. “Para famílias que querem passear, o melhor trecho é entre Louveira, Vinhedo e Itatiba. É um lugar bonito, diferente e sai da coisa louca que é São Paulo”, conta.

A reportagem visitou o percurso nesta sexta (28). Como as placas ainda não estavam instaladas, contou com um guia destacado pela concessionária.

É possível entrar no trajeto em qualquer ponto dos 75 km. Para quem parte de Jundiaí, o primeiro trecho até Louveira é mais indicado para treinamento, nem tanto para passeio. Ainda há bastante tráfego de veículos, em um cenário basicamente urbano.

A partir de Louveira, a Rota das Frutas fica mais amigável para quem pretende praticar o cicloturismo, apesar das longas subidas durante o caminho. Na cidade, uma parada obrigatória é a antiga estação de trem, de 1915, onde há banheiro e um ponto com ferramentas e bomba para encher pneus, oferecido pela prefeitura.

Já em Vinhedo, um dos atrativos do percurso é o Cristo, no alto de uma colina de onde é possível avistar as cidades vizinhas.

Em meio a muito sobe e desce, o ciclista vai desvendando a zona rural da região, com belas paisagens e clima bucólico. Tem represa, bica, árvores formando túneis, ar puro, cavalos trotando em haras e, é claro, plantações com frutas que aproveitam o clima ameno para se desenvolver. Neste início de ano, são os caquis que fazem pender os galhos à beira da estrada. Mas também há parreirais, goiabeiras, mangueiras e tudo que serve de motivo para nomear a rota.

De olho nos ciclistas, já há produtores que pensam em montar barraquinhas para vender de tudo um pouco. “Um comércio para eles comprarem água de coco, essas coisas”, diz Helena Motico Stocco, 73. Ela tem uma propriedade em Itatiba, por onde passa a rota. “Faz 52 anos que moro aqui nesse lugar. Bairro bom, sossegado, de gente boa”, conta.

Para quem já pedala na estrada antes mesmo de virar rota, a segurança é um dos pontos positivos. O ciclista profissional Pedro Leme, 20, afirma que não há registro de assaltos na zona rural, algo comum nas grandes cidades. Morador de Jundiaí, ele vive também em Portugal e elogia o percurso. “É diferente de treinar com o caminhão tirando fina. Vale mais a pena”, diz. “É um lugar fantástico, com bastante subida e curva para treinar. Bem aconchegante pelo contato com a natureza. Se for ver, não passa quase nada de carro”, diz.

Embora o trânsito seja tranquilo, não há acostamento em boa parte das estradas vicinais. Para rodar com segurança, o ciclista dependerá do bom senso dos motoristas que circulam pela região.

O engenheiro químico Fábio Junqueira, 41, já viveu em Poços de Caldas (MG), Ubatuba e há três anos está em Itatiba. Trecho do percurso que compõe a Rota das Frutas é parte da sua rotina de treinos. “Tenho feito muito esse caminho da [Fazenda] Vista Linda”, diz. “Tem muita propriedade bonita, é agradável. Parece até um Tour de France no Brasil, pelo que a gente vê de lá na televisão”, completa, citando a tradicional competição de ciclismo de estrada que cruza o país europeu.

Fonte: Folha de S.Paulo

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