Vale da Utopia tem passado hippie e prática de ‘rock balancing’

Localizado entre as praias da Guarda do Embaú e Pinheira, na região da Palhoça, a cerca de 55 km ao sul de Florianópolis, em Santa Catarina, o Vale da Utopia contempla uma linda paisagem de morros, gramados bem verdinhos, rochedos e praias paradisíacas com águas cristalinas.

O cenário integra a unidade de conservação do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e é composto por trilhas onde o acesso se dá somente a pé, tendo como ponto de partida as praias da Guarda do Embaú e Pinheira.

Para quem sai da praia da Guarda, leva em média duas horas de caminhada, em ritmo normal, contemplando a natureza. Já o aventureiro que opta por partir da praia Pinheira [praia de Cima], o trajeto leva menos de 30 minutos até o vale.

O lugar é considerado místico por alguns turistas, que, em meio à tranquilidade e paisagem totalmente selvagem, podem se sentir convidados à prática da meditação. Quem preferir mergulhos menos metafóricos tem à disposição banhos de mar na Prainha e na praia do Maço, além de caminhadas entre morros e passeios entre os rebanhos de gado.

Famosa por suas ondas que quebram para a direita, a Prainha é uma das preferidas dos surfistas e fica a apenas 20 minutos de caminhada da Guarda do Embaú. O acesso é feito por trilhas entre os morros e campos, e a praia é absolutamente desabitada, com cerca de 200 metros de extensão.

No canto direito da baía, formada por areias finas e brancas, o visitante desfruta de piscinas naturais em meio aos rochedos. Nas rochas próximas aos costões, há registros de inscrições rupestres.

A praia do Maço é pequena, com aproximadamente 50 metros de extensão. No local, havia até pouco tempo atrás apenas um bar que vendia bebidas e lanches rápidos. Depois de 25 anos de funcionamento, o estabelecimento foi demolido na manhã de 15 de março, a pedido do Ministério Público de Santa Catarina.

O órgão ingressou com uma ação judicial em 2010 para desocupação do local, que pertence ao Parque Estadual da Serra do Tabuleiro.

Na praia, também não há casas de veranistas, tampouco edifícios, ruas ou estacionamentos. Lá brilham apenas a Mata Atlântica, borboletas, inúmeras espécies de pássaros silvestres, como canários, sabiás e quero-queros, e bois pastando nas margens dos morros. Além do mar verde esmeralda —ou azul—, vê-se ao fundo as ilhas do Papagaio, Três Irmãs, Moleques do Sul e a Ilha dos Corais.

Segundo alguns nativos da região, o Vale da Utopia foi nomeado por uma artista plástica que viveu no local por mais de duas décadas, entre os anos 1960 e 1970, e também pelo dono das terras, na época.

Na verdade, o desejo deles era criar uma comunidade alternativa na área, o que ficou na… utopia. Integrantes de comunidades hippies acreditavam —e diz-se que ainda acreditam— que lá existe um ponto energético, uma espécie de ‘’portal’’ que faz contato direto com os cosmos na América Latina.

Na pequena praia, de pouca areia e muitas rochas, chamam a atenção as pedras empilhadas à beira-mar. Ainda que a imagem dê margem de novo ao misticismo, trata-se apenas de “rock balancing” [balanceamento de rocha], passatempo voltado ao relaxamento e ao desafio da gravidade.

‘’O exercício requer muita concentração e calma’’, explica o gaúcho Leonardo Carvalho, 37, que que vive em Santa Catarina. Léo, como é conhecido, morou e trabalhou como guia turístico na praia da Guarda do Embaú por mais de cinco anos.

Costumava levar os turistas para conhecer o Vale da Utopia e os incentivava a praticar, ou ao menos tentar, o empilhamento de pedras. ‘’Amontoar pedras é um hábito que me faz relaxar e meditar ao mesmo tempo.”

A chilena Florencia Catalina, 22, visitou o Brasil no verão de 2020. A jovem diz que conheceu as praias de Florianópolis e foi lá que ouviu falar sobre o Vale da Utopia, a praia do Maço e a prática do ‘’rock balancing’’.

Catalina foi de ônibus de Florianópolis a Pinheira. ‘’Fiquei encantada com as praias da Palhoça, inclusive a praia da Pinheira, o Vale da Utopia, Prainha e Guarda do Embaú. Fiz várias trilhas e vi muita gente empilhando pedras no meio do caminho. No início achei estranho, não entendi. Depois me explicaram que era uma maneira de meditar, descontrair, relaxar’’, lembra.

Como chegar

De Florianópolis à praia da Pinheira de ônibus, o turista leva cerca de 1h30 e a passagem custa entre R$ 33 a R$ 40.

Fonte: Folha de S.Paulo

Marcações: