Quem são os ‘cidadãos do reich’, extremistas de direita acusados de tramar golpe na Alemanha

La policía alemana detiene a un miembro de un grupo acusado de conspirar para dar un golpe de Estado

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Entre los conspiradores acusados de derrocar al gobierno alemán figuran miembros del movimiento Reichsbürger

A prisão de 25 extremistas de direita que planejavam uma ação violenta para tomar o poder na Alemanha chamou atenção no mundo todo.

As autoridades alemãs passaram anos monitorando os chamados Reichsbürger (“cidadãos do reich”), grupos ou indivíduos que negam a existência da República Federal da Alemanha como Estado e seu sistema legal por muitas razões diferentes.

Em muitos casos, eles negam a legitimidade de qualquer representante eleito democraticamente.

Na quarta-feira (7/12), foram presos 25 indivíduos que “seguem um conglomerado de mitos conspiratórios constituídos por narrativas do chamado Reichsbürger e da ideologia QAnon”, segundo o Ministério Público alemão.

O episódio é mais um dos que jogam holofote sobre o crescimento da extrema direita no mundo.

“As investigações nos dão um vislumbre do abismo que é a ameaça terrorista vinda dos Reichsbürger“, disse hoje a ministra do Interior alemã, Nancy Faeser. Os “cidadãos do reich” são “impulsionados por fantasias violentas de poder e ideologias conspiratórias”, acrescentou a política social-democrata.

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A operação teve participação de 3 mil agentes

Um Estado paralelo

Os “cidadãos do reich” frequentemente se vêem fora do atual sistema legal, como Parlamento, leis ou tribunais. Eles declaram que o histórico reich alemão continua existindo até hoje, daí seu nome (bürger é cidadão em alemão).

Isso significa que eles rejeitam, por exemplo, carteiras de identidade alemãs oficiais e, em vez disso, emitem documentos fictícios, como a “carteira de motorista do Reich” ou “carteira de identidade do Reich”, ou usam placas de carro do “Reich alemão” ou até imprimem suas próprias moedas.

Também se recusam a pagar impostos, taxas e contribuições previdenciárias.

Durante anos, esses grupos de extrema direita foram vistos nacionalmente como uma piada e foram tachados de loucos. No entanto, nos últimos anos, os serviços de segurança do Estado alertaram que eles se tornaram mais radicais e perigosos, e intensificaram a vigilância.

Apesar do nome, os “cidadãos do reich” não são um movimento nacional organizado unificado, mas sim uma série de pequenos grupos e indivíduos espalhados por todo o país unidos por essa crença comum.

Alguns até sonham em criar seu próprio Estado autônomo, separado da República Federal da Alemanha. No início deste ano, por exemplo, um grupo autodenominado Königreich Deutschland (Reino da Alemanha) comprou dois terrenos no Estado da Saxônia, no leste da Alemanha, onde pretendia criar seu próprio Estado.

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Maioria dos presos tinha nacionalidade alemã, mas um deles era cidadão russo

Vigiados desde 2016

Muitos dos Reichsbürger possuem armas, legais ou ilegais. Isso se tornou preocupante quando, em 2016, um bávaro atirou e matou um policial quando a polícia revistava sua casa em busca de um esconderijo de armas.

Desde então, as autoridades alemãs revogaram mais de mil licenças de armas de pessoas suspeitas de aderir a essa ideologia. Entre 2016 e 2021, cerca de 1.050 “cidadãos do reich” tiveram suas licenças para posse de armas revogadas. No entanto, cerca de 500 deles ainda possuem armas legalmente.

Números do governo mostram que os Reichsbürger e o chamado Selbstverwalter – um “agrupamento” com crenças semelhantes que se traduz como “autogerenciado” – cometeram mais de mil crimes em 2021, o dobro do número em 2020.

Das 21 mil pessoas nos círculos dos Reichsbürger, acredita-se que 1.150 sejam extremistas de direita e 2.100 potencialmente violentas, de acordo com dados do serviço secreto alemão, o Escritório para a Proteção da Constituição (BfV).

Além disso, segundo suas informações, “aproximadamente um em cada dez se considera disposto a recorrer à violência”.

Eles também têm laços com os militares alemães, diz Miro Dittrich, um especialista que rastreia esses e outros teóricos da conspiração. Na sua opinião, a pandemia serviu para radicalizar ainda mais o grupo e para aumentar a sua adesão.

“A pandemia foi um momento difícil para muitas pessoas. Não estava claro como as coisas iriam acontecer. As narrativas de conspiração eram bastante atraentes para muitas pessoas porque traziam ordem ao mundo”, diz ele.

Os “cidadãos do reich” participaram de protestos contra os lockdowns ao lado de grupos antivacinas, de negacionistas da pandemia e de membros do QAnon (na verdade muitos dos Reichsbürger também são contra vacinas, negacionistas ou QAnon).

Eles também estavam presentes quando um grupo tentou invadir o Bundestag (o Parlamento alemão) durante uma manifestação contra as medidas aplicadas pelo governo alemão para combater a covid em 2020.

Fonte: BBC