Sorvete de chocolate para um menino com dor de garganta

O que você receitaria para uma criança com dor de garganta?

O médico Marcos Wesley Silva, de um posto de saúde em Osasco (SP), prescreveu analgésico, antibiótico, corticoide, videogame e sorvete de chocolate. Foi demitido.

O paciente era um menino de 9 anos que, segundo a prefeitura de Osasco, chegou com um quadro de nasofaringite aguda, porém sem gravidade.

A mãe do garoto alega que o médico não o examinou e não a orientou sobre o uso das medicações.

Em dado momento, Marcos teria perguntado ao menino se ele preferia sorvete de chocolate ou de morango (a resposta, obviamente, foi chocolate).

A família do paciente denunciou o médico, que foi desligado.

A se confirmar o atendimento displicente, cabe punição; apenas o episódio do sorvete, porém, não justifica o afastamento. Muito pelo contrário.

Ao receitar sorvete de chocolate, o médico criou um vínculo afetivo com o menino. Indicou um alimento que o paciente iria aceitar –estava com dor de garganta e vômitos, comer era um sofrimento. E que, ao contrário do que diz a crença popular, não faz mal algum.

É assombroso que, em 2023, ainda haja tanta gente que acredita que pegar friagem dá gripe e que tomar gelado piora quadros de resfriado e dor de garganta.

Na questão da garganta, ocorre o oposto: o sorvete alivia a dor e ajuda na cicatrização. Todo mundo que já fez cirurgia de amígdalas (eu, por exemplo) voltou para casa com a prescrição de tomar muito sorvete.

O sorvete é mais antigo do que a refrigeração artificial e, como você deve imaginar, só se podia fazê-lo onde havia gelo. Nos países frios, é comum tomar sorvete no inverno; aqui, acham que vai dar pneumonia e matar a pessoa.

Se eu fosse fabricante de sorvete, fazia uma campanha de conscientização. E punha o doutor Marcos de garoto-propaganda.

Fonte: Folha de S.Paulo

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