Quem são os cinco ex-prisioneiros de Guantánamo envolvidos nas negociações de paz entre Talebã e EUA


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Os Cinco de Guantanamo foram levados à prisão em 2002 e soltos em 2014

Confinados há mais de uma década, agoram eles se sentam à mesa com quem os prendeu para discutir paz e maneiras de acabar com a “guerra sem fim”, segundo o presidente Donald Trump.

Com a quinta rodada de conversas EUA-Talebã em curso em Doha, capital do Qatar, a delegação talebã apresenta “Os Cinco de Guantánamo” – integrantes do ex-alto escalão do grupo que foram capturados após a queda do regime no Afeganistão em 2001 e passaram quase 13 anos no controverso campo de detenção ameriano em Cuba.

Eles foram enviados para o Qatar em uma troca de prisioneiros polêmica em 2014 envolvendo o sargento Bowe Bergdahl, um soldado americano capturado pelos insurgentes após “andar fora de sua base” no sudeste do Afeganistão, segundo fontes de Defesa dos EUA.

Como parte do acordo de troca, precisam passar um tempo no Qatar, longe dos olhos do público e monitorados por autoridades locais. Embora possam se encontrar com familiares, estão proibidos de viajar para o exterior.

Os cinco, que têm status quase mítico entre os integrantes do Talebã, foram soltos da prisão de Guantamo sem terem sido acusados formalmente de qualquer crime ligado ao terrorismo.

Quem são os “Cinco de Guantánamo”?


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Eles eram considerados pilares do regime até a queda em 2001

O grupo era formado por altos funcionários ou altos comandantes militares do Talebã na época da invasão americana do Afeganistão em 2001. (Superior, da esquerda para a direita na foto acima).

  • Mohammad Fazl serviu como vice-ministro da Defesa do Talebã durante a campanha militar dos EUA em 2001. Acusado de possíveis crimes de guerra, incluindo o assassinato de civis.
  • Mohammad Nabi Omari é acusado de estar envolvido em ataques contra as forças dos EUA e da coalizão, com ligações estreitas com a rede Haqqani.
  • Mullah Norullah Noori era um comandante militar do Talebã e um governador da província. Também acusado de estar envolvido nos assassinatos em massa de muçulmanos xiitas e outros.
  • Abdul Haq Wasiq era o vice-chefe de inteligência do Talebã. Disse ter sido central na formação de alianças com outros grupos islâmicos.
  • Khairullah Khairkhwa era um importante funcionário do Talebã que servia como ministro do Interior e governador de Herat, a terceira maior cidade do Afeganistão.

O então presidente americano Barack Obama concordou em libertar esses cinco homens em 2014, em negociação mediada pelo Catar, apesar de alguns deles serem considerados de alto risco e, provavelmente, uma ameaça para os EUA, seus interesses e aliados.

Eles foram levados para Doha sob o compromisso do governo do Qatar de mantê-los sob vigilância.

Depois de 12 anos de prisão, grande parte em confinamento solitário, os cinco são descritos por fontes próximas a eles como pessoas “sem condições” de falar com o mundo externo.

Em outubro de 2018, a liderança do Talebã os indicou como membros de sua comissão política, que está baseada em Doha desde 2013.

‘Autoridade’


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Equipe de negociadores dos Estados Unidos é liderada pelo enviado especial para a Reconciliação do Afeganistão, Zalmay Khalilzad

Agora, os cinco são representantes do Talebã nas conversas de paz com os Estados Unidos. Mas eles não são os membros mais graduados.

O homem que lidera a comissão política é também um ex-prisioneiro. Mullah Abdul Ghani Baradar passou mais de oito anos em prisões paquistanesas e foi solto em outubro de 2018 para ajudar a firmar um acordo de paz.

Ele é um dos fundadores do grupo Talebã e agora é o vice-chefe de assuntos políticos.

“Mullah Baradar tem a autoridade. Dessa vez, a equipe de negociadores não precisa consultar o alto escalão a cada passo”, afirmou o analista político Hassan Haqyar ao canal de TV americano Channel One TV (1TV), que transmite notícias em árabe.

Guerra mais longa


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Governo afegão sofre para conter avanço do Talebã desde redução das tropas estrangeiras em 2014

A equipe dos EUA é liderada por um enviado especial para a Reconciliação do Afeganistão, Zalmay Khalilzad – sua missão durante as negociações de paz é pôr fim à mais longa guerra da história dos EUA.

Os EUA invadiram o Afeganistão em 2001, na esteira dos ataques de 11 de setembro, expulsando o Talebã do poder e preparando o terreno para o que se transformou em um conflito de 17 anos.

O Taleban tornou-se cada vez mais poderoso desde que as tropas estrangeiras de combate deixaram o Afeganistão em 2014.

O grupo agora controla / contesta mais territórios desde que seu regime foi derrubado pela coalizão militar liderada pelos EUA em 2001.

Principais demandas do Talebã


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EUA têm por volta de 14 mil soldados no Afeganistão, como parte de uma missão da OTAN

O Talebã insiste na retirada de tropas estrangeiras do Afeganistão como condição para a paz, enquanto os EUA buscam garantias de que o grupo não permitirá que grupos militantes islâmicos operem dentro do país e se tornem uma ameaça para os EUA ou seus aliados.

O Talebã afirma há muito que só discutir paz com os EUA. Conversas diretas sem autoridades afegãs atuais – que começaram em julho do ano passado – marcam a maior virada na política de Washington, antes focada em derrotar militarmente o Talebã.

O presidente americano, Donald Trump, já sinalizou sua vontade de acabar com a guerra no Afeganistão, onde estão mais de 14 mil soldados. Por ano, o conflito custa, segundo ele, US$ 50 bilhões (R$ 187 bilhões).

Esta é a rodada de conversas de mais alto nível hierárquico entre o Talebã e autoridades americanas.

O progresso feito nas últimas quatro rodadas e a participação de importantes autoridades do Talebã torna essa quinta rodada a mais importante até agora e já desperta expectativa de um avanço significativo.

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Fonte: BBC