Viajando pelo mundo com o ChatGPT (parte 1)

” Qual a sensação de dormir num yurt na Mongólia?”

“Dormir num tradicional yurt mongol, também chamado de ger, com suas paredes de lona e feltro, oferece uma experiência aconchegante e íntima, bem diferente de dormir numa barraca comum ou num hotel.”

O ChatGPT foi mais longe, descrevendo as paisagens que eu encontraria do lado de fora da tenda típica onde dormem as famílias nesse país de nômades. E completou:

“Quando o forno está aceso, o yurt pode ser bem acolhedor e quentinho, algo que é muito bem-vindo nas noites geladas.”

Bem… eu dormi num yurt em 2008, na volta ao mundo pelos patrimônios da humanidade da Unesco, e posso dizer que é uma aventura à parte. Nem sempre agradável.

Dormi com o forno ligado, mas com medo de incêndio: lona e feltro e um fogareiro! Tinha horas que eu acordava suando, mas quando dormi pesado e o fogo apagou, despertei congelado. Saí da tenda e encontrei o céu mais lindo que já vi na vida, descontando aquele da noite em que fui surpreendido por uma aurora boreal em Alta, na Noruega.

Agora responda rápido: qual das duas respostas te inspiraria mais a viver isso na Mongólia?

Não, esta não é mais uma coluna engraçadinha desdenhando da capacidade do ChatGPT, essa nova ferramenta de inteligência artificial. Eu estava realmente interessado em saber se ele poderia me ajudar a navegar pelo mundo. Veja o que você acha.

Perguntei o que ele diria para uma amiga que tem medo de altura mas queria ir ao topo da Torre Eiffel. Resposta: “É compreensível que ela hesite em subir, já que tem essa fobia, mas existem razões atraentes que ela talvez queira avaliar para superar seus obstáculos”.

Hum… Na sequência, o ChatGPT lista quatro razões para ela subir: melhor vista de Paris; ver a torre de perto; sentimento de conquista (autoajuda!); segurança. E ainda: “Se sua amiga ainda estiver na dúvida, ela pode visitar os andares mais baixos da torre”.

Minha versão: “Diga que ela nunca vai esquecer daquele vento gelado batendo na nuca, que vai fazê-la esquecer qualquer medo e ainda te agradecer para sempre por você tê-la convencido de que esse medo não é nada diante da história que ela vai contar quando chegar em casa!”.

Você decide que conselho é mais valioso…

“É seguro ir para a Rússia como turista agora?”, questionei. ChatGPT: “As áreas mais afetadas pelo conflito estão no leste da Ucrânia, onde não há destinos turísticos na Rússia. Moscou e São Petersburgo não tiveram incidentes violentos ligados à guerra”. Achei útil!

Mais uma: “Sou um fã de futebol; o que devo visitar em Buenos Aires?”. As recomendações do chat vão de uma visita ao estádio do River Plate até ver um jogo na Bombonera. Para quem gosta de literatura, na mesma cidade ele indica a Fundação Jorge Luis Borges, mas não o café La Poesia, em San Telmo, local que o escritor costumava frequentar…

No geral, achei que estava diante de uma página de Wikipédia, só que num tom informal. Por isso não tenho a certeza de que posso, por enquanto, confiar no ChatGPT como uma boa bússola: qualquer pessoa que encontrar pelas ruas das cidades que pesquisei vai me dar uma informação mais rica que as que ouvi lá. Mais humana também.

Nem por isso encerrei minha “conversa” com ele. Pretendo voltar com perguntas do tipo: quais as chances e eu encontrar Björk pelas ruas de Reykjavik?; é verdade que tem um templo budista em Bancoc com uma imagem do Homem-Aranha?; quanto tempo leva para atravessar Funafuti a pé?; por que fui recebido em Timbuktu com a frase “bem-vindo ao fim do mundo”?

Mal posso esperar pelas respostas.

Fonte: Folha de S.Paulo

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