Roteiros focados em arte de museus nos arredores de BH viram rotina no Fasano

Banheiro em mármore com chuveiro de alta pressão, lençóis de algodão egípcio 300 fios e uma poltrona original Sérgio Rodrigues na decoração: o combo que pareceria exagero em muitos lugares não espanta quando se fala da hotelaria de luxo.

A rede Fasano, um dos maiores nomes do setor no Brasil, levou em outubro de 2018 quartos como este —cuja diária sai por quase R$ 3.000— à capital mineira, onde agora lança uma série de pacotes na tentativa de posicionar Belo Horizonte como destino turístico, aproveitando as cidades históricas próximas e seus museus.

Se do lado de fora há, por exemplo, Inhotim, um dos maiores institutos de arte contemporânea a céu aberto do mundo, do lado de dentro o hotel presta um serviço de quarto atento aos detalhes. O lobby é uma grande sala de estar que mistura o móvel moderno brasileiro, com poltronas de Percival Lafer e John Graz, a bancos e luminárias vintage garimpados em Tiradentes, cidade histórica mineira.

Ao lado, fica um jardim de inverno onde é servido o café da manhã, e que, à noite, se transforma no Gero, o restaurante italiano do Fasano.

Nele, uma “parede” de aço córten divide os ambientes interno e externo. A matéria-prima, típica do estado que mais produz aço no país, era usada pelo artista mineiro Amilcar de Castro para fazer suas esculturas, de modo que a decoração do restaurante é também um aceno para as peculiaridades de Minas Gerais.

O Fasano de Belo Horizonte é o segundo maior hotel da rede em número de quartos, ficando atrás somente da unidade do Rio de Janeiro. São 75 apartamentos, cada um com um leiaute próprio, mais duas suítes presidenciais na cobertura —uma delas tem piscina ao ar livre e elevador privativo que dá acesso à garagem. Funcionários informam que é nas suítes que grandes nomes da MPB costumam se hospedar.

O público do hotel vem mudando neste retorno pós-pandemia, conta Mariana Sobreira, relações públicas da unidade mineira: diminuiu o número de hóspedes de negócio e aumentou o de famílias. Para contemplar esta mudança, o Fasano agora oferece de forma estruturada uma série de programas culturais e gastronômicos em Belo Horizonte e nas cidades ao redor —passeios que antes eram feitos de forma pontual pelo concièrge.

E, mesmo que alguns dos roteiros oferecidos sejam batidos, há também novidades a se explorar. Uma delas é visitar o recém-inaugurado museu Boulieu, em Ouro Preto, instituição dedicada a exibir arte barroca das Américas e da Ásia.

São mais de mil peças em exposição, provenientes de um acervo do casal de colecionadores Jacques e Maria Helena Boulieu —ela, uma brasileira católica, e ele, um francês amante da arte.

Os Bolieu coletaram imagens sacras esculpidas em madeira e pratarias em suas viagens pelo mundo, antes de doar a coleção para a Arquidiocese de Mariana com o intuito de que, a partir dela, fosse formado um museu.

Lá, vale olhar com calma para a arte sacra do Nordeste entre os séculos 18 e 19, dado que é possível notar as características próprias das peças produzidas em cada estado da região. As santas esculpidas na Bahia, por exemplo, têm bastante douramento nas superfícies, enquanto as de Maceió têm menos —seus bustos são mais largos, por outro lado.

As outras novidades estão em Inhotim, um imenso museu a 60 quilômetros da capital mineira que mistura paisagismo com obras de arte ao ar livre e pavilhões dedicados aos principais artistas da cena contemporânea.

Uma delas é a exposição temporária na galeria Mata, que está agora dedicada a apresentar o acervo do Museu de Arte Negra, um conceito criado há décadas pelo já falecido pintor Abdias Nascimento, mas que nunca chegou a ter uma sede própria, embora possua obras relevantes para entender a arte do Brasil nos anos 1960 e 1970.

A mostra em cartaz aborda o Teatro Experimental do Negro, que tinha como propósito conquistar espaço para pessoas negras nas artes cênicas —vale prestar atenção em uma parede só com pinturas de Jesus Cristo negro.

A outra novidade de Inhotim, essa na galeria Praça, é uma exposição de fotos e de um filme de Isaac Julien tematizando o que era ser um homem negro homossexual na Nova York dos anos 1920. O museu tem se voltado às representações da negritude, seguindo uma tendência atual das artes.

Na passagem por Ouro Preto, a reportagem foi ciceroneada por Rodrigo Câmara, cenógrafo e designer dono de uma loja de antiguidades na cidade. “O que faz uma experiência?”, questiona Câmara. “Se você sai do mesmo jeito, não é uma experiência. Experiência é algo que não seja falso, que te faça voltar diferente do lugar.”

Fonte: Folha de S.Paulo