De ‘Blade jumper’ a estrela da dança: 8 atletas para ficar de olho na Paralimpíada de Tóquio

  • Elizabeth Hudson
  • Da BBC Sport

Markus Rehm no salto em distância

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Markus Rehm tem favoritismo no salto em distância da Paralimpíada

A Paralimpíada de Tóquio, que começa nesta terça-feira (24/8), vai reunir 4,4 mil atletas competindo em 539 eventos de medalhas em 22 esportes.

Alguns dos competidores já são estrelas internacionais, enquanto outros tentam deixar sua marca ao debutar nas Paralimpíadas – além de promover mudanças positivas para pessoas com deficiência em seus respectivos países.

A BBC Sports mostra oito desses atletas em quem vale a pena ficar de olho nos próximos dias de competição:

Markus Rehm (Alemanha, para-atletismo)

Conhecido como “Blade Jumper”, Rehm tem dominado na competição de salto em distância com prótese (na categoria antes chamada de T44, atualmente T64) desde sua estreia nas pistas, em 2011, e é amplamente considerado favorito para seu terceiro título paralímpico.

Ele arrematou o ouro no Mundial de 2019 por 92 cm, e seu salto vencedor no Campeonato Europeu deste ano (com distância de 8,62 cm) teria sido suficiente para lhe garantir a medalha de ouro nas últimas seis competições olímpicas.

Rehm teve sua perna direita amputada abaixo do joelho após um acidente de wakeboard, em 2005,, quando tinha 14 anos. Ele passou a se dedicar ao para-atletismo pouco tempo depois. Tentou competir na Olimpíada de 2016, no Rio, mas não conseguiu provar que não obteria vantagens por conta da lâmina que ele usa como prótese.

Além de ser para-atleta, Rehm também trabalha como protesista, ajudando a implantar próteses em pessoas que perderam membros.

Final do salto em distância T64: quarta-feira, 1° de setembro

Shingo Kunieda (Japão, tênis em cadeira de rodas)

Um eventual êxito, em casa, para o número um do tênis em cadeira de rodas será visto como um marco para pessoas com deficiência no Japão.

Kunieda venceu no tênis individual na disputa de Pequim-2008, quatro anos depois de estrear com uma medalha de ouro na disputa de duplas da Paralimpíada de Atenas-2004. Ele manteve o título em Londres-2012, mas sofreu com uma lesão nos Jogos do Rio-2016 e voltou com uma medalha de bronze nas duplas.

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Kunieda é um dos destaques do Japão na Paralimpíada

Diagnosticado com um tumor na medula espinhal aos 9 anos de idade, Kunieda começou a jogar tênis dois anos depois e se tornou uma figura dominante no esporte.

No ano passado, ele venceu seu sétimo título de US Open – seu 45° título de Grand Slam no geral, batendo o recorde da holandesa Esther Vergeer. Embora tenha sido derrotado pelo britânico Alfie Hewett no torneio de Roland Garros e por Gordon Reid em Wimbledon, ele é considerado um dos favoritos.

Tênir em cadeira de rodas (individuais e em duplas): de 27 de agosto a 4 de setembro

Husnah Kukundakwe (Uganda, para-natação)

Kukundakwe dificilmente conquistará uma medalha em Tóquio, mas, aos 14 anos de idade, ela tem algo mais importante como missão: chamar atenção para as pessoas com deficiência em Uganda, onde, segundo ela, “elas não são consideradas normais”.

Nascida sem o antebraço direito e com uma deficiência na mão esquerda, Kukundakwe costumava usar roupas de manga comprida, mesmo no calor do verão, para esconder sua deficiência.

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Kukundakwe quer mudar a percepção de Uganda sobre as pessoas com deficiência

Mas, ao descobrir a natação na escola, sua vida mudou. Hoje, ela é a única representante de seu país nessa modalidade em Tóquio, depois de ter treinado junto a atletas sem deficiências.

Ela estreou no Mundial de Londres, em 2019, onde competiu nos 50m e 100m livres na categoria S9, tendo finalizado em 14° e 12° lugar respectivamente. Na Paralimpíada de Tóquio, se classificou apenas para os 100m nado peito SB8.

100m Nado peito SB8: quinta-feira, 26 de agosto

Michael Brannigan (EUA, para-atletismo)

Se a pandemia de covid-19 teve impacto nos atletas como um todo, os entraves foram ainda mais agudos para os que têm dificuldades de aprendizado, como Brannigan, 24 anos.

Ele foi diagnosticado com autismo na infância e a corrida lhe deu um propósito e uma forma de extravasar.

Nos Jogos do Rio, ele foi ouro na prova de 1500m T20.

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Brannigan levou o ouro em sua estreia, na Rio-2016

O adiamento dos Jogos de Tóquio, por culpa do coronavírus, foi difícil para Branningan. Segundo sua mãe, Edie, ele não conseguia entender o que estava acontecendo.

Branningan e sua técnica, Sonja Robinson, outra figura-chave em sua vida, têm desde então trabalhado em colocá-lo de volta nas pistas. Para conquistar um novo ouro, Brannigan terá de enfrentar outro favorito, o russo Aleksandr Rabotnitskii, campeão do mundo em 2019.

Final dos 1500m T20: Sexta-feira, 3 de setembro

Kate O’Brien (Canadá, Para-ciclismo)

O esporte paralímpico nunca havia sido parte da vida de O’Brien até 2017, quando a ex-competidora de bobsled e então ciclista sofreu um acidente durante um treino.

O pneu de sua bicicleta furou e ela acabou colidindo com uma moto que estava ao seu lado. O acidente a deixou em coma com uma séria lesão cerebral.

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O’Brien fará parte do seleto grupo que já competiu tanto em Olimpíada quanto Paralimpíada

Houve dúvidas quanto a se ela voltaria a caminhar, andar de bicicleta ou mesmo falar. Diante da ruína de seu sonho olímpico, ela – inicialmente relutantemente – entrou no paraciclismo, onde tem feito carreira, apesar de seu diagnóstico de epilepsia em 2018.

No Mundial de 2020 no Canadá (que foi seu primeiro evento de para-ciclismo de grande porte), O’Brien levou o ouro nos 500m categoria C4 e bateu o recorde mundial.

C4-5 500m: Sexta-feira, 27 de agosto, C4 de estrada: terça-feira, 31 de agosto

Birgit Skarstein (Noruega, remo paralímpico)

Skarstein está se preparando para os 12 meses mais ocupados de sua carreira atlética: primeiro, ela – que é a atual campeã mundial no remo individual feminino – vai competir em Tóquio. Alguns meses depois, já no início de 2022, ela vai disputar uma prova de esqui nos Jogos Paralímpicos de Inverno em Pequim.

Ela ganhou fama em seu país no ano passado, ao ser a primeira dançarina em cadeira de rodas a participar do programa Skal vi Danse? – a versão norueguesa de Dança dos Famosos. Ela e seu parceiro Philip Raabe foram o primeiro casal a obter uma pontuação máxima no programa e, durante oito semanas, entusiasmaram os espectadores com coreografias de rumba, paso doble e tango.

Crédito, TV 2

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Birgit Skarstein no programa Skal vi Danse?, o Dança dos Famosos da Noruega, é uma estrela do remo

Skarstein ficou paraplégica em 2010, aos 16 anos, quando sofreu uma lesão na medula espinhal ao receber uma injeção peridural durante um tratamento para uma lesão na perna.

Ela chega aos Jogos de Tóquio embalada pela conquista do ouro no Campeonato Europeu, em abril.

Remo feminino individual PR1: Sexta-feira, 27 de agosto (classificatórias), sábado, 28 de agosto (repescagem) e domingo, 29 de agosto (final)

Anastasia Pagonis (EUA, para-natação)

Estrela da natação e influencer nas redes sociais, Pagonis – que é conhecida como Tas – tem 17 anos e sempre gostou de natação. No entanto, entre os 11 e 14 anos, perdeu completamente sua visão, em decorrência de uma combinação de problemas: um ataque de seu sistema imunológico à sua retina juntamente com uma condição genética.

Isso teve um impacto devastador na vida da adolescente, que passou a sofrer com depressão, ansiedade e outros problemas de saúde mental, que a tiraram temporariamente das piscinas.

Crédito, US Paralympics Swimming

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Pagonis teve problemas de saúde mental que quase a tiraram da piscina

Ela conseguiu, porém, voltar ao esporte e aprendeu um novo conjunto de habilidades, sob a orientação do técnico Marc Danin. Ela se classificou para a Paralimpíada com um recorde mundial nos 400m livre.

Fora da piscina, Pagonis é ativa nas redes sociais e quer mudar a forma como as pessoas com deficiência visual são tratadas. Ela inclusive mostra como aplica maquiagem em si mesma e compartilha seu amor pela moda.

400m livre S11: quinta-feira, 26 de agosto, S11 50m livre: sexta-feira, 27 de agosto, SM11 200m medley individual: segunda-feira, 30 de agosto, S11 100m livre: Sexta-feira, 3 de setembro

Michael Roeger (Austrália, Para-atletismo)

Em Tóquio, Roeger tenta a sorte pela quarta vez.

Nascido sem parte de seu braço direito, ele cresceu jogando futebol, basquete, críquete e tênis de mesa. Começou a praticar corrida na escola, quando virou estrela da equipe de alunos.

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Australiano Roeger migrou das provas de pista para a maratona

Depois de estrear na Paralimpíada de Pequim-2008, quando terminou em oitavo nos 1500m e em 11° os 5000m, sofreu em Londres-2012 com um sangramento interno justamente na véspera da final dos 800m. Embora tenha conseguido correr, ele não foi capaz de concluir a prova – e chegou a pensar que aquele era o fim de sua carreira no esporte.

O caminho à redenção começou na Rio-2016, quando ele obteve um bronze na prova de 1.500m T46.

Aos 33 anos, ele migrou para a maratona, que lhe rendeu um título mundial em 2019 nas ruas de Londres. Ele bateu seu quarto recorde consecutivo na maratona T46 em abril, na classificatória olímpica da Maratona de Sydney – batendo seu próprio recorde por 40 segundos depois de quatro meses se recuperando de lesões.

Maratona T46: domingo, 5 de setembro

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Fonte: BBC