Condutor de metrô relata trauma de testemunhar tentativas de suicídio

Javier García cresceu sonhando em se tornar um condutor de metrô, como seu pai.

Mas esse sonho, que se materializou quando ele tinha apenas 20 anos, virou um pesadelo com o passar do tempo.

Poucos condutores de metrô já presenciaram tentativas de suicídio dos usuários.

Uma parcela ainda menor testemunhou esse tipo de incidente mais de uma vez.

García, no entanto, passou por isso oito vezes.

Embora nem todas as tentativas de suicídio terminem em morte, para os condutores, trata-se de uma experiência traumática.

“Desde o início, um dos principais medos é que haja alguém nos trilhos, ou que alguém se jogue ou caia e acabe sendo atropelado por você”, diz García à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.

“Você sempre pensa: poderia ter evitado isso? Por que eu? Há pessoas que são impactadas por um suicídio pelo resto da vida”, acrescenta.

Quando testemunhou a oitava tentativa de suicídio, no mesmo dia em que voltou da licença que tirou por ter testemunhado outra, ele “mergulhou na depressão”.

“Você passa a ter discussões com seu cônjuge e seu círculo familiar acaba destruído. Não queria escutar minha esposa. Não queria saber nada sobre minha filha de dois anos”, lembra.

“Só ia de casa para o médico. Da cama ao sofá. Cheguei a pesar 157 quilos”, acrescenta.

García conta que, um dia, ao voltar para casa, teve uma discussão acalorada com sua esposa. Em seguida, foi à praia com a intenção de tirar a própria vida.

“No carro, lembrei-me do sorriso da minha filha. E mudei de planos. Nestes momentos, tudo pode acontecer”, diz.

“Voltei para casa aos prantos, pensando no absurdo que ia fazer. Tentei me consolar o máximo que pude. Voltei a pensar: por que vou me suicidar?”

“Não sou culpado pelo que aconteceu comigo.”

Apesar de tudo, García diz que ainda tem paixão por trens.

“Minha paixão por eles será eterna”, diz.

Desde então, García mudou de área. A empresa lhe ofereceu um emprego alternativo na equipe que realiza testes de bafômetro nos condutores.

Se você está deprimido e tem pensamentos suicidas, ligue para o Centro de Valorização da Vida (CVV) através do número 188. As ligações são gratuitas para todo o Brasil.

Reportagem de Enric Botella / Imagens: Derrick Evans

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Fonte: BBC