Filas e pessoas dormindo no chão: passageiros narram problemas após cancelamentos de voos causados por bloqueios em SP

Movimentação no Aeroporto Internacional de Guarulhos em São Paulo na tarde desta terça-feira (01). — Foto: SUAMY BEYDOUN/AGIF – AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO

A gerente de Recursos Humanos Natália Lins Brandão tinha uma viagem marcada para Chicago, nos Estados Unidos, às 21h30 de segunda. Ela não conseguiu embarcar porque a tripulação da companhia aérea não chegou a tempo.

Brandão contou ao g1 que estava no aeroporto desde as 17h, mas a companhia aérea só confirmou o cancelamento oficial na madrugada.

“O aeroporto estava tranquilo quando cheguei. Mas por volta das 20h, já no portão de embarque, começaram a vir anúncios com os voos, a princípio, sendo postergados apenas, com a justificativa que a tripulação não estava conseguindo chegar. Só que começou uma avalanche de notificações, com várias companhias fazendo o mesmo. Meu voo foi postergado três vezes e, meia noite e meia, o cancelamento foi definitivo”, contou.

Fila para pegar um taxi durante a madrugada desta terça (31) no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande SP, por causa dos bloqueios bolsonaristas. — Foto: Acervo pessoal

Com o cancelamento na madrugada, a gerente de RH disse que os passageiros começaram a ficar agitados porque não havia hotéis disponíveis para todos, e as estradas de saída de Guarulhos estavam bloqueadas.

“Havia muitos idosos e crianças na sala de embarque, e a companhia aérea afirmou que os hotéis da região já estavam lotados, porque os voos domésticos também haviam sido cancelados, e as pessoas foram distribuídas nos hotéis ao redor. A prioridade seria de idosos e pessoas vulneráveis. A partir daí, os passageiros começaram a se irritar para disputar os vouchers para alimentação, táxi e as poucas vagas em hotéis disponíveis.”

Natália Brandão conseguiu achar um hotel em Guarulhos por conta própria , mas as filas para pegar um táxi e deixar o aeroporto eram enormes, já que os veículos também não estavam conseguindo chegar até lá. Ela só conseguiu chegar ao quarto do hotel por volta de 4h.

“Foi muito estressante e exaustivo. Eu estava sozinha, sem crianças, mas havia muitos idosos, crianças e pessoas com mobilidade reduzida.”

O voo dela foi remarcado para esta terça (1º), às 21h, quando ela finalmente esperar chegar a Chicago para pegar a conexão até Los Angeles, onde vive atualmente.

Segundo a GRU Airport, concessionária do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, os bloqueios bolsonaristas geraram 25 voos foram cancelados, sendo 12 na segunda (31) e 13 nesta terça-feira (01).

Passageiros aguardam por seus voos no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. — Foto: Max Rossi/Reuters

Quase 40 horas de espera

O professor e advogado, Marcos Batista, de 38 anos, chegou de Teresina ao aeroporto de Guarulhos na segunda (31), por volta de 7h, para pegar um voo para Newark, em Nova Jersey (Estados Unidos), às 22h15.

Ao todo, ele espera por um voo por pelo menos 33 horas.

“Por volta das 20h começamos a ouvir anúncios de outros voos atrasados porque a tripulação não conseguia chegar. Depois recebemos aviso de que nosso voo atrasaria e pouco mais de uma hora depois soubemos que estava cancelado.”

Tropa de Choque na Castello Branco em São Paulo, após bloqueio de bolsonaristas. — Foto: Reprodução/TV Globo

Marcos está sozinho no aeroporto e afirmou que só conseguiu um hotel para passar a noite por volta de 3h da madrugada desta terça.

“Centenas de pessoas dormindo no chão, em fila para pegar táxi, famílias com bebês dormindo no chão, nunca tinha passado por algo assim. Estamos tensos, acho que essa tensão só vai acabar quando conseguirmos embarcar.”

“Estou muito estressado. Estou tentando ir encontrar a minha família, amanhã é aniversário da minha sobrinha em um país novo. O que mais me irrita é que é por um motivo antidemocrático. Sou professor de Direito, então ver a Constituição ser afrontada e desrespeitada desse jeito é triste, estou mais triste pelo país do que por mim, com sinceridade”, afirmou.

Tropa de Choque ocupa Castello Branco para retirar manifestantes bolsonaristas — Foto: Reprodução/TV Globo

O cientista Luciano Moreira, de 55 anos, já está esperando há 37 horas. Ele mora em Belo Horizonte e está tentando ir para Miami.

“Ontem 5 horas cheguei no aeroporto de Belo Horizonte para embarcar para Brasília e depois Miami. Meu voo foi cancelando e nos enviaram para Guarulhos, a companhia tinha mudado o itinerário para nos acomodar. O voo foi cancelado novamente de noite pois tripulação não conseguiu vir do hotel. Apesar de companhia oferecer hotel e táxi, não tinha como sair e porque corria risco de não conseguir voltar por causa do protesto. Estou me sentindo um verdadeiro zumbi, dormi só por 2 horas no chão do aeroporto”, afirmou.

“Tentei pagar day use nas salas VIP mas nem isso estavam aceitando por desabastecimento. Hoje de manhã consegui ir no terminal pra conseguir tomar um banho”, continuou.

Voos internacionais atrasados em Guarulhos. — Foto: Arquivo pessoal/ Marcos Batista

Procon-SP notifica empresas

Por causa das reclamações dos passageiros, o Procon-SP notificou companhias aéreas nacionais e internacionais que operam no Brasil para apurar sobre os impactos causados pelos bloqueios de estradas.

O órgão de defesa do consumidor solicitou que as empresas informem quantos voos foram cancelados ou sofreram atrasos em decorrência do problema e qual política está sendo adotada pelas companhias neste momento.

O Procon-SP também indaga sobre como as informações estão sendo prestadas aos consumidores e de que forma o dever de assistência material está sendo cumprido pelas empresas.

De acordo com o órgão, os esclarecimentos deverão ser enviados até 17h de 3 de novembro.

Natália Lins Brandão diz que recebeu a assistência devida da companhia aérea, mas pede mais agilidade.

“Eles prestaram os atendimentos dentro dos protocolos, mas poderia haver mais agilidade na distribuição dos vouchers básicos, como o de alimentação. O tempo todo eles diziam que não tinham informações das autoridades sobre quando a situação se resolveria nas estradas, o que impedia outras ações”, declarou.

Fonte: G1