Canadá recruta pela internet brasileiros para trabalhar no país. Saiba como funciona o processo

Conhecido por ser um dos países mais receptivos a estrangeiros, o Canadá busca imigrantes para reconstruir a economia — e a boa notícia é que há interesse por trabalhadores brasileiros. A agência governamental Québec Internacional, ligada ao governo da província homônima onde a língua é o francês, recrutará de 28 de fevereiro a 4 de abril apenas brasileiros para vagas de emprego em empresas da região, em processo totalmente online pelo site Québec na Cabeça. As entrevistas acontecerão entre 25 e 29 de abril.

A iniciativa faz parte de um movimento canadense de buscar ativamente imigrantes para dar conta da falta de mão de obra local, em meio a uma população que envelhece cada vez mais e é pequena (38 milhões de habitantes para um país do tamanho dos Estados Unidos, que tem 330 milhões de pessoas). O “feirão” de recrutamento da Québec Internacional é uma das formas de imigrar, mas é possível ainda tentar a residência permanente pela internet, no site do governo do Canadá, sem nunca ter colocado os pés no país ou ter recebido oferta de emprego (leia mais abaixo). A realidade contrasta com a de outros países, como Reino Unido e Estados Unidos, que endureceram as regras para entrada.

Em fevereiro, o ministro de Imigração, Refugiados e Cidadania, Sean Fraser, anunciou que o país pretende conceder, anualmente, vistos a um número de estrangeiros equivalente a 1% da população. Isso representa 431.645 residentes permanentes em 2022, 447.055 em 2023 e 451 mil em 2024. A boa vontade com pessoas de fora pode ser explicada pela demografia local: 21,9% dos habitantes são estrangeiros e 17,7% são canadenses filhos de imigrantes, segundo o Statistics Canada.

Wikimedia Commons / Reprodução

“Nosso sistema de imigração tem ajudado a moldar o Canadá no país que é hoje: próspero, diverso e aberto àqueles que precisam. Imigrantes enriquecem e melhoram nossas comunidades, trabalham diariamente para criar empregos, cuidam de nossos entes queridos e dão suporte a negócios locais. Imigrantes são peça-chave no contínuo sucesso do Canadá”, afirma, por e-mail, o setor de Imigração e Vistos do Consulado-Geral do Canadá em São Paulo. Segundo a brasileira Elisa Rinco, diretora de mobilidade internacional na agência governamental Québec Internacional, as empresas da região buscam, atualmente, profissionais das áreas de Tecnologia da Informação, games, manufaturação e saúde. A cada “feirão” de vagas, há novas áreas — já foram feitos recrutamentos para restaurantes, hotelaria e setor de transportes. A maioria das vagas exige conhecimento em francês, mas algumas requerem apenas inglês e comprometimento de que, ao chegar, o funcionário aprenderá o idioma latino.

— O nível de preparação dos candidatos é alto, eles têm certificações e especializações. Ao chegar aqui, o brasileiro executa bem as tarefas e tem background com experiências no Brasil — afirma Elisa, destacando que brasileiros são bem-vistos pelo mercado canadense. A comunidade brazuca é relevante no país: em 2021, a nacionalidade brasileira foi a sétima que mais recebeu vistos, segundo a Embaixada do Canadá em Brasília. Foram 11.420 permissões para residência. Quem conseguir emprego será bem recompensado. O salário mínimo é definido por província e, em Québec, é de 14,25 dólares canadenses por hora (equivalente a cerca de R$ 57) — mas todas as vagas pagam mais do que o mínimo. O país também dá mais valor ao equilíbrio entre profissão e vida pessoal: a jornada semanal costuma ser de 35 horas a 37,5 horas semanais, podendo chegar a 40 horas.

— Aqui é muito importante conciliar trabalho e família. A jornada começa mais cedo, entre 7h e 8h30min, e termina entre 16h30min e 17h, para as pessoas poderem aproveitar o resto do dia. O trabalho extra não é imposto, a empresa consulta o trabalhador porque sabe que as pessoas têm vida pessoal — acrescenta Elisa. Uma das recrutadoras de brasileiros que atuará na missão da Québec Internacional é a paranaense Erika Bially, 55, que imigrou para o Canadá em 2006 com o marido, um filho de 12 anos e dois gêmeos de cinco anos. Em Curitiba, ela atuava como diretora-gerencial de uma empresa de TI. Quando chegou a Québec, deu dois passos para trás na carreira e foi contratada como especialista. Em três anos, havia sido promovida e já era gerente. Hoje, é vice-presidente da CGI, multinacional na área de tecnologia da informação. — Tive que voltar atrás na carreira, mas tenho personalidade forte e trabalho. Mostrei capacidade e, em um ano e meio, havia sido promovida e estava em nível de gestão. Tem gente que leva mais tempo, depende do quanto você investe na empresa. Mas é possível, não ache que é impossível. No Canadá, não existe discriminação dizendo que você é brasileiro e que não será possível. O povo canadense é aberto à imigração, isso é essencial para o crescimento da economia — diz Erika.

Imigração a distância

Há como ir ao Canadá sem proposta formal de emprego. Entre os 64 processos diferentes para imigrar, um dos mais conhecidos é o Express Entry, também chamado de sistema de pontos. O candidato responde a uma série de perguntas, cujas respostas geram uma pontuação até 1.200. A nota de corte varia a cada rodada de aceite – nos últimos anos, variaram entre 370 e mais de 700. Se aprovado, você é convidado a receber residência permanente, mesmo sem nunca ter pisado no país. Ganham pontos as pessoas com mais estudo, menor idade, mais anos de experiência profissional e que comprovem dominar inglês ou francês. Ter família não é impeditivo. Também é preciso ter dinheiro para viver enquanto procura emprego – a partir de 13.213 dólares canadenses se você emigrar sozinho (mais de R$ 53,7 mil). — É um país gigantesco com só 38 milhões de habitantes. É muito rico em indústria e serviço, mas não tem gente pra trabalhar. Tem muita vaga em TI, medicina e engenharias em geral, mas você pode ter um nível de vida espetacular sendo até pedreiro. É inglês ou francês que vai marcar teu sucesso — diz Ed Santos, consultor de migração regulamentado pelo governo canadense e sócio da Canadá Intercâmbio. // GZH.

Fonte: Brazilian Press