Covid: as duras regras de controle suspensas pela China após protestos

  • Frances Mao
  • BBC News

Autoridades sanitárias da China

Crédito, Getty Images

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Manifestações sem precedentes levaram governo comunista a repensar medidas anticovid

A China está suspendendo suas medidas contra covid mais severas — incluindo forçar pessoas a ir para campos de quarentena — apenas uma semana após protestos históricos contra os controles rígidos impostos pelo governo comunista decorrentes de sua política de ‘covid zero’.

Infectados com a doença podem agora se isolar em casa, em vez de nas instalações do Estado, se apresentarem sintomas leves ou inexistentes.

Também não precisam mais apresentar diagnósticos negativos para entrar na maioria dos locais e podem viajar com mais liberdade dentro do país.

Nas redes sociais, chineses expressaram alívio, mas também preocupação com as mudanças repentinas.

“Finalmente! Não vou mais me preocupar em ser infectado ou retirado de casa por ser um contato próximo”, escreveu um usuário nas redes sociais chinesas.

Outro disse: “Alguém pode me explicar o que está acontecendo? Por que a mudança é tão repentina e tão importante?”

As mudanças radicais indicam que a China está finalmente se afastando de sua política de “covid zero” e procurando “viver com o vírus” como o restante do mundo.

Isso ocorre quando o país enfrenta sua maior onda de infecções — mais de 30 mil por dia.

Também nas redes sociais, alguns usuários questionaram a abertura acelerada. “O sistema médico ficará sobrecarregado e muitos idosos serão infectados. Começa agora”, escreveu um usuário.

Mas muitos outros comemoraram o afrouxamento de uma política que controlou suas vidas por quase três anos.

Até agora, a China havia forçado infectados por covid e aqueles que tiveram qualquer contato próximo com alguém infectado a ir para campos de quarentena. Essa política se provou tremendamente impopular porque separou famílias e removeu pessoas à força de suas casas.

Alguns dos centros também apresentavam más condições de vida e funcionários pouco capacitados.

Durante todo o ano, vídeos mostraram guardas arrastando pessoas para fora de suas casas depois que elas se recusaram a deixar suas casas. Imagens de Hangzhou na semana passada mostraram um homem lutando contra as autoridades.

A Comissão Nacional de Saúde da China anunciou uma série de outras medidas nesta quarta-feira, entre as quais:

  • Número de testes reduzido: os testes rápidos substituirão os testes de PCR na maioria dos cenários em que um resultado é necessário, embora os PCRs ainda sejam obrigatórios para escolas, hospitais e lares de idosos.
  • Lockdowns continuam, mas vão ser usados apenas em áreas mais específicas: por exemplo, certos edifícios, unidades ou andares, em vez de bairros ou cidades inteiras sendo confinadas.
  • Áreas identificadas como de “alto risco” devem encerrar o confinamento em cinco dias se nenhum novo caso for encontrado: várias cidades na China sofreram lockdowns de meses este ano, mesmo quando havia apenas um pequeno número de casos.
  • Escolas podem permanecer abertas e recebendo estudantes se não houver um surto mais amplo no campus

As novas diretrizes também incluem uma proibição estrita de bloquear saídas e portas de incêndio e estabelecem que as pessoas devem ter acesso a tratamento médico de emergência e rotas de fuga sem impedimentos por medidas pandêmicas.

Isso ocorre após relatos de pessoas trancadas em suas casas durante um terremoto e edifícios selados por medidas de confinamento.

Os recentes protestos foram desencadeados por um incêndio mortal na região ocidental de Xinjiang — críticos disseram que as vítimas não conseguiram escapar do prédio devido às restrições contra a covid, mas Pequim nega isso.

Também houve relatos reiterados de atrasos no atendimento médico de emergência para pessoas em áreas sob lockdown.

Nesta quarta-feira, as autoridades também ressaltaram a necessidade de acelerar a vacinação dos idosos.

“Todas as localidades devem aderir… concentrar-se em melhorar a taxa de vacinação de pessoas de 60 a 79 anos, acelerar a taxa de vacinação de pessoas com 80 anos ou mais e tomar providências especiais”, informou a Comissão Nacional de Saúde.

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Mudanças indicam que China está deixando para trás sua política de ‘covid zero’ e que vai buscar ‘viver com o vírus’ como o restante do mundo

O afrouxamento das medidas ocorreu depois que o país viu seus maiores protestos em décadas. Na semana passada, multidões foram às ruas em várias cidades para criticar lockdowns e restrições pandêmicas.

As manifestações em alguns lugares também se transformaram em críticas diretas ao presidente Xi Jinping e ao Partido Comunista Chinês — em claro sinal de afrontamento ao sistema, considerando a intolerância do país à dissidência política.

Desde os protestos de 24 a 26 de novembro, as autoridades chinesas começaram a liberar algumas cidades do confinamento. Também amenizaram o tom sobre os perigos da covid.

O vice-primeiro-ministro do país, Sun Chunlan, sinalizou na semana passada que a China estava entrando em “uma nova situação” na pandemia e que a capacidade do vírus de causar doenças estava enfraquecendo.

Especialistas alertaram que qualquer flexibilização da política de covid zero na China teria que ser feito lentamente — já que o país de 1,4 bilhão de pessoas pode ver um grande salto nos casos que pode, eventualmente, sobrecarregar seu sistema de saúde.

Acelerar a vacinação de sua população idosa é fundamental, dizem especialistas em saúde.

“A principal maneira de a China sair da covid com menos danos é por meio da vacinação e três doses são obrigatórias”, disse o professor Ivan Hung, da Universidade de Hong Kong, à BBC no início desta semana.

“Esperamos que isso seja feito antes do Ano Novo Chinês [em janeiro de 2023], pois haverá um grande movimento da população viajando e voltando para casa”, acrescentou.

As fronteiras internacionais da China também permanecem fechadas para a maioria dos estrangeiros, no entanto, alguns analistas dizem que as recém-implementadas mudanças sinalizam que o país pode reabrir no próximo ano.

Fonte: BBC