- Aleem Maqbool e Chelsea Bailey*
- Da BBC News na Pensilvânia e Virginia (EUA)
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reconheceu que a recente ofensiva do Talebã no Afeganistão talvez fosse algo “angustiante” para muitos americanos com profunda conexão com aquele país.
Para saber como algumas destas pessoas receberam as últimas notícias sobre a expansão do grupo extremista, a reportagem da BBC passou um dia com militares veteranos americanos que serviram no Afeganistão e também com afegãos que agora chamam os Estados Unidos de lar.
Apesar da chuva pesada, dezenas de pessoas se reuniram na segunda-feira (16/8) do lado de fora de uma agência dos correios em Hookstown, na Pensilvânia (EUA), para homenagear o sargento Dylan Elchin — que nasceu naquela cidade e morreu após ser atingido por uma bomba em uma estrada do Afeganistão. A agência foi batizada com seu nome.
“É maravilhoso ver Dylan homenageado”, diz Ron Bogolea, avô do militar de 25 anos morto em 2018.
“Ele sacrificou tudo por nosso país e acredito que todos devemos honrar mais nossos militares — pelo que eles fazem não apenas pelos EUA, mas pelo mundo inteiro”, disse ele.
A decisão de retirar as tropas americanas do Afeganistão e a posterior ofensiva do Talebã para a tomada de poder no país não passaram em branco no evento em Hookstown.
“Os acontecimentos dos últimos dias mostraram que nem sempre temos sucesso, certamente não somos perfeitos, mas que nossos corações estão no lugar certo”, disse o congressista norte-americano Conor Lamb na cerimônia.
Mas Christian Easley, um recrutador da Força Aérea que ajudou a treinar Elchin, disse à reportagem que, para ele, as atuais circunstâncias no Afeganistão não mudaram em nada sua perspectiva.
“Dylan teve que seguir ordens para cumprir sua missão. Ele fez tudo o que foi pedido a ele e mais um pouco”, disse Easley.
“Independentemente do que aconteceu na semana passada, eu sei que Dylan fez tudo certo.”
Para alguns, porém, o atual momento exige uma reflexão profunda.
O capitão Jeremy Caskey, responsável por conduzir a cerimônia em Hookstown, também serviu no Afeganistão. Seu irmão, o sargento da Marinha Joseph Caskey, foi morto em combate lá em 2010.
Quando questionado sobre os novos acontecimentos no Afeganistão, ele parou por um momento para organizar seus pensamentos.
“Tem sido muito difícil. Você sempre quer saber se o que está fazendo tem propósito e significado, mas propósito e significado não vêm apenas com a vitória. Acredito que às vezes vêm com o sacrifício e a experiência vivida”, reflete Caskey.
“Estamos melhores? O país está melhor? Eles (afegãos) estão melhores? É difícil dizer.”
A poucos quilômetros da Casa Branca, Fawzia Etemadi e seu primo, Hamid Naweed, assistiram ao discurso do presidente Biden com um silêncio carregado.
“Confiamos em Joe Biden, mas estamos um pouco decepcionados — o mundo está decepcionado”, disse Fawzia, para quem Biden deveria cumprir sua promessa de trazer paz ao país dela.
“Os afegãos sofreram nos últimos 40 anos.”
Como milhares de afegãos que vivem no norte do Estado da Virgínia, Fawzia e Hamid fugiram do Afeganistão como refugiados na década de 1980 e acabaram se estabelecendo a poucos quilômetros da capital dos Estados Unidos. Essa região abriga uma das maiores diásporas afegãs do país.
Enquanto bebem chá no restaurante da família, o Afghan Bistro, Fawzia e Hamid contam que passaram grande parte da semana passada angustiados.
“Não conseguíamos dormir, estávamos preocupados com nossos entes queridos em casa”, diz Hamid, ex-professor da Universidade de Cabul, na capital afegã.
Ver tantas pessoas tentando fugir de sua pátria, “fugindo das suas esperanças”, também foi difícil.
“Não sei como o Talebã chegou ao poder tão rápido”, continuou Hamid, “mas espero que o mundo reconheça que o povo do Afeganistão precisa de liberdade e independência, e que merecemos viver em paz.”
*Colaborou na reportagem Xinyan Yu
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Fonte: BBC