No dia em Brandon Lee morreu, a ficção se transformou em tragédia.
Era 30 de março de 1993. O jovem ator rodava uma das sequências do filme “O Corvo”, baseada em uma história em quadrinhos com o mesmo nome. Brandon era muito famoso pelo seu trabalho na época, assim como o seu pai, Bruce Lee, um fenômeno de filmes de ação e de artes marciais.
Em uma das cenas que gravou naquela noite, o personagem de Brandon deveria entrar em um apartamento e encontrar a sua noiva sendo espancada e estuprada por quatro homens. Um desses criminosos, interpretado pelo ator Michael Massee, deveria disparar à queima-roupa contra o personagem de Brandon e matá-lo.
A gravação da cena ocorreu como o planejado, mas no fim ficou claro que havia algo errado, porque Brandon não se levantou do chão. Ele foi baleado de verdade.
Doze horas depois, o jovem ator morreu em um hospital.
Desde a morte de Brandon Lee, a indústria cinematográfica dos Estados Unidos não havia enfrentado um acidente mortal com arma de fogo até o incidente envolvendo o ator Alex Baldwin, que matou de forma acidental a diretora de fotografia Halyna Hutchins durante uma gravação do filme Rust.
Após a repercussão da morte de Hutchins, a irmã de Brandon, Shannon Lee, fez uma publicação em seu Twitter.
“Nossos corações estão com a família de Halyna Hutchins e com Joel Souza e com todos os envolvidos no acidente de Rust”, escreveu, em referência à diretora de fotografia e ao diretor do filme, que também foi ferido.
“Ninguém nunca deveria morrer por uma arma em um set de gravação”, acrescentou.
Mas como foi o acidente em que Brandon Lee morreu?
Um erro fatal
O protagonista de “O Corvo” morreu após ser atingido por uma bala que atravessou o seu abdômen, afetou vários de seus órgãos e ficou alojada em sua coluna.
A arma usada na cena deveria conter balas de festim. Mas em vez disso, o ator foi baleado com um projétil calibre 44.
As balas de festim são essencialmente balas reais modificadas que possuem pólvora, mas não têm o projétil, que é uma ponta perfurante.
Sem o projétil, essa arma causa muitas faíscas e um estampido para causar o impacto de um tiro para alcançar a imagem desejada na gravação, mas nenhuma munição é disparada.
Porém, no caso de “O Corvo”, aparentemente a arma usada para disparar contra Brandon Lee continha um pedaço de projétil que se alojou no cano da arma durante uma cena filmada dias antes, na qual foi usada uma bala semelhante à de verdade, mas que não tinha pólvora. Esse tipo de bala também é usado para passar verdade em algumas cenas.
A arma não foi inspecionada entre uma cena e outra. Naquele fatídico 30 de março quando foi usada contra Brandon Lee, a explosão do cartucho de festim disparou o pedaço de projétil alojado no cano, baleando o ator.
Após uma investigação que durou meses, a promotoria decidiu não aplicar punição a ninguém pela morte de Lee, apesar de parecer claro que haviam cometido algum tipo de negligência.
Em setembro de 1993, o promotor distrital Jerry Spivey anunciou que a investigação policial não havia revelado evidências de nenhum delito contra nenhuma pessoa envolvida nas filmagens nem contra a Crowvision, a produtora do filme.
“Há uma parte de mim que quer denunciar e ter um julgamento, mas seria um ponto de vista puramente legal, não me sentiria cômodo com as circunstâncias, como as conheço, acusando a Crowvision de homicídio culposo (quando não há intenção de matar)”, disse o promotor.
Assim, mesmo com a evidente negligência que teve impacto na morte do ator, o Ministério Público considerou que não foi uma negligência deliberada e gratuita, que poderia implicar em algum tipo de condenação.
Após ser suspensa por um período, a gravação do filme “O Corvo” foi retomada e a produção foi finalizada com alguns truques para que a ausência de Brandon Lee não fosse percebida.
O impacto da tragédia, porém, foi duradouro não apenas para a família do ator morto.
Muito abalado com o que aconteceu, o ator Michael Massee tirou um ano sabático antes de voltar a trabalhar. Em 2005, ele confessou em uma entrevista que levou muito tempo para conseguir seguir adiante com a sua vida.
“Não acho que vou conseguir superar completamente algo assim”, disse Massee, que morreu em 2016 sem nunca ter assistido ao filme.
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Fonte: BBC