Turismo de imersão rural é chance de experimentar a vida no campo

A expressão turismo de experiência não é nova. Presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), Roberto Haro Nedelciu lembra que ela já era citada três décadas atrás. Mas o significado mudou.

“No passado, as pessoas entendiam o turismo de experiência como roteiros exóticos ou esotéricos. Hoje, é qualquer viagem que agregue algum valor ao turista, para quem quer mais do que simplesmente olhar uma paisagem bonita e curtir uma praia.”

Vale tudo no cardápio das tais experiências: de palestras a oficinas. Mas quem quer ir além também pode —o turismo de imersão promove um verdadeiro mergulho em algum cenário ou modo de vida bem diferente daquele que se conhece.

No Brasil, quem saiu na frente nessa modalidade foram as propriedades rurais. Fazendeiros que têm lavouras ou criações de animais estão descobrindo que receber visitantes, hospedá-los e proporcionar vivências reais é altamente lucrativo.

“Basta ver os lavandários do sul da França, onde o turismo virou o principal negócio e a venda de lavanda, a fonte de renda secundária”, Nedelciu exemplifica. “E o Brasil tem um potencial gigante.”

Uma das pioneiras, a vinícola Casa Valduga lançou seu enoturismo em 1992. Fez tanto sucesso que a experiência foi copiada por vizinhos e acabou dando origem à rota turística Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha (RS), que recebia mais de 400 mil visitantes por ano antes da pandemia do novo coronavírus —em 2021, foram 270 mil.

“Hoje, o perfil do público é bem democrático, de consumidores mais experientes a quem está descobrindo o mundo dos vinhos”, conta Eduardo Valduga, diretor geral da Casa Valduga.

Não se faz turismo de imersão sem um guia. É fundamental contar com a condução de alguém experiente no ambiente ou na cultura na qual se pretende mergulhar.

O roteiro a seguir tem essa garantia —as experiências foram formatadas por quem entende do riscado, e proporcionam vivências autênticas. Por isso, também é importante consultar a melhor época para agendar cada uma delas.


Fazenda Bosque Belo Baguá

Criadores de gado wagyu —raça de origem japonesa que rende os cortes mais caros do mundo—, o casal George e Nathalia Gottheiner proporciona uma imersão na fazenda.

O tour começa pela criação, onde os visitantes aprendem sobre as particularidades da raça, criada ao som de música clássica, sob rigoroso protocolo de bem-estar animal. Ao final do passeio, um menu-degustação à base de cortes de wagyu é servido no deque, instalado no alto de uma árvore.

Um casarão construído no século 18 foi reformado e abriga cinco suítes com ar condicionado, frigobar, TV e wi-fi. Na área externa, uma piscina natural com piso de areia e tratamento de ozônio permite nadar entre os peixinhos. A programação pode incluir cavalgadas e interação com as araras Cocó e Dragão, que voam livres e adoram ser alimentadas pelos hóspedes.

Onde: Boituva (SP). Instagram: @bosquebelo
Quanto: A diária por casal varia de R$ 1.450 a R$ 2.200, com café da manhã composto de itens produzidos na fazenda. A vivência com degustação custa R$ 850 por pessoa.

Hotel e Vinícola Davo

Quem visita a Fazenda São Judas, em Ribeirão Branco, no sul do estado de São Paulo, conhece por dentro o universo da produção dos vinhos e azeites da marca Davo, com direito a hospedagem de alto padrão. Com apenas 19 suítes, o hotel dispõe de piscina coberta, sauna, spa e restaurante.

A hospedagem inclui tour guiado aos vinhedos, onde são cultivadas uvas chardonnay e pinot noir, para os espumantes, e Isabel e bordô, para o suco de uva, e visita à vinícola com degustação. Mas há muito mais para ver e experimentar.

A propriedade de 680 hectares tem olival e um vasto pomar de pêssegos, ameixas e maçãs. O passeio, realizado em um ônibus antigo restaurado, também percorre trilhas, lagos, cachoeiras, a igreja local e um belo mirante.

Onde: Estrada Municipal de Ribeirão Branco (SP). Tel.: (11) 97497-8454. hotelevinicoladavo.com.br
Quanto: A diária para casal custa a partir de R$ 1.725, com café da manhã, almoço e chá da tarde (bebidas e jantar à parte). Crianças de até seis anos não pagam. O tour guiado pela propriedade sai a R$ 70 por pessoa.

Fazenda Alliança

Fundada em 1861, a fazenda localizada em Barra do Piraí (RJ) conta a história do ciclo de ouro do café no Vale do Paraíba.

Proprietária desde 2007, Josefina Durini é produtora do café orgânico Durini e convida o hóspede a conhecer o caminho que os grãos percorrem desde os tempos do Barão do Rio Bonito, da colheita à torra.

É possível conhecer todas as instalações originais, do terreiro de secagem às tulhas. A fazenda também cria búfalas, porcos, carneiros, frangos, patos e gansos e cultiva banana, cana-de-açúcar e hortaliças —a visita guiada dura cerca de quatro horas.

A sede centenária, com oito quartos, foi restaurada e recebe os visitantes no sistema de pensão completa, com três refeições diárias à base de produtos locais. A estrutura de lazer inclui piscina natural, sauna, sala de cinema, salão de jogos e banho no lago com apoio de deques flutuantes.

Onde: RJ 145, Km 47 – Barra do Piraí (RJ). Tel.: (24) 98807-6146. fazendaallianca.com.br
Quanto: No Carnaval, o pacote mínimo de três diárias sai a R$ 15.120 por casal.

Brasil Food Safaris

Há oito anos, o chef Paulo Machado e a operadora de turismo Pollianna Thomé mostram aos brasileiros um Brasil que pouca gente conhece. As viagens temáticas, com forte cunho gastronômico, acontecem quase todo mês e vão de norte a sul do país.

Os roteiros são para variados perfis. Os grupos, que não passam de 16 pessoas, podem conhecer a Ilha de Marajó, no Pará, e dormir em uma pousada simples, ou percorrer as vinícolas da Serra Gaúcha e pernoitar em hotéis.

A dupla organiza experiências com pequenos produtores e cozinheiros locais inacessíveis ao turista comum, além de visitas guiadas a mercados e restaurantes, mas sempre com o cuidado de não sobrecarregar a agenda —há tempo para descansar e contemplar a paisagem.

Onde: Tel.: (67) 99982-2708. brasilfoodsafaris.com
Quanto: O próximo safári, de 9 a 14/2, será na Amazônia, com hospedagem na pousada flutuante Uakari Lodge de Selvam, em Tefé, e saída e chegada em Manaus (AM). Custa R$ 8.340 por pessoa —o transporte até Manaus corre por conta do viajante.

Monã

Quem se hospeda na propriedade rural de Daniel Castelli, em Canela (RS), tem a experiência de viver no campo —a começar pela hospedagem, uma enorme casa de fazenda com quatro quartos e cozinha com fogão a lenha, que pode ser inteiramente alugada por grupos. Há ainda duas casas menores, com dois quartos cada uma e cozinhas equipadas.

Depois de tomar café da manhã em uma construção anexa e provar produtos locais, o visitante tem liberdade para percorrer a propriedade de 132 hectares, com trilhas na mata, lago, pomar. Também é possível encomendar jantares especiais, assados na brasa e cestas de piquenique, que custam a partir de R$ 320 para o casal.

Craque na produção de tábuas de madeira, Castelli abre sua marcenaria para oficinas, nas quais dá aula sobre escolha da matéria-prima, processos de fabricação e acabamento (R$ 450 por pessoa, com agendamento).

Em feriados prolongados e alguns fins de semana, a propriedade abriga o Monã Brasa & Blues —ao som de uma banda instrumental, os visitantes provam polenta de milho crioulo cultivado lá e outros pratos preparados no fogo.

Onde: Canela (RS). airbnb.com.br/rooms/22773332
Quanto: A diária para casal sai por R$ 650, com café da manhã (mínimo de duas diárias, ou três no feriado de Carnaval), enquanto o evento Monã Brasa & Blues custa R$ 190 por pessoa (bebidas à parte).

Complexo Enoturístico Casa Valduga

No Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves (RS), o complexo de enoturismo ocupa a mesma propriedade onde são cultivadas as uvas e produzidos os vinhos.

Ao longo do ano, as visitas básicas acontecem diariamente, em vários horários, e permitem que o turista conheça todo o processo de elaboração dos vinhos e espumantes (R$ 95 por pessoa). Também há roteiros diurnos que terminam com almoço, e noturnos com jantar harmonizado.

Mas a imersão é mais completa para quem se hospeda em uma das 24 acomodações, divididas entre as pousadas Raízes, Leopoldina, Identidade, Gran e Storia.

Entre fevereiro e março, acontece uma das experiências mais esperadas: a vindima. No período de colheita, o turista toma café da manhã no vinhedo ao som de piano, ajuda a colher e pisar as uvas, aprende a fazer focaccia e geleia e faz refeições harmonizadas. A programação é conduzida pessoalmente por Eduardo Valduga, diretor geral do grupo.

Onde: Vale dos Vinhedos – Bento Gonçalves (RS). Tel.: (54) 2105-3154. casavalduga.com.br
Quanto: Em fevereiro e março, quando vigora o pacote da vindima, o pacote com duas diárias, para o casal, custa R$ 6.200, com hospedagem, todas as refeições e experiências.

Parador Hampel

A antiga Pensão Hampel, construída na virada dos séculos 19 e 20, foi salva do abandono pelo chef de cozinha Marcos Livi.

Proprietário de restaurantes em São Paulo, como o bar Veríssimo e a pizzaria Napoli Centrale, Livi é um experiente assador e transformou o lugar em uma espécie de consulado informal da cultura gaúcha e ponto de encontro de fãs de churrasco.

Todo domingo, o jardim do parador abriga o evento A Ferro & Fogo, um verdadeiro festival de carnes e vegetais assados na brasa, em diferentes tipos de churrasqueiras e até estruturas suspensas, que lembram varais sobre o fogo (R$ 198 por pessoa).

A refeição acontece ao ar livre, à sombra de uma enorme araucária, e pode se prolongar noite adentro —no frio, cadeiras forradas com peles de carneiro e fogueiras mantêm os convidados aquecidos.

Outras experiências de imersão na cultura gaúcha podem ser agendadas, como cavalgadas guiadas pelas propriedades rurais da região e trilhas ao redor do lago.

Um prédio anexo, da década de 1960, abriga 12 suítes, enquanto outras seis ficam na antiga construção de madeira, com 120 anos. Há ainda quatro chalés.

Onde: R. Boca da Serra, nº 445, São Francisco de Paula (RS). Tel.: (54) 99674-1502. paradorhampel.com
Quanto: As diárias para casal custam entre R$ 390 e R$ 830, com café da manhã. Já não há vagas disponíveis para o Carnaval.

Fazenda Provisão

É para quem gosta de chocolate e de história. Localizada entre Ilhéus e Uruçuca (BA), a fazenda de Domingos Adami de Sá, primeiro intendente de Ilhéus e um dos coronéis do cacau, é hoje administrada por seu tataraneto, Roberto Novaes.

Nas mãos da família desde 1815, o casarão é uma viagem no tempo —é possível se hospedar em um dos quatro quartos, decorados com mobília de época. O próprio Novaes costuma recepcionar os visitantes e guiá-los pela fazenda.

A visita percorre as roças de cacau, onde se prova a fruta no pé, passa pelos cochos de fermentação e pelas barcaças de secagem das amêndoas.

Também é possível visitar a capela de Nossa Senhora da Conceição, na entrada da fazenda, percorrer trilhas pela mata e passear de canoa pelo rio Almada.

Uma construção ao lado do casarão, mais recente, dispõe de mais três quartos. A hospedagem inclui todas as refeições com pratos baianos.

Onde: Km 27 da Rodovia Ilhéus – Uruçuca (BA). Tel.: (71) 99624-4646. fazendaprovisao.com.br
Quanto: A diária com pensão completa sai a R$ 300 por pessoa. As visitas acontecem diariamente, das 8h às 16h, e custam R$ 30 por pessoa – não é preciso agendar.

Fonte: Folha de S.Paulo

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