Nigéria: perfil da nação mais populosa da África

Depois de sair de um golpe de Estado para outro, a Nigéria passou a ter um líder escolhido pela população. O governo segue, no entanto, enfrentando o desafio de evitar que o país mais populoso da África se dissolva de acordo com divisões étnicas e práticas religiosas.

Nos últimos anos, milhares de pessoas morreram em ataques realizados por grupos armados jihadistas no nordeste do país, especialmente o islamista Boko Haram. Suas ações incluíram sequestros de alunos de escolas da região, tanto para usá-los em seus ataques como para obtenção de dinheiro pelo resgate.

As aspirações de grupos separatistas, como o Movimento pela Emancipação do Delta do Níger e uma ressurgente onda pela independência da região de Biafra, também se intensificaram. A adoção da lei islâmica – a sharia – em vários Estados do norte da Nigéria alimentou divisões na região e provocou a fuga de milhares de cristãos.

Crédito, FLORIAN PLAUCHEUR/Getty images

Legenda da foto,

A cidade de Lagos, que deixou de ser a capital nigeriana nos anos 1990, é o maior centro econômico do país

O quadro de insegurança juntou-se aos problemas econômicos da Nigéria, dificultando ainda mais a entrada de investimento estrangeiro. A ex-colônia britânica é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, mas uma parcela bem pequena da população, incluindo aquela em áreas produtoras, foi beneficiada com os frutos dessa riqueza natural.

O futebol permitiu uma nova forma de a Nigéria se promover na comunidade internacional. Sua seleção nacional, apelidada de “Super Eagles” (em português, “super águias”), alcançou a quinta colocação no ranking da Fifa em meados dos anos 1990 e chegou às oitavas-de-final da Copa do Mundo três vezes. Jogadores como Nwankwo Kanu e Daniel Amokachi tornaram-se estrelas internacionais e atuaram com sucesso na Europa.

A música nigeriana também promoveu o nome do país mundo afora ao longo dos anos, com destaque para artistas como Fela Kuti, no final do século 20, e Wizkid, no século 21.

Getty Images

República Federal da Nigéria

Capital: Abuja

  • População186 milhões

  • Área923.768 quilômetros quadrados

  • Principais línguasInglês (oficial), yoruba, ibo, hausa

  • Principais religiõesIslã, cristianismo, crenças indígenas

  • Expectativa de vida52 anos (homem), 54 anos (mulher)

  • MoedaNaíra nigeriana

Fonte: ONU, Banco Mundial

Presidente: Bola Tinubu

Crédito, AFP

Legenda da foto,

Bola Tinubu obteve surpreendente vitória nas eleições presidenciais de 2023

Após acirrada campanha eleitoral, Bola Tinubu, do partido APC (All Progressive Congress), venceu as eleições presidenciais realizadas no começo de 2023, conquistando 37% dos votos.

Em segundo ficou o candidato do PDP, Atiku Abubakar, com 29% dos votos, superando por pouco Peter Obi do Partido Trabalhista que obteve 25%.

Analistas acreditam que a vitória de Tinubu só foi possível por conta da divisão do PDP, principal partido de oposição no final de 2022.

Com o desgaste do então presidente Muhammadu Buhari provocado principalmente por uma inflação recorde motivada por uma profunda crise econômica, cientistas políticos apostavam na queda do APC, o que acabou não se concretizando.

Bola Tinubu é considerado um político experiente, astuto e trabalhador, tido como responsável pela eleição do presidente Buhari oito anos atrás.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

Muhammadu Buhari, ex-chefe de um governo militar, ficou no poder por dois mandatos

Ex-líder de um regime militar da Nigéria nos anos 1980, após o golpe milita de 1983, Muhammadu Buhari obteve uma histórica vitória nas eleições de 2015. Foi a primeira vez que um candidato da oposição venceu uma eleição presidencial nigeriana.

A chegada ao poder pela via democrática difere significativamente da primeira experiência de Buhari no comando do país. Em 1983, ele ajudou a derrubar o presidente eleito Shehu Shagari e pouco depois assumiu o posto de presidente do Conselho Supremo Militar da Nigéria, que manteve por dois anos. Buhari buscou combater a criminalidade e a corrupção, mas também foi acusado de graves abusos de direitos humanos. Em 1985, ele foi derrubado por outro militar, o general Ibrahim Babangida.

Desde que foi eleito, Buhari distanciou-se de seu passado militar, prometendo respeitar a democracia e governar como líder civil. Entre seus maiores desafios desde que tomou posse, está o combate a militantes extremistas no norte da Nigéria, especialmente o grupo Boko Haram, que em 2015 prometeu lealdade ao grupo radical árabe conhecido como Estado Islâmico.

O mercado de mídia a Nigéria é um dos mais movimentados da África. A rádio e televisão estatais operam em nível tanto federal como regionais, e todos os 36 Estados nigerianos têm pelo menos uma rede de rádio e uma estação de TV.

Há centenas de estações de rádio e redes de TV, assim como serviços de TV a cabo e por satélite. O rádio é uma fonte de informação particularmente importante para a população, e veículos internacionais, como a BBC, são populares. Entretanto, a retransmissão de estações de rádio estrangeiras é proibida.

A TV estatal diz atingir dezenas de milhões de espectadores, enquanto as principais redes privadas lideram o mercado em algumas cidades. Há mais de cem publicações impressas nacionais e locais, alguns deles estatais. Elas incluem jornais diários respeitados, tabloides sensacionalistas e publicações que defendem interesses de grupos étnicos específicos.

Crédito, LUIS TATO/Getty Images

Legenda da foto,

O mercado de mídia da Nigéria é um dos mais vibrantes do continente africano

A entidade Repórteres Sem Fronteiras diz que jornalistas na Nigéria são muitas vezes ameaçados, alvos de violência física ou impedidos de obter acesso a informação por autoridades ou pela polícia. O grupo militante islamista Boko Haram já ameaçou a mídia nigeriana.

Em julho de 2019, havia 122,7 milhões de usuários de internet ativos, segundo a Comissão Nigeriana de Comunicações. Os telefones celulares são usados com frequência para o acesso à World Wide Web, e a maioria dos usuários é jovem, com boa educação e moradores de áreas urbanas.

Cerca de 24 milhões de nigerianos eram usuários ativos de redes sociais em janeiro de 2019, representando 12% da população (segundo as agências We Are Social e Hootsuite). Ainda segundo esse levantamento, o WhatsApp era usado por cerca de 85% dos usuários de mídias sociais, e o Facebook por 78%.

RELAÇÕES COM O BRASIL

O Brasil reconheceu a independência da Nigéria em 1960, ano em que o país desligou-se do Reino Unido. Segundo o Ministério das Relações Exteriores brasileiro, o Brasil foi o único país sul-americano convidado a participar do evento de proclamação de independência. No ano seguinte, 1961, o Brasil abriu sua embaixada no país africano, cuja representação em solo brasileiro foi inaugurada cinco anos depois.

Desde então os dois países mantiveram uma relação ativa, com contato importantes nos altos escalões do governo. Os presidentes João Figueiredo, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff fizeram visitas oficiais à Nigéria, assim como o ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, durante o governo Jair Bolsonaro.

No final dos anos 1990, a brasileira Petrobras decidiu aumentar seus investimentos no exterior, e a Nigéria foi um dos focos dessa expansão. Grande produtor de petróleo, o país também se destaca pela exploração de poços em águas profundas do Atlântico, área em que a Petrobras também tinha conhecimento e interesse.

Após duas décadas, no entanto, sob uma nova realidade afetada por um grande escândalo de corrupção e mudanças em sua estratégia, a Petrobras encerrou suas atividades no país africano. Em janeiro de 2020, a venda de seus 50% da Petrobras Oil & Gas B.V. marcou o fim das operações da empresa brasileira na África.

LINHA DO TEMPO

Importantes datas na história da Nigéria:

Cerca de 800 AC – A região do Planalto de Jos é povoada pelo povo Nok – uma civilização do período neolítico e da Idade do Ferro.

Século 11 em diante – Formação de cidades-Estado, reinos e impérios, incluindo os reinos Hausa e a dinastia Borno, no norte, e os reinos Oyo e Benin no sul.

1472 – Navegadores portugueses chegam à costa nigeriana – a presença portuguesa daria origem ao nome daquela que se tornaria a maior cidade do país, Lagos.

Séculos 16 a 18 – O comércio de escravos resulta no transporte forçado de nigerianos para as Américas para trabalharem em plantações.

Anos 1850 – O Reino Unido estabelece presença e consolida sua autoridade sobre a região, que transforma na Colônia e Protetorado da Nigéria. Em 1922, parte da ex-colônia alemã Camarões é adicionada ao protetorado britânico como parte do mandado da Liga das Nações.

1960 – Independência da Nigéria. O primeiro-ministro Sir Abubakar Tafawa Balewa lidera um governo de coalizão, mas seis anos depois é morto num golpe de Estado.

1967 – Três Estados nigerianos do sudeste separam-se do país como a República de Biafra, sob a liderança do coronel Odumegwu Emeka Ojukwu. Ao final de uma sangrenta guerra civil de três anos, em que mais de 1 milhão de civis morreram devido ao bloqueio imposto à região, Ojukwu foge do país, e a região é mantida como parte da Nigéria.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

O coronel Odumegwu Emeka Ojukwu liderou a república separatista de Biafra durante três anos de guerra civil

1975 – O general Gowon é deposto pelo brigadeiro Murtala Ramat Mohammed, que inicia o processo de transferir a capital federal de Lagos para Abuja.

1976 – O general Mohammed é assassinado numa fracassada tentativa de golpe. É substituído por seu vice, o tenente-general Olusegun Obasanjo, que colabora na adoção de uma Constituição presidencial, ao estilo dos Estados Unidos.

1983 – General Muhammadu Buhari toma o poder num golpe sem confronto armado. Segue-se um período de instabilidade, encerrado com as eleições de 1999.

1999 – Eleições parlamentares e presidenciais. Olusegun Obasanjo assume a Presidência.

2000 – Adoção da sharia, a lei islâmica, por vários Estados nigerianos do norte, medida criticada pelos cristãos. A tensão em torno da medida leva à morte de centenas de pessoas em confrontos entre cristãos e muçulmanos.

2001 – Guerra tribal no Estado de Benue, no centro-leste da Nigéria, força a fuga de milhares de pessoas. Tropas enviadas para colocar um fim ao conflito matam mais de 200 civis desarmados, aparentemente em retaliação ao sequestro e morte de 19 soldados.

2009 – Jihadistas do grupo islamista Boko Haram lançam uma campanha de violência que se espalha por países vizinhos.

2013 – O governo declara estado de emergência em três Estados do norte – Yobe, Borno e Adamawa – e envia tropas para combater o Boko Haram.

Crédito, PHILIP OJISUA/Getty Images

Legenda da foto,

O sequestro de mais de 200 meninas em 2014 gerou protestos no poaís e uma campanha internacional

2014 – Abril – O Boko Haram sequestra mais de 200 meninas de uma escola na cidade de Chibok, num incidente que desperta indignação dentro da Nigéria e na comunidade internacional. Uma grande campanha em redes sociais, envolvendo até celebridades e a então primeira-dama americana, Michelle Obama, exige a libertação das jovens estudantes.

2014 – Novembro – O Boko Haram lança uma série de ataques no nordeste da Nigéria, capturando várias cidades perto do Lago Chade e realizando operações nos vizinhos Chade e Camarões no início de 2015. Em 2015, o grupo abandona seu compromisso com a rede Al-Qaeda e jura lealdade à organização Estado Islâmico.

2015 – Fevereiro-março – Nigéria, Chade, Camarões e Níger formam uma colizão militar e expulsam o Boko Haram das cidades, para dentro da floresta de Sambisa. Muhammadu Buhari é eleito presidente – o primeiro candidato de oposição a vencer uma eleição presidencial na Nigéria.

2019 – Buhari é reeleito presidente nigeriano.

2023 – Bola Tinubu também do partido governista APC consegue surpreendente vitória nas eleições presidenciais.

Fonte: BBC

Marcações: