Jogador iraniano se livra da pena de morte, mas é condenado a 26 anos de prisão por protestos

  • Redação
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Amir Nasr-Azadani

Crédito, FIFPRO

O jogador de futebol profissional iraniano Amir Nasr-Azadani, 26, foi acusado de traição após apoiar os direitos das mulheres iranianas em manifestações.

Ele enfrentava o risco de condenação à morte por enforcamento, mas se livrou da pena máxima e foi condenado a 26 anos de prisão por supostamente ter agredido três agentes de segurança durante protestos no seu país.

Autoridades afirmaram que ele confessou o crime e que possuem gravações de câmeras de segurança e outras provas contra ele e seus cúmplices.

O governo iraniano também disse que um veredicto contra o atleta ainda não foi emitido. Segundo o código penal do Irã, sua sentença ainda pode levar à pena de morte se for provado que Nasr-Azadani usou uma arma de fogo.

Três outros homens supostamente envolvidos foram condenados à morte pelos supostos ataques, de acordo com informações da agência de notícias iraniana Mizad.

O caso do atleta ganhou os holofotes durante as comemorações da Copa do Mundo de 2022 no Catar, em dezembro, quando diferentes grupos denunciaram que o zagueiro, parte da equipe Iranjavan, havia sido detido por forças iranianas.

Ativistas e organizações como a Federação Internacional de Jogadores de Futebol (FIFPRO) apontaram que Nasr-Azadani havia sido preso por apoiar protestos contra a repressão do regime do aiatolá, principalmente contra as restrições aos direitos das mulheres, e que poderia ser condenado à morte.

Quem é Amir Nasr-Azadani?

Nasr-Azadani nasceu em fevereiro de 1996 em Isfahan, região central do Irã.

Ele começou sua carreira no futebol no time Sepahan Sport Club de Isfahan, que joga na Iran Pro League, atualmente conhecida como Liga Pro do Golfo Pérsico, a categoria mais alta do futebol profissional no Irã.

Em 2014, ele ingressou na equipe do Tehran Rah-Ahan, um dos clubes mais antigos do Irã e que atualmente joga na Liga Azadegan, a segunda mais importante do país.

Crédito, Reuters

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Autoridades iranianas de primeiro escalão, começando pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, afirmam que protestos são instigados do exterior

Um ano depois, foi contratado pelo Tractor Sports Club, da cidade de Tabriz, no noroeste do Irã, onde ficou até 2019.

Mais tarde, passou a fazer parte da equipe Gol Reyhan Alborz.

Prisão de Azadani

Se Amir Nasr-Azadani fosse condenado como um dos assassinos, o sistema judicial da República Islâmica poderia enforcá-lo por um delito chamado “moharebeh”.

Em 17 de novembro de 2022, a morte do coronel Esmaeil Cheraghi veio à tona durante protestos em todo o país.

Três dias depois, em 20 de novembro, a emissora estatal IRIB transmitiu um vídeo contendo as confissões forçadas de três pessoas que afirmaram ter participado do assassinato de Cheraghi.

Após o vídeo, as autoridades divulgaram o nome de Azadani como um dos suspeitos, junto com Saleh Mirhashmi e Saeed Yaghoubi.

Fontes locais afirmaram que Azadani havia participado dos protestos, mas que seu envolvimento no assassinato do oficial militar era uma mentira porque ele não estava na área onde o homem foi morto.

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Manifestações se espalharam por 161 cidades em todas as 31 províncias do país e são consideradas um dos mais sérios desafios contra a República Islâmica desde a revolução de 1979

“Ódio Contra Deus”

Os protestos contra o clérigo iraniano, liderados por mulheres, eclodiram após a morte sob custódia de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos detida pela chamada polícia da moralidade em 13 de setembro por supostamente usar hijab (tipo de véu islâmico) inadequadamente.

As manifestações se espalharam por 161 cidades em todas as 31 províncias do país e são consideradas um dos mais sérios desafios contra a República Islâmica desde a revolução de 1979.

Crédito, Getty Images

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Caso de Azadani teve forte repercussão no mundo todo

Nesse contexto, a seleção de futebol iraniana recentemente se recusou a cantar o hino nacional durante a partida de abertura da Copa do Mundo no Catar contra a Inglaterra.

Os líderes do Irã chamaram os protestos de “motins” instigados pelos inimigos estrangeiros do país. No entanto, a esmagadora maioria das manifestações tem sido pacífica.

Pelo menos 26 pessoas estão atualmente “em grave risco de execução em conexão com os protestos em todo o país, depois que as autoridades iranianas executaram arbitrariamente duas pessoas após julgamentos simulados grosseiramente injustos em uma tentativa de instilar medo entre o público e acabar com os protestos”, disse a ONG Anistia Internacional por meio de um comunicado.

Dessas 26 pessoas, pelo menos 11 estão no corredor da morte e 15 são acusadas de crimes capitais e aguardam ou estão sendo julgadas, acrescentou a entidade.

Fonte: BBC