Alemanha, o país que renasceu das guerras para liderar a Europa

Chanceler Angela Merkel discursa no Bundestag

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O atual parlamento alemão é composto por 709 deputados

A Alemanha é a nação mais industrializada e populosa da Europa. Famoso por suas realizações tecnológicas e por sua cerveja – celebrada na conhecida festa Oktoberfest -, o país também produziu alguns dos compositores, filósofos e poetas mais celebrados do continente.

Tendo atingido a unificação nacional mais tarde que outras nações europeias, apenas na segunda metade do século 19, a Alemanha rapidamente recuperou terreno econômica e militarmente.

Sua expansão e disputa por influência e territórios com outras potências europeias levaram à Primeira Guerra Mundial.

As cicatrizes do conflito serviram de base para o surgimento na Alemanha do movimento nazista, liderado por Adolf Hitler, e sua política agressiva, que levou à Segunda Guerra Mundial. Em ambos os conflitos a Alemanha saiu derrotada.

Os efeitos das duas guerras mundiais, no entanto, deixaram o país destruído, enfrentando o legado do nazismo e dividido em dois, em meio à disputa entre os dois blocos europeus da Guerra Fria.

A parte oriental ficou dentro da esfera política da União Soviética e adotou o sistema socialista, com um regime de partido único.

O lado ocidental, por sua vez, ficou sob influência dos Estados Unidos e das potências europeias ocidentais, com um sistema capitalista e um governo democrático.

A capital alemã, Berlim, partilhada ao final da guerra, ficou dividida em duas, apesar de estar dentro do território oriental.

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A Alemanha é muito reconhecida por sua alta tecnologia e também por sua cerveja

A Alemanha Ocidental tornou-se o gigante econômico do continente, além de uma força vital para o processo de cooperação europeia.

No final dos anos 1980, com o bloco comunista europeu enfrentando dificuldades internas e dificuldades em competir tecnologicamente com o Ocidente, cresceu a pressão por mudanças.

Em 1989, após sinalização soviética de que não interferiria no futuro da Alemanha, a população de Berlim tomou o muro e seu entorno, que dividiam a cidade – sem que os soldados do regime oriental reagissem.

O muro foi derrubado, iniciando o processo de reunificação alemã.

Com o fim da Guerra Fria e as duas partes da Alemanha novamente unidas, o país assumiu um papel de liderança econômica e política no continente – embora a economia do antigo lado oriental continuasse a ficar atrás da parte ocidental.

O processo de integração da Europa, por meio da União Europeia, consolidou a posição de liderança da Alemanha, que ao lado da França serviu de pilar para o fortalecimento do bloco.

Chanceler (primeira-ministra): Angela Merkel

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Angela Merkel chegou ao poder em 2005 e tornou-se uma das maiores líderes da história alemã

A democrata-cristão Angela Merkel, a primeira mulher a ocupar o cargo de chanceler na Alemanha, começou a governar o país em 2005, sempre em coalizão com os liberais do Democratas Livres ou os Social-Democratas, de centro-esquerda.

Nas eleições de 2017, porém, Merkel perdeu terreno, com o avanço da legenda populista e anti-imigração Aliança pela Alemanha (AfD), que ficou em terceiro lugar.

A AfD explorou tensões sociais em torno da chegada de mais de 1 milhão de pessoas do Oriente Médio, Ásia Ocidental e África, depois que Merkel ofereceu asilo a refugiados fugindo da guerra na Síria, em meados de 2015.

Após fracassadas tentativas de formar um governo com os Democratas Livres e os Verdes, Merkel montou uma “Grande Coalizão”, com os enfraquecidos social-democratas.

Angela Merkel tornou-se líder da União Democrata Cristã em 2000, depois de um escândalo de financiamento partidário que manchou a imagem de seu mentor de longa data, o ex-chanceler Helmut Kohl.

Ela nasceu em Hamburgo, em 1954, mas cresceu na comunista Alemanha Oriental, onde seu pai era um pastor protestante.

Presidente: Frank-Walter Steinmeier

O ex-ministro do Exterior Frank-Walter Steinmeier foi eleito presidente federal em fevereiro de 2017, sucedendo Joachim Gauck. Social-democrata, Steinmeier recebeu o apoio da “grande coalizão” da chanceler Angela Merkel, formada por partidos de centro-direita e centro-esquerda.

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O presidente Frank-Walter Steinmeier, eleito em 2017, prometeu combater o populismo xenófobo na Alemanha

Em seu discurso ao aceitar o cargo, ele prometeu enfrentar o aumento do populismo xenófobo e promover o diálogo entre comunidades e a democracia.

Essa questão ficou ainda mais importante em setembro de 2017, quando o AfG, partido contrário à imigração, tornou-se o primeiro partido de extrema-direita a obter assentos no Parlamento alemão desde a Segunda Guerra Mundial.

O disputado mercado televisivo da Alemanha é o maior da Europa, com mais de 38 milhões de domicílios.

Transmissoras regionais e nacionais públicas disputam uma corrida por audiência com poderosos operadores comerciais.

Os alemães são ávidos leitores de jornais, e a imprensa de qualidade é uma fonte de notícias de alta credibilidade.

O uso da internet é quase universal, e o Facebook é a rede social mais popular.

Entre as publicações alemãs mais conhecidas internacionalmente estão a revista Des Spiegel e os jornais Bild e Die Welt.

A rede pública de televisão e rádio Deutsche Welle opera de forma independente do governo, com sua independência editorial garantida em lei, e produz conteúdo jornalístico em cerca de 30 línguas, entre elas o português, com foco no público brasileiro.

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A imprensa alemã é uma das mais importantes do mundo, e seu mercado de TV é o maior da Europa

RELAÇÕES COM O BRASIL

As relações entre Brasil e Alemanha foram estabelecidas pouco depois da unificação alemã, no mesmo ano de 1871.

O regime ditatorial brasileiro conhecido por Estado Novo (1937-45), comandado por Getúlio Vargas, manteve boas relações comerciai com Berlim.

O líder brasileiro tinha afinidade ideológica com o caráter nacionalista de regimes como o nazista, na Alemanha, e o de Mussolini, fascista, na Itália.

Com a eclosão da Segunda Guerra, o Brasil de Vargas manteve-se neutro por três anos, até que, em agosto de 1942, declarou-se em estado de guerra contra a Alemanha nazista e a Itália fascista.

Em junho de 1944, o Brasil enviou tropas para combater os alemães em território italiano.

As relações diplomáticas entre Brasil e Alemanha foram restabelecidas em 1951, entre Brasília e o regime alemão ocidental, então baseado em Bonn.

O Brasil tem uma significativa população de origem alemã, após ondas imigratórias no século 19 e após as duas guerras mundiais.

Estimativas apontam para um total de até 5 milhões de brasileiros com ascendência alemã, sendo que a maior concentração está em Estados do sul do país, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

LINHA DO TEMPO

Importantes datas na história da Alemanha:

1871 – Otto von Bismarck unifica a Alemanha.

1914-18 – Primeira Guerra Mundial. A Alemanha é derrotada e se torna uma república.

1933 – Adolf Hitler, chefe do Partido Nazista, de extrema-direita, torna-se chanceler alemão.

1939-45 – Na Segunda Guerra Mundial, a Alemanha é derrotada e posteriormente dividida. O lado oeste forma a Alemanha Ocidental, apoiada pelo Ocidente, e o leste, controlado inicialmente pela União Soviética, torna-se a Alemanha Oriental.

1955 – A Alemanha Ocidental torna-se membro da Otan, a aliança militar ocidental. A Alemanha Oriental passa a integrar o Pacto de Varsóvia, o pacto militar do bloco comunista.

1957 – A Alemanha Ocidental é membro-fundador da Comunidade Econômica Europeia.

1961 – Construção do Muro de Berlim, como forma de prevenir a fuga de alemães orientais para o lado ocidental, que tornava-se cada vez mais próspero.

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A queda do Muro de Berlim, em 1989, tornou-se o maior símbolo do fim da Guerra Fria entre Ocidente e Oriente

1970 – O chanceler da Alemanha Ocidental, Willy Brandt, estabelece relações com a Alemanha Oriental, num esforço de aliviar as tensões com a chamada Cortina de Ferro.

1989 – Grande êxodo de alemães orientais, depois que países do bloco soviético relaxam as restrições contra viagens. O Muro Berlim é derrubado.

1990 – O chanceler Helmut Kohl reunifica a Alemanha como um único país.

2005 – A democrata-cristã Angela Merkel torna-se chanceler alemã.

2015-16 – O governo permite que mais de 1 milhão de imigrantes vindos do Oriente Médio e outras áreas, em busca de asilo, permaneçam no país. A medida leva a um aumento da preocupação de muitos quanto a crimes e pressão sobre serviços públicos, o que é explorado por políticos de extrema-direita.

Fonte: BBC